"Temos muitas líderes mulheres distintas e eminentes em governos nacionais ou em outras organizações, ou mesmo em comunidades empresariais, comunidades políticas e culturais, e em todos os aspetos da nossa vida", disse Ban Ki-moon, ontem, na Califórnia, nos EUA. "Não há razão para que isso não aconteça nas Nações Unidas", acrescentou, citado pelo The Guardian. "Esta é a minha humilde sugestão, mas está nas mãos dos estados-membros", concluiu.

Ao Diário de Notícias, Augusto Santos Silva limitou-se a dizer que "como o próprio [Ban Ki-moon] disse, não compete ao secretário-geral em funções escolher o próximo". O ministro dos Negócios Estrangeiros fazia, assim, referência à resposta dada pelo responsável ao Expresso, em maio, quando questionado sobre a possibilidade de Guterres o substituir na liderança das Nações Unidas.

Ban Ki-moon, que visitou Portugal durante dois dias a convite do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, disse em entrevista ao semanário o seguinte: "como secretário-geral tenho de ser neutral e imparcial neste processo, mas estou confiante no novo processo de escolha do meu sucessor, que é muito transparente, pelo que espero francamente que funcione". Ontem, adotou uma postura que vai contra as suas próprias declarações.

Mas Santos Silva não é o único a criticar estas declarações. O antigo secretário de estado dos Assuntos Europeus, do governo de Guterres, Francisco Seixas da Costa, considera a mudança de opinião de Ban Ki-moon “infeliz” e que nunca deveria de ter sido proferida numa “fase avançada da votação”, aconselhando Guterres a “não dar valor” e a deixar que a situação se resolva por si própria.

Para Mónica Ferro, ex-deputada do PSD, é legítimo a Ban Ki-moon "promover a paridade entre géneros", mas salienta que nos “últimos 10 anos” não o fez. "Ban Ki-moon tem toda a legitimidade e dever de promover a paridade entre géneros nas nomeações da organização. Mas teve dez anos para o fazer e não o fez", sustenta.

Ferro defende ainda que existe um “grupo de Estados, organizações não-governamentais e entidades da sociedade civil que querem uma mulher à frente da ONU” e que seria natural que o atual líder das Nações Unidos estivesse a ser influenciado.

Guterres, recorde-se, é um dos nomes mais consensuais para ocupar a vaga no próximo ano, tendo sido o candidato que mais apoio reuniu durante as primeiras duas votações, que ocorreram a 21 de julho e 5 de agosto, em Nova Iorque. A próxima acontece a 29 de agosto, sendo que há 11 candidatos na corrida pelo cargo (seis homens e cinco mulheres). 

No cargo há quase uma década, Ban Ki-Moon sucedeu ao ganês Kofi Anan em 2007.