Carlos Soares de Sousa, coordenador de campanha do movimento 'Em Marcha!' no distrito de Val-d'Oise, nos arredores de Paris, sabe que "vai ser uma luta" até ao último dia de campanha porque a possibilidade de vitória de Marine Le Pen a 07 de maio "ainda é um risco".
"Olhe que ainda é um risco, sinceramente. Todas as sondagens dizem que não, mas ainda há esse risco porque o risco maior que nós estamos a correr talvez seja a abstenção e os votos brancos", afirmou o vereador em Cormeille-en-Parisis, sublinhando que o eleitorado tradicional da extrema-direita está seguro, enquanto o do movimento 'Em Marcha!' ainda é recente.
Além de intensificar a campanha para "ir buscar os que ainda não sabem em quem votar", o franco-português explicou que há que "convencer aqueles que votaram Mélenchon" na primeira volta, acrescentando que se fossem "buscar 70%" dos eleitores que votaram em Jean-Luc Mélenchon "seria uma maravilha" porque "há muitos que não vão votar, há muitos que vão votar em branco" e há o risco de que "alguns votem na Le Pen".
Com muitos cartazes enrolados debaixo do braço e um "pin" no casaco com a inscrição "EM!" ('Em Marcha!'), Carlos Soares de Sousa tirou férias para se dedicar totalmente ao final da campanha, participando, por exemplo, na colagem de cartazes onde se junta aos apoiantes de Emmanuel Macron, armados de baldes de cola e largos pincéis.
Em frente à estação dos caminhos-de-ferro de Taverny, nos arredores de Paris, um enorme painel com cartazes de Jean-Luc Mélenchon é o primeiro visado por Joel Perie, o responsável do "Em Marcha!" na cidade, que, em tom divertido, diz querer "tudo tapado" e "muita cola nos cantos que é por aí que vêm descolar".
Atenta aos conselhos está Maria Chaves Doyen, uma antiga socialista que foi vereadora em Taverny e que se afastou do PS em 2014, sendo a primeira vez que participa na colagem de cartazes "porque as mulheres no PS não costumavam colar" visto que "por vezes encontra-se pessoas da Frente Nacional e é extremamente violento".
"Inscrevi-me no movimento 'Em Marcha!' em dezembro porque o Emmanuel Macron é um dos únicos políticos hoje que tem vontade de fazer política de uma outra maneira. Quer dizer, fazer política verdadeiramente com o povo", defendeu a psicoterapeuta de 53 anos que nasceu em Angola, viveu na República Democrática do Congo, na Bélgica e está há cerca de 30 anos em França.
Paula Pinto Poulet também era socialista, participou na campanha das primárias do PS em apoio a Manuel Valls, mas a escolha de Benoît Hamon como candidato presidencial desmotivou-a, assim como o resultado da primeira volta das presidenciais, tendo decidido participar na campanha de Emmanuel Macron.
Ainda que esteja "no terreno há pouco tempo", a professora do ensino especial, de 49 anos, tem a mala do carro cheia de cartazes, cola e tinta, e diz que "de certeza que amanhã os cartazes já vão estar cobertos pelos da Marine Le Pen".
"Estamos a fazer tudo para que ele possa vencer. Vai ser mesmo um trabalho de presença por todo o lado, mas também estar ao pé das pessoas a explicar o que é possível, o que não é possível, o que quer dizer votar Marine Le Pen porque as pessoas que vão votar na Marine Le Pen estão numa de dizer não", considerou a franco-portuguesa de 49 anos.
No final, a equipa colou várias dezenas de cartazes em 38 painéis da cidade e deixou intactas certas publicidades locais como a festa paroquial portuguesa de Montmorency, de acordo com o "hashtag" "#Bienveillance" ("#boa vontade") defendida pelos militantes para não tapar publicidades locais, como relembrou Carlos Soares de Sousa.
"Eles vão noite e dia, madrugada, assim que um arranca um cartaz vão colar outro! Eu encontrei uma espécie de euforia nesta coisa", concluiu o coordenador da campanha territorial, deixando-se entusiasmar pela possibilidade de ter "um presidente da república com menos de 40 anos, com ideias novas" e que tire a França "deste pessimismo permanente que temos agora na Europa".
O independente Emmanuel Macron venceu a primeira volta das presidenciais francesas de domingo com 24,01% dos votos, e vai defrontar, na segunda volta, a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, que conseguiu 21,30% dos votos.
A segunda volta das presidenciais decorre a 07 de maio.
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