André Ventura discursava em comício no auditório do Centro de Congressos de Aveiro, com lotação total de 730 lugares, reduzidos em tempos de pandemia de covid-19 para 190. Os apoiantes de Ventura e militantes do Chega apenas preencheram perto de metade (80 cadeiras).

“No dia 24 [de janeiro], nós, muitos de nós, que votámos Marcelo Rebelo de Sousa [há cinco anos] temos que lhe dar um cartão vermelho por não nos representar adequadamente”, disse, acrescentando que o atual chefe de Estado é uma “vergonha de Presidente”, um “boneco nas mãos do Governo socialista”.

Para o líder da extrema-direita parlamentar, “é incompreensível que um Presidente que se diz de direita ou centro-direita [o recandidato Marcelo Rebelo de Sousa, confie mais na extrema-esquerda, em Catarina Martins, Jerónimo de Sousa ou António Costa do que naquele que devia ser o seu espaço natural”.

“Este é um distrito (Aveiro), tradicionalmente de direita, é o nosso eleitorado natural, que sente o peso da obrigações do Estado, que uns têm direito a tudo e outros a nada. Este eleitorado percebe como ninguém a mensagem que queremos passar”, afirmou.

O líder partidário reiterou as críticas ao executivo de António Costa pela "gestão incompetente" da crise económico-social e das vagas pandémicas de covid-19 e prometeu revelações de elementos de aparelhos partidários à esquerda que estiveram envolvidos em protestos e manifestações contra o Chega.

Ventura dirigiu-se também aos adversários da esquerda, descrevendo que o comunista João Ferreira anda pelo país com a Constituição na mão como se ela pagasse as contas, escarneceu os comícios virtuais da bloquista Marisa Matias, nomeadamente o apoio recente do músico e compositor brasileiro Chico Buarque e disse que a ex-eurodeputada do PS Ana Gomes anda “de feira em feira com os ciganos, que representam 0,5 a 1% da população”.

“Eles já estão alucinar e eu não quero ganhar nestas condições porque depois dizem ‘ele ganhou, mas também, com aqueles adversários, não era difícil”, brincou.

Para Ventura, os seus concorrentes estão no “desespero porque pensavam que era favas contadas”.

“Estão agarrados de medo, para não usar outra expressão. Querem juntar-se, mas não sabem como fazê-lo porque o povo português não iria perceber. Somos nós que vamos ficar em segundo lugar e obrigar Marcelo a uma segunda volta. Já não saíram mais sondagens, já repararam? A verdadeira sondagem vai ser no dia 24 [de janeiro]. Nos Açores, tínhamos 3% e tivemos o dobro. Imaginem se temos o dobro [dos votos face aos estudos de opinião] no domingo, 22, 23 ou até 24%...”, desejou.

Antes, à porta do recinto, reuniu-se um pequeno grupo de mulheres de etnia cigana que reclamavam da postura “racista” do líder do Chega e da presença da caravana do partido da extrema-direita parlamentar.

“Ele fala mal dos ciganos, mas é pior que os ciganos. Ele é que anda a viver à conta. Olhe para aquilo, anda ali com aqueles carrões, anda de limusina e quer tirar-nos o RSI (Rendimento Mínimo Social)”, condenou uma das mulheres, que não se quis identificar.

As eleições presidenciais realizam-se em plena epidemia de covid-19 em Portugal em 24 de janeiro, a 10.ª vez que os cidadãos portugueses escolhem o chefe de Estado em democracia, desde 1976. A campanha eleitoral começou no dia 10 e termina em 22 de janeiro.

Há outros seis candidatos: o incumbente Marcelo (apoiado oficialmente por PSD e CDS-PP), a diplomata e ex-eurodeputada do PS Ana Gomes (PAN e Livre), o eurodeputado e dirigente comunista, João Ferreira (PCP e "Os Verdes"), a eurodeputada e dirigente do BE, Marisa Matias, o fundador da Iniciativa Liberal Tiago Mayan e o calceteiro e ex-autarca socialista Vitorino Silva ("Tino de Rans", presidente do RIR - Reagir, Incluir, Reciclar).

(Notícia atualizada às 18h57)