Em entrevista à agência Lusa, João Ferreira fez um balanço crítico do primeiro mandato de Marcelo, e detetou sinais, desde 2016, que o levam a concluir que, “na eventualidade de um segundo mandato”, o atual Presidente da República pode vir a “acentuar tentativas, que estão a ser feitas, de trazer a um outro papel os partidos à direita”.
Há, afirmou, “uma preocupação com essa reabilitação dos protagonistas da política de direita para criar um seguro de vida à continuidade dessa política”, seja através do “conhecido bloco central” ou “através de uma colagem ainda mais assumida a esses protagonistas da política de direita”.
Uma tendência que, segundo afirma, é visível até “na informalidade nos jantares que entendeu fazer” com várias personalidades, que não identificou.
“É um risco que é bem real e que encontra suporte em elementos da ação dele [Marcelo] neste primeiro mandato”, disse, no papel de candidato e de “analista político”, questionado sobre a eventualidade de Marcelo poder usar o segundo mandato para ajudar a “entregar” o poder aos partidos de direita.
Já sobre os adversários à esquerda, Ana Gomes, ex-dirigente e militante do PS, e Marisa Matias, a eurodeputada do Bloco de Esquerda, João Ferreira afirmou querer “sublinhar” as suas diferenças, mas “pela positiva”.
“Se digo que considero esta candidatura indispensável e insubstituível, estou a afirmar que ela tem diferenças face a todas as outras. Eu procurarei que essas diferenças sejam evidenciadas pela positiva, mais do que entrar em despiques estéreis com outras candidaturas, quaisquer que elas sejam”, afirmou ainda o candidato que olha o apoio do PCP como “um selo de garantia” ou “marca de qualidade da candidatura”.
Caso diferente é o do candidato presidencial André Ventura e João Ferreira enquadra o tipo de ameaça que o deputado e líder do Chega, um partido de extrema-direita, pode representar.
O eurodeputado e vereador da câmara de Lisboa situa essa ameaça “no campo das causas que explicam o ascenso dessas forças e essas causas são os problemas reais que as pessoas enfrentam, a falta de emprego, a falta de condições de vida, a falta de perspetivas de futuro para jovens e menos jovens”.
“É para isto que nós temos que olhar e encontrar na resposta a estes problemas o melhor antídoto para aqueles que existem apenas para uma coisa, aproveitar, instrumentalizar e manipular esse descontentamento e não para resolver as causas da insatisfação”, mas sim manter “os benefícios de uma minoria privilegiada”, argumentou.
A resposta, afirmou, passa por encontrar, “fortalecendo as raízes do regime democrático na sociedade portuguesa e não pondo-as em causa”, a resposta “para estes problemas, para a falta de emprego, para o emprego precário, para a instabilidade nas condições de vida das pessoas, para a ausência de perspetivas de futuro o que é uma coisa por si só assustadora”.
Olhando para o PS, e à sua experiência governativa dos últimos cinco anos, mesmo com o apoio dos partidos de esquerda, Ferreira considera que o PS “não se libertou de aspetos” que considera “estruturantes da política de direita”.
“Se calhar isso tem algum reflexo também na discussão que está a ser tida a respeito das eleições para Presidente da República e a opção que eventualmente vier a ser tomada”, disse, numa referência ao apoio anunciado de vários dirigentes do PS a uma recandidatura de Marcelo.
Se estivesse no Palácio de Belém a partir de 09 de março, e perante um impasse político, com o executivo a governar em duodécimos, devido ao “chumbo” do Orçamento do Estado de 2021, João Ferreira pensaria mais nas necessidades do país do em que “arranjos partidários”, porque “essa não é uma real estabilidade, é sempre frágil e temporária mesmo quando aparente”.
O que perguntaria era se o Orçamento responde aos problemas do país, “agravados pela pandemia”, com o reforço de meios para o Serviço Nacional de Saúde, na proteção social ou ainda no “impulso que é absolutamente imprescindível à capacidade produtiva do país”.
Questionando se vê essas respostas na proposta do Governo de António Costa, o candidato do PCP, que se absteve na generalidade, disse “não”, embora veja a possibilidade de vir a ser mudado face às muitas alterações propostas pelos partidos no parlamento.
Jerónimo tem "capacidade" e "energia" para continuar líder
Em entrevista à Lusa, o eurodeputado foi questionado como militante sobre se Jerónimo de Sousa, 73 anos, teria condições para continuar à frente do partido que lidera há 16 anos, desde 2004, uma pergunta com “falta de imaginação” e que já admite ser “um clássico” nas suas conversas com os jornalistas.
Na resposta, disse “não querer fazer grandes considerações sobre aspetos mais concretos relacionados com o presente e o futuro imediato do PCP” nem sobre uma decisão que “há-de ser tomada por quem tiver que a tomar”, embora tenha deixado um elogio ao líder.
“Acho que, reconhecidamente, o Jerónimo de Sousa tem tido um papel muito importante, que valorizo” e que vai “até para lá do universo dos militantes do PCP”, afirmou.
“E encontro ali capacidade de continuar a exercê-las”, afirmou, para, depois de uma brevíssima pausar, acrescentar”: “E energia.”
Já quanto à pergunta se excluía uma candidatura sua à liderança no futuro “nem que Cristo desça à Terra”, João Ferreira deu uma risada sobre a falta de originalidade da pergunta e repetiu a resposta que tem dado nas últimas semanas.
Ou seja, que não será ele, com uma afirmação, a contribuir para desvalorizar a sua candidatura às eleições presidenciais.
Em 12 de outubro, o secretário-geral do PCP afirmou que o seu partido “ainda precisa” da sua contribuição, e nada disse de definitivo sobre se continuará no cargo após o congresso nacional dos comunistas, no final do mês.
“O meu partido precisa ainda da minha contribuição”, disse Jerónimo de Sousa numa entrevista ao programa Polígrafo, na SIC-Notícias.
No final de uma conversa de quase 30 minutos, Jerónimo, 73 anos, foi questionado sobre o seu futuro à frente do partido, que lidera desde 2004, e deu uma resposta longa, sem nunca abrir o jogo sobre o que fará.
“É o congresso que elege o comité central e o comité central que elege o secretário-geral. Tenho muita confiança no acerto da decisão do comité central, sempre com este sentimento que tenho: o meu partido precisa ainda da minha contribuição. E, sejam quais forem as circunstâncias, há uma coisa que posso garantir: continuarei a ser comunista, continuarei a dar ao meu partido o melhor que puder dar, na medida em que ele deu-me muito a mim também, na minha formação e na forma de estar na vida”, disse.
E disse confiar ma decisão dos seus camaradas tomarem, antes de ser questionado sobre se esperava vir a ter a confiança do partido: “Não espero nem desespero. Tenho este sentimento de confiança de que haverá um acerto na decisão em relação a essa responsabilidade.”
O líder dos comunistas, que em 20 de setembro admitiu implicitamente continuar à frente do partido, aconselhando a que se apostasse numa “tripla” quanto ao seu futuro - ”sair, ficar ou ficar mais um bocadinho”, repetiu, por três vezes, que a questão do secretário-geral “não vai ser um problema” no congresso.
Jerónimo de Sousa admitiu pela primeira vez não se recandidatar à liderança, porque “é da lei da vida”, numa entrevista à Lusa em março de 2019, embora frisando não ir “calçar as pantufas” e que se manterá como militante comunista
Nos meses seguintes não repetiu a afirmação e manteve-se a dúvida.
No início de setembro, durante uma visita à festa do Avante, Jerónimo manteve o mistério sobre a sua continuidade ou não à frente dos destinos do partido, recusando a ideia de “tabu”.
“Tabu, não”, respondeu, a rir, aos jornalistas referindo que “a vida tem a sua dinâmica”.
Comunista João Ferreira quer “inaugurar” em Belém novo estilo de proximidade
oão Ferreira, candidato presidencial apoiado pelo PCP, quer “inaugurar um novo estilo" de proximidade em Belém, que vá “além da imagem televisiva”, numa crítica ao atual Presidente, que acusa de “dificultar a vida aos trabalhadores”.
Vereador em Lisboa e eurodeputado em Bruxelas, o biólogo João Ferreira aderiu ao PCP ainda estudante e, hoje, aos 41 anos, candidata-se a Belém com o apoio do partido que considera um “selo de garantia” e uma “marca de qualidade”.
Em entrevista à Lusa, João Ferreira diz estar ciente do caráter unipessoal do cargo ao qual se candidata, atualmente ocupado por Marcelo Rebelo de Sousa, que acusa de ter uma “imagem de proximidade que se esboroa” quando “os holofotes das televisões se desligam e começam as “ações concretas”.
“Nós temos de ter um Presidente da República que tem uma empatia e uma proximidade com quem sente estas dificuldades, mas depois não se pode esquecer dessas dificuldades quando se desligam os holofotes das câmaras de televisão, tem que se lembrar delas no momento em que exerce os seus poderes”, afirma.
João Ferreira defende que a “proximidade” que o cargo presidencial deve implicar “não pode ser uma proximidade e uma identificação vazias de consequências”.
“Sei bem que o Presidente da República não é Governo mas isso não me faz esquecer todos os poderes que tem na mão, promulgar e vetar as leis e este PR nos momento cruciais usou esses poderes para dificultar a vida à gente comum, para dificultar a vida aos trabalhadores”, declara.
Para sustentar a acusação, João Ferreira aponta as dificuldades de mais de um milhão de portugueses “que sobrevive com menos de 600 euros líquidos por mês”: “este Presidente da República foi o que fez considerações sobre o aumento do Salário Mínimo Nacional que eram o respaldo de todos aqueles que tentaram conter ou impedir a sua evolução”.
“A forma como o Presidente da República decidiu promulgar normas como o banco de horas, no alargamento dos períodos experimentais, sem qualquer reparo crítico, sem qualquer pedido de fiscalização, contribuiu objetivamente – não estou a dizer que era sua intenção – mas contribuiu objetivamente para dificultar a vida à esmagadora maioria da população”, acrescenta.
João Ferreira diz que não se identifica com os presidentes da República anteriores, declarando que, havendo essa possibilidade, preferia "inaugurar um novo estilo" de proximidade e introduzir uma “lufada de ar fresco” no Palácio de Belém.
Para além do “estilo”, disse, a marca diferenciadora da sua candidatura é a “identificação com a Constituição” da República que, acusou, “não tem sido levada a sério” pelos anteriores chefes de Estado.
“Nós encontramos na Constituição muitos dos preceitos e das possibilidades de resposta que, a serem levados a sério permitiriam levar o país para melhor”, defende, apontando, à cabeça, a defesa do Serviço Nacional de Saúde.
Que, frisa, não é “um sistema nacional de saúde” como o atual Presidente “tem procurado afirmar”, revelando “um entendimento do direito à saúde pondo em pé de igualdade o Serviço Nacional de Saúde e o negócio que os grupos económicos fazem com a doença”.
Percorridos já “milhares de quilómetros” pelo país, em contactos com trabalhadores, reuniões com sindicatos e associações, debates e comícios, a campanha de João Ferreira pretende ir ao encontro “da gente comum, da gente que trabalha”, diz o candidato.
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