O social-democrata avisou que a futura relação da UE com o Reino Unido representa um “desafio grande” para a presidência portuguesa, a qual "vai ter de lidar, haja acordo ou não haja acordo [de comércio], com uma realidade nova”.
Orador num ‘webinar’ organizado pelo grupo Lusos Scotland, que representa portugueses a residir na Escócia, Rangel mostrou-se compreensivo com a estratégia de negociação de Londres e alertou para o risco de Lisboa se alinhar ao presidente de França, Emmanuel Macron, e a outros países como Espanha, e invocou a histórica aliança entre Portugal e Reino Unido.
“Espero que Portugal, com a sua relação privilegiada com o Reino Unido, tenha capacidade de não alinhar muito pela lógica do ‘Clube Med', que é o que tem feito infelizmente, e pela lógica ‘Macroniana’ de hostilização, e vá pela linha [Michel] Barnier, que também é francesa mas é uma lógica claramente de tratar de igual para igual o parceiro britânico”, disse.
Na opinião de Rangel, se não for alcançado agora, um acordo pós-‘Brexit’ acabará por ser concluído dentro de seis a nove meses.
Portugal vai presidir pela quarta vez, durante seis meses, ao Conselho da União Europeia, sucedendo à Alemanha.
Pedro Silva Pereira, eurodeputado do PS e vice-presidente do Parlamento Europeu, rejeitou o risco de hostilização do Reino Unido por parte de Portugal, tendo em conta algumas medidas negociadas a nível bilateral para serem aplicadas a partir de 2021.
Além de isenções de visto, o Governo anunciou corredores para cidadãos britânicos nos aeroportos, o reconhecimento de cartas de condução e qualificações profissionais e negociou o direito de os nacionais dos dois países participarem em eleições locais como votantes, candidatos ou eleitos.
“O Governo português teve a lucidez de utilizar a sua margem de autonomia com medidas que são favoráveis aos cidadãos britânicos que vivem em Portugal e, por essa via, conquistar um espaço e reciprocidade em favor dos cidadãos portugueses que vivem no Reino Unido”, vincou.
As negociações entre a UE e o Reino Unido recomeçaram hoje em Bruxelas, com um prazo apertado até domingo para se tentar alcançar um acordo de comércio pós-‘Brexit’.
As duas partes admitiram nos últimos dias divergências que dificultam um entendimento antes de 31 de dezembro, o que implicará a aplicação de barreiras ao comércio como quotas e taxas aduaneiras nos produtos importados pelos respetivos mercados a partir de 2021.
Desde a saída oficial da UE em 31 de janeiro, o Reino Unido continuou a aplicar as regras europeias e somente após o final do período de transição é que sairá do mercado único e da união aduaneira dos 27.
O acesso europeu às águas britânicas, as garantias exigidas pela UE em termos de concorrência em troca do acesso britânico sem tarifas nem quotas ao mercado único e mecanismo de resolução de conflitos são os principais pontos de discórdia.
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