O tema está na agenda de Portugal há muitos anos, referiu Ana Paula Zacarias, e vários países lusófonos têm continuado a insistir nele, com diversas iniciativas a promover o idioma junto da Organização.

Esses esforços serão visíveis durante a semana de alto nível da Assebleia-Geral da das Nações Unidas (ONU), que arranca na segunda-feira e na qual existe “uma anuência” entre os líderes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para comunicar em português, disse à Lusa Ana Paula Zacarias, numa entrevista em Nova Iorque a propósito do evento.

“Um dos principais aspetos que tem a ver com a defesa da língua portuguesa (…) é o facto de os líderes políticos dos países da CPLP que aqui vêm fazerem um esforço para falarem todos em português”, disse.

“Provavelmente não será em todas as reuniões, mas na grande maioria das reuniões e, sobretudo, no Debate Geral, há uma anuência de que vamos falar em português. Claro que para falar em português temos que ter tradutores próprios, porque o sistema das Nações Unidas não tem tradutores de português, mas isso já está assegurado”, acrescentou a embaixadora, que explicou que será feita a tradução para inglês e, posteriormente, para outras línguas.

Apesar de não especificar valores, Ana Paula Zacarias salientou o “esforço financeiro imenso” para tornar “exequível” o português como uma das línguas oficiais da ONU.

Além disso, há “também a necessidade de verificar se os Estados-Membros estariam dispostos a que tal acontecesse”, observou.

“Estamos a trabalhar nesse sentido. (…) É um tema que mantemos na nossa agenda há muitos anos. Continuaremos a cuidar dele e continuaremos a insistir no facto de que seja dado ao português – que é uma língua falada por tantos milhões de pessoas, uma língua tão importante também para os países do Sul global – o valor que efetivamente tem como língua de trabalho, como deveria ser aqui nas Nações Unidas”, afirmou Ana Paula Zacarias.

Para a representante permanente de Portugal junto à ONU, o português “merece a devida atenção” por ser a “língua de comunicação de muitos países”, uma língua falada “em todos os continentes” e que está a ser aprendida em diversos Estados.

O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu no mês passado, na cimeira de São Tomé, que a CPLP proponha o português como língua oficial da ONU.

“Temos de aproveitar que temos um secretário-geral das Nações Unidas que fala português [António Guterres] e acho que nós deveríamos entrar com informações e um pedido nas Nações Unidas para que a língua portuguesa seja transformada em língua oficial das Nações Unidas”, propôs Lula da Silva na ocasião, recebendo aplausos dos presentes.

No final de março, o Tribunal Centro-Americano de Justiça já havia proposto ao Conselho de Segurança da ONU incorporar o português como idioma oficial da organização, a par do inglês, espanhol, francês, chinês, russo e árabe.

Esse tribunal regional entende que, com base na resolução de 2017 da Assembleia-Geral sobre a cooperação da CPLP com as Nações Unidas e o facto de ser língua oficial da Conferência Geral da UNESCO, existe uma base legal para fazer uma solicitação ao Conselho de Segurança para incorporação do português como língua oficial da ONU e, posteriormente, aprova-la na Assembleia-Geral.

A língua portuguesa não só é uma das línguas mais difundidas no mundo, com mais de 260 milhões de falantes espalhados por todos os continentes, como é também a língua mais falada no hemisfério sul, segundo dados da UNESCO.

Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os nove Estados-membros da CPLP.