No sábado o tempo não o permitiu, mas desta vez estava tudo perfeito. O clima deu tréguas e a portuguesa Maria Conceição mergulhou nas águas frias do Canal da Mancha, no sul de Inglaterra. O objetivo é percorrer os 32 quilómetros até ao norte de França, para tentar angariar fundos para a sua fundação no Bangladesh.

O desafio não se afigura fácil. Para além dos obstáculos naturais, surge outro que elevou a fasquia a Maria Conceição. Até há bem pouco tempo, a portuguesa não sabia nadar.

O último ano foi de treinos intensos e de superação. Aprendeu a nadar e testou a resistência do seu corpo à água fria.

“Depois de viver 13 anos no Dubai, já não estava habituada”, confessou à Lusa a antiga assistente de bordo de uma transportadora dos Emirados Árabes Unidos.

Em abril deste ano, instalou-se na ilha britânica de Jersey, e testou a resistência à água do mar, que no dia em que a portuguesa chegou tinha uma temperatura de 10,4º centígrados. “Só sobrevivi cinco minutos!”, exclamou.

Para poder fazer esta travessia, a portuguesa teve de passar nos testes da Associação de Natação do Canal, que envolviam aguentar seis horas com menos de 15 graus centigrados. A aprovação no exame no início de julho, não significou, porém, o fim ou o abrandar dos treinos que continuam a envolver, por semana, percursos de natação em águas abertas, quatro aulas de bicicleta de ginásio [‘spinning’] e mais duas sessões de treino pessoal.

A travessia total do Canal pode durar entre cerca de sete e 27 horas, mas a filantropa portuguesa espera conseguir completar o percurso em entre 18 e 20 horas.

A portuguesa tem como meta angariar 140 mil libras (cerca de 166 mil euros), o que permitirá pagar os estudos de 172 crianças apoiadas pela Fundação Maria Cristina, fundada pela portuguesa há 11 anos e que já ajudou mais de 600 crianças e adultos do Bangladesh.

Maria da Conceição é a primeira mulher portuguesa a subir o Evereste e detentora de três recordes mundiais de corrida. Tem também seis recordes registados no livro do Guinness.

Fundação Maria Cristina foi criada em 2005, inspirada na mulher que a acolheu em casa perante as dificuldades da mãe biológica, para auxiliar crianças do Bangladesh, evitando que sejam vítimas de trabalho ou casamento infantil.

Além de ajudar na educação básica para as crianças, a fundação financia estudos secundários de forma a fortalecer as bases de futuras carreiras que possam garantir o sustento das famílias e resgatá-las da pobreza.