Dados oficiais hoje apresentados em Lisboa mostram que a taxa de incidência foi em 2018 de 15,4 casos por 100 mil habitantes, com um total de 1.703 casos notificados.
A diretora do Programa Nacional para a Tuberculose, Isabel Carvalho, assume que a redução anual de 5% dos novos casos, que se tem verificado nos últimos anos, não é suficiente para atingir as metas definidas pela Organização Mundial de Saúde em 2030.
Portugal precisaria de ter uma redução de 10% de novos casos por ano para ter em 2030 uma redução de 80% dos casos da doença em comparação com valores de 2015.
Ainda assim, Isabel Carvalho destaca que Portugal tem tido uma redução percentual superior aos restantes países europeus, apesar de ainda apresentar dos indicadores mais elevados da doença.
"Temos tido uma evolução positiva", resume a diretora do Programa da Direção-geral de Saúde.
Isabel Carvalho manifesta preocupação sobretudo com o tempo que tem demorado o diagnóstico da doença, que tem uma mediana de 80 dias entre a infeção e o diagnóstico.
"Temos todos de pensar mais em tuberculose numa altura em que existe menos", defendeu.
Os distritos de Lisboa e do Porto são os que têm mais altas taxas de notificação de tuberculose e mantêm-se acima dos 20 casos por 100 mil habitantes, portanto acima da média nacional.
Quanto à tuberculose nas crianças, tanto em 2017 como em 2018 os casos cresceram, mas as autoridades não estabelecem ainda nenhuma relação direta com o facto de a vacina BCG deixar de ser dada de modo universal.
Aliás, os 30 novos casos de tuberculose registados em crianças menores de seis anos em 2018 chegaram a ser ultrapassados em anos em que ainda era dada a vacina de forma universal.
A vacina BCG deixou de ser dada a todas as crianças e passaram a ser vacinadas com a BCG apenas as crianças que pertencem a grupos de risco para a tuberculose ou as que vivem numa determinada comunidade, com uma elevada incidência da doença.
Quanto às formas graves de tuberculose em crianças com menos de seis anos, em 2018 voltou a haver quatro novos casos, tal como em 2017, sendo os anos com mais casos desde 2008.
A diretora do Programa Nacional para a Tuberculose alerta que três desses quatro casos graves registados em 2018 foram em crianças que eram identificadas como estando elegíveis para a vacina.
Ou seja, os critérios definidos pela Direção-Geral de Saúde identificavam estas crianças como devendo ser vacinadas.
No final da apresentação destes dados, Isabel Carvalho explicou aos jornalistas que no início do ano passado “não era fácil” cumprir a norma da DGS porque em termos de informatização era complexo sinalizar para todas as instituições de saúde que determinada criança era elegível para a vacina BCG, uma questão que garante estar ultrapassada.
Por outro lado, foi necessário reforçar junto dos centros de saúde a necessidade de administrarem a vacina BCG a quem precisa com mais regularidade, mesmo tendo poucas crianças para vacinar.
Doentes com tuberculose devem ter enfermeiro como gestor de tratamento
O delegado de saúde regional de Lisboa e Vale do Tejo defende que cada doente com tuberculose deve ter o seu gestor de tratamento, um papel a ser desempenhado pelo enfermeiro de família para acompanhar a medicação dos doentes.
“O doente com tuberculose tem uma terapêutica muito demorada [pode levar nove meses ou um ano]. As pessoas têm tendência para se desleixar, o que é natural. Proponho que a terapêutica seja acompanhada pelo enfermeiro de família”, defendeu Mário Durval.
O delegado de saúde pública deixou esta sugestão durante o período de debate da cerimónia de apresentação dos dados nacionais sobre a tuberculose de 2018, mas a intervenção de Mário Durval foi interrompida pela organização enquanto tentava expor os seus argumentos.
No final da sessão, e já em declarações aos jornalistas, o delegado de saúde explicou que a proposta passa por criar uma espécie de gestor da terapêutica, que “garanta que é de facto tomada pelo doente”.
“E não se trata apenas de tomar, é acompanhar, aconselhar. É uma necessidade os doentes com terapêuticas prolongadas e desagradáveis”, disse, defendendo que o acompanhamento tanto pode ser no domicílio como no centro de saúde, sendo essa uma decisão que deve caber ao gestor da terapêutica, um enfermeiro de família.
Mário Durval considera uma das áreas em que é necessário melhorar na tuberculose é garantir que a terapêutica é feita de forma adequada.
Há ainda o problema, identificado pelas autoridades de saúde, de atrasos no diagnóstico, com uma mediana de tempo entre os primeiros sintomas e o diagnóstico de 80 dias em 2018.
O delegado de saúde de Lisboa e Vale do Tejo alertou ainda para a quantidade de tempo que os médicos de saúde pública têm de dedicar a juntas médicas, quando podiam estar mais atentos às questões das doenças infetocontagiosas e epidemiológicas.
“Os médicos de saúde pública passam a vida a fazer juntas médicas, nalguns agrupamentos de centros de saúde ocupam mesmo muito tempo”, afirmou, considerando que estes profissionais se estão a “deslocar da essência” do seu trabalho.
Para o responsável, os agrupamentos de centos de saúde “têm uma pressão muito grande das juntas médicas”, sendo assim “natural que se reflita no desempenho noutras áreas”.
“Era melhor dedicarmo-nos a coisas mais importantes para a saúde publica quando é necessário”, defendeu.
(Notícia atualizada às 21h21)
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