O presidente da associação Solidariedade Imigrante, Timóteo Macedo, defendeu hoje que só mudando a lei se pode resolver o problema de 30 mil imigrantes sem autorização de residência, e quer uma “enorme” manifestação já em novembro.

Em declarações à Lusa durante uma manifestação de imigrantes junto da Assembleia da República, em dia de discussão de dois projetos de alteração da lei da imigração, o responsável disse que se a lei não for modificada hoje terá de o ser noutro momento, e lembrou que para dia 13 de novembro já está marcada outra manifestação de protesto, no Martim Moniz, em Lisboa.

Os motivos da manifestação de hoje, que juntou centenas de imigrantes, são os mesmos da iniciativa marcada para novembro: o facto de milhares de imigrantes trabalharem em Portugal, fazerem descontos para a Segurança Social, pagarem impostos, mas não terem autorização de residência.

O Bloco de Esquerda pretende resolver o problema alterando a lei e hoje a líder o partido, Catarina Martins, falou com os imigrantes no exterior do Parlamento, “pessoas de vários continentes, que falam diferentes línguas, que são trabalhadores que pedem para ser tratados com dignidade”, como disse depois aos jornalistas.

“É um atentado à dignidade que ninguém pode aceitar”, disse em relação ao facto de muitos trabalhadores não terem visto de residência. “O trabalho ilegal só ajuda quem abusa dos trabalhadores, não é aceitável esta injustiça”, afirmou.

O PCP apresentou também um projeto de alteração da lei, na parte da extradição, e também considerou que as duas iniciativas podem “resolver em parte os problemas das pessoas”, por um lado para estarem legais e não correrem o risco de expulsão, e por outro para impedir que pessoas que vivem há décadas em Portugal possam ser expulsas pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no caso de cometerem um ilícito, o que é “uma tremenda injustiça”.

Timóteo Macedo concorda, diz que é preciso que o processo de legalização não se feche para os que trabalham na agricultura, na construção civil, na hotelaria ou na limpeza e que seja respeitada a dignidade dos que estão a colmatar necessidades de mão-de-obra.

Dario Araújo, um brasileiro pela segunda vez em Portugal e sempre sem autorização de residência diz que já se registou como trabalhador independente, que emite faturas, que contribui para o enriquecimento do país, mas que está sem autorização.

“Estou ilegal para umas coisas e legal para outras”, disse, acrescentando: se todos os imigrantes se forem embora não vai haver mais quem sirva o cafezinho, quem construa as vossas casas, porque não são vocês quem vai trabalhar 12 horas por dia por pouco salário.

Brasileiros mas também paquistaneses, como Muhammad Naseer, a trabalhar na agricultura em Beja há quase dois anos e sem autorização. Ou nepaleses, como Bhim Kamal: “trabalhamos aqui um, dois, três anos e não temos documentos nem data marcada, dizem que vão analisar e esperamos muito tempo. Por isso o agrupamento familiar também é difícil”.

E são tantos os nepaleses em Portugal, 20 mil, metade deles sem autorização de residência, diz Kamal, presidente da Associação Nepalesa.

Showket Osman não sabe quantos mas diz que do Bangladesh, como ele, são muitos e que “gostam muito” de viver em Portugal. Ele chegou em 1992 e garante que até hoje tem esse problema de documentos.

E resume assim o que todos gritam, o pensamento dos que usam camisolas brancas com a frase “Documentos para Todos” patrocinadas por um restaurante, os cartazes “Com ou sem visto , existo”, as palavras de ordem, o motivo da manifestação enfim: “esta lei trás muito problema”.