O debate, através de plataformas digitais, foi promovido por membros do Instituto de Estudos Políticos e Associação de Estudantes de Direito da Universidade Católica, que quiseram saber se o palco de comentadora política de Ana Gomes nos últimos anos - tal como antes tinha feito Marcelo Rebelo de Sousa, atual Presidente e recandidato - tinha sido “uma estratégia vitoriosa” para chegar e Belém.
“Não serviu nenhuma estratégia, só de intervenção cívica, não tinha a mais pequena apetência para me candidatar à Presidência da República e não me teria candidatado não fosse dar-se o caso de o meu partido ter desistido, ter optado pela não comparência. Achei grave, critiquei e por isso entendi chegar-me à frente”, justificou.
Desafiada a dizer se estaria disposta, se for eleita, a criar “inimizades” no PS - que deu liberdade de voto - em nome da luta pela corrupção, a candidata respondeu com outra pergunta.
“Porque é que acha que houve muita gente da direção do meu partido que não me quis apoiar? É capaz de ter a ver com eu nunca me ter abstido de criticar mesmo o meu partido quando vi que não se fazia o que era preciso fazer para combater a corrupção”, afirmou Ana Gomes, salientando que não entende um partido como “um clube de futebol ou uma tribo a quem tenha de se prestar juramento”.
Na conversa, os estudantes foram pedindo à candidata comentários sobre os seus adversários, com Ana Gomes a repetir as críticas que tem feito ao longo da campanha a André Ventura e a Tiago Mayan, mas hoje também apontou diferenças para os concorrentes à esquerda.
Questionada se o líder do Chega, André Ventura, e o candidato do PCP, João Ferreira, eram “faces da mesma moeda”, Ana Gomes respondeu prontamente que não.
“Não, de maneira nenhuma cometo essa injúria (…) De maneira nenhuma penso que se possa pôr ao mesmo nível aqueles que têm uma agenda de destruição da democracia da República e o PCP, que tem sido um partido respeitador e defensor da construção democrática”, afirmou, dizendo até ter uma “grande convergência” com João Ferreira na defesa da Constituição.
No entanto, Ana Gomes apontou duas grandes diferenças com o seu oponente: por um lado, a “convicção europeísta” da antiga eurodeputada do PS e, por outro, ao nível dos direitos humanos.
“Ainda recentemente, João Ferreira votou no Parlamento Europeu contra resoluções que afirmavam os direitos humanos do povo bielorrusso. E quem diz do povo bielorrusso, diz da Ucrânia e da Venezuela”, afirmou.
Já sobre a candidata apoiada pelo BE, a diplomata reconheceu que é “amiga de Marisa Matias”, com a qual tem muitas convergências, mas disse divergir ao defender a importância de “uma Europa da defesa e segurança”, a criticou a estratégia com que a sua adversária se apresentou às eleições de 24 de janeiro.
“Tenho uma profunda discordância da estratégia que seguiu de dar por adquirido que o professor Marcelo Rebelo de Sousa estava reeleito, porque me parece altamente desvalorizadora da campanha eleitoral e da sua própria posição”, disse.
E acrescentou: “Então para que está a concorrer se dá por adquirido que pode ser reeleito? Penso que essa é uma das características que explica que é uma candidatura de marcação do espaço partidário, ao contrário da minha, que é uma candidatura séria, de quem quer seriamente e como independente ser alternativa ao atual Presidente da República”.
Aproveitando estar num debate da Universidade Católica, a candidata pediu no final aos estudantes para se lembrarem do Evangelho de São Mateus.
“Os últimos são os primeiros e eu sou a última no boletim”, sublinhou, entre risos.
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