Numa apresentação formal da sua candidatura, em Lisboa, a eurodeputada e dirigente do BE evocou por várias vezes Maria de Lurdes Pintasilgo, a única mulher primeira-ministra em Portugal, e recordou a sua candidatura a Belém de há cinco anos para lembrar outro cenário de crise.

“Esse fatalismo foi vencido e a política mudou em Portugal, mudou na proteção das reformas e pensões, na recuperação dos rendimentos, no desenvolvimento de serviços públicos, impedindo novas privatizações, o país ganhou com o reforço da esquerda e com a mobilização popular. Eu acredito profundamente que a minha candidatura fez parte dessa mudança que quebrou o ciclo da austeridade e que permitiu ao país respirar e recuperar”, defendeu.

Para as presidenciais de janeiro, Marisa Matias considerou que a sua candidatura representará as pessoas que “à esquerda não baixam os braços e constroem soluções para o país”.

“Uma candidatura de quem, como Maria de Lurdes Pintasilgo, acredita na força do diálogo. De quem acredita que podemos ter uma política diferente. Mesmo diferente”, salientou.

“Como Pintasilgo, sei que as eleições presidenciais não estão acima da política. Quem ocupar a Presidência não será um adorno nas escolhas decisivas que temos pela frente”, reforçou.

Na sua declaração, com cerca de 20 minutos, a candidata referiu-se ao atual contexto de crise sanitária, económica e social.

“Os seus efeitos recaem de forma desigual sobre a população, os mais pobres e os esquecidos são sempre as primeiras vítimas, o desemprego é uma praga, a vulnerabilidade cresceu. Em poucas palavras, Portugal está aflito”, avisou, salientando que “a pandemia acelerou a crise económica e social, mas não a inventou”.

“Não foi a covid que empurrou dezenas de milhares de jovens para cima de bicicletas e motas para serviços de entrega porta a porta, sem contrato e sem direitos. Não foi a covid que criou os lares clandestinos, onde são maltratados tantos idosos. Não foi a covid que inventou a soberba dos patrões que fecham a porta, despedem as trabalhadoras e abrem nova empresa ao lado”, apontou.

A candidata considerou que a atual crise demonstrou que “a força do país não está na riqueza, não está nas fortunas”, mas “no que é comum, a começar pelo Serviço Nacional de Saúde”.

“É essa a força do meu programa: a democracia é o é que de todos, para todos e por todos”, referiu.

Marisa Matias criticou os “políticos de segunda mão” (em que incluiu o presidente norte-americano Donald Trump) que atacam “os trabalhadores, os pobres, as mulheres, os imigrantes”.

“A resposta aos nossos problemas estruturais impõe medidas corajosas de controlo público, de reforço de incompatibilidades, de investigação e repressão do crime económico, financeiro e fiscal, de escolhas estratégicas pelo ambiente e pelo emprego”, defendeu.

Antes da candidata - que chegou acompanhada pela coordenadora do BE, Catarina Martins, e pela deputada Mariana Mortágua - discursaram alguns apoiantes, entre os quais um enfermeiro e uma jovem que irá votar pela primeira vez, bem como seu mandatário nacional, o diretor do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues.

A eurodeputada Marisa Matias já se tinha apresentado na corrida a Belém em 09 de setembro, numa cerimónia no Largo do Carmo, em Lisboa, nessa ocasião sem figuras do BE.

Hoje, marcaram presença, além de Catarina Martins, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, o vice-presidente da Assembleia da República José Manuel Pureza, vários deputados, os fundadores Fernando Rosas e Luís Fazenda, bem como o antigo deputado da UDP Mário Tomé (atual militante do BE).

O professor universitário Eduardo Paz Ferreira, o antigo diretor-geral da Saúde Constantino Sakellarides ou o escritor José Luís Peixoto foram outras das presenças na apresentação, que decorreu num pátio interior, com lugares sentados e distância entre si e com os participantes de máscara, tendo a candidata cumprimentado todos com uma ‘cotovelada’.