Os autores do estudo, investigadores do Instituto Superior Técnico, concluíram que já foram ultrapassados limites em todas as categorias ambientais, como emissões de gases com efeito de estufa, produção de resíduos, poluição da água e do ar, consumo de água doce ou pressão sobre os ecossistemas (neste caso dentro dos limites, mas apenas porque Portugal não é autossuficiente em termos alimentares).

Em relação aos anos 1990 as novas e próximas gerações têm um limite de emissões de gases com efeito de estufa disponível que é 41% inferior ao atual.

O estudo “Limites Ecológicos: O Impacto Intergeracional do Uso de Recursos Naturais”, no âmbito do projeto dedicado à Justiça Intergeracional, do Fórum Gulbenkian Futuro, foi apresentado na terça-feira numa sessão online para jornalistas e foi coordenado por Tiago Domingos e Ricardo da Silva Vieira, do Instituto Superior Técnico (IST), tendo sido desenvolvido pelo Maretec, centro de investigação do IST.

Os investigadores calcularam o impacto da utilização de recursos naturais pelas diferentes gerações em Portugal, identificando o legado (ou encargo) deixado às gerações futuras, e concluíram que a herança das gerações passadas tem um peso significativo nas alterações climáticas. As gerações mais velhas têm impactos ambientais per capita muito mais elevados do que as mais novas, especialmente no que diz respeito à poluição da água e à pressão sobre os ecossistemas.

Outra das conclusões é a de que todas as gerações, com exceção dos nascidos a partir de 2000, têm ultrapassado os diversos limites ecológicos. Os nascidos entre 1940 e 1959 foram os que mais se distanciaram dos limites, produzindo mais emissões de gases com efeito de estufa.

Ainda assim os autores notam que as gerações mais velhas, apesar de terem maiores impactos ambientais, foram também as que contribuíram para políticas que ajudaram a dissociar parcialmente os indicadores ambientais do crescimento económico.

A introdução do gás natural e das energias renováveis reduziu a poluição atmosférica e as emissões de gases, que também baixaram com as medidas de eficiência energética e com os transportes menos poluentes. E as políticas de valorização de resíduos também tiveram efeitos sobre o impacto ambiental da eliminação de resíduos.

Ricardo da Silva Vieira explicou, na apresentação do estudo, que foram analisadas sete categorias de impacto ambiental (identificando os limites ecológicos dentro de cada uma) e definidas seis gerações, que abrangem todo o século passado até ao presente.

Todas as gerações, apontou, têm ultrapassado os diferentes limites estimados no estudo (com base em dados oficiais e nas metas do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa), com exceção dos mais jovens, e todas as gerações têm um ponto alto de impacto ambiental, que acontece cada vez mais cedo em cada nova geração.

É essa constatação que leva Ricardo da Silva Vieira a admitir que há indícios de que “os impactos das gerações mais jovens estão tendencialmente a ser mais baixos”. Porque o pico de impacto de cada geração tem sido cada vez mais baixo e mesmo os impactos ambientais a nível nacional também estão a descer, incluído o das alterações climáticas.

Esse decrescimento pode é não ser suficiente, notou, tendo Tiago Domingos acrescentado que no caso das alterações climáticas se está em cada ano acima do que se pode emitir em termos de gases com efeito de estufa.

Ricardo da Silva Vieira já tinha antes falado da grande evolução na área do ambiente, havendo hoje muita mais informação e sensibilização para a matéria, havendo também hoje muitas mais opções em termos de tecnologias mais limpas. Sem contar com as políticas públicas que mudaram a partir de 2000 a ligação direta entre crescimento económico e ambiente, com o primeiro a não ter hoje necessariamente que gerar impactos ambientais.

O estudo sobre o impacto geracional no ambiente surge depois de um outro da Fundação Gulbenkian sobre a equidade no trabalho em Portugal.

“Os padrões de desenvolvimento humano e as atividades económicas resultaram em desafios de sustentabilidade de escala e urgência sem precedentes, como as alterações climáticas e a perda de biodiversidade global. Este desenvolvimento preocupante levanta a questão crítica sobre se as pressões induzidas pelo homem excedem os limites ambientais do planeta Terra”, alerta a Fundação Gulbenkian.

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