Esta é uma das conclusões do estudo "Predicting prejudice towards immigrants: personality and social variables" ("Prevendo os preconceitos contra imigrantes: personalidade e variáveis sociais"), desenvolvido pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) e a que a Lusa teve hoje acesso.
O principal objetivo era "abordar o preconceito sobre imigrantes com uma dupla perspetiva", analisando, por um lado, "à luz de características mais pessoais" e, por outro, tendo em consideração os aspetos sociais e demográficos, disse à Lusa um dos investigadores responsáveis, Rúben Silva.
Havendo em Portugal "um grande fluxo de imigrantes", os responsáveis pelo estudo analisaram as atitudes negativas em relação aos imigrantes, utilizando variáveis de personalidade (abertura à experiência e amabilidade) e variáveis sociais (ideologias políticas, segurança que sentem na vizinhança e o nível de instrução).
"Quisemos transportar para o contexto português os conceitos desta temática e tentar perceber quais os principais aspetos que estão associados ao preconceito para com imigrantes, sobretudo tendo em conta a situação atual da crise dos refugiados, para o qual há uma potencial aplicação", explicou.
No decorrer do estudo, verificaram que os aspetos sociais "estão mais associados ao preconceito para com os imigrantes do que os aspetos de personalidade", ainda que ambos sejam "importantes" para caracterizar esse fenómeno.
De acordo com o investigador, os indivíduos com "elevada amabilidade", considerado um traço da personalidade que, geralmente, identifica pessoas "simpáticas, calorosas e cooperativas", tendem a demonstrar menos preconceito.
Segundo indica, estes dados (obtidos por questionário) demonstram, de uma forma aprofundada, que o preconceito "não é algo somente inerente a certas pessoas", havendo características pessoais associadas, mas também sociais.
Para Rúben Silva, compreender estes aspetos pode "orientar uma mudança de atitudes", esclarecendo, por exemplo, "que os imigrantes e os refugiados não são uma ameaça à nossa segurança", que ajudá-los "não implica a perda de empregos ou recursos para os portugueses" e que "a responsabilidade social para com a promoção dos direitos humanos deve estar acima de qualquer posicionamento político".
O passo seguinte passa por caracterizar o preconceito e perceber quais as causas que o podem explicar, especialmente na atual crise dos refugiados.
"Em estudos que temos vindo a desenvolver mais recentemente, descobrimos que as posições assumidas pelo governo podem fazer variar o modo como as pessoas sentem os refugiados como uma ameaça", acrescentou.
Segundo indica, à medida que forem aprofundando a compreensão desta problemática, o intuito é intervir junto de Organizações Não-Governamentais (ONG) para sensibilizar e promover atitudes mais positivas em relação a imigrantes e refugiados, ligando a investigação à realidade social.
Neste estudo participaram ainda os investigadores da FPCEUP Sofia Brito, Ana Figueiredo, Vanessa Melo e Filip Valúch.
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