“É um problema que está a atingir dimensões insustentáveis e para o qual o Governo, dentro do quadro legal que tem disponível, tem de agir, porque estamos a provocar ali um constrangimento ao escoamento das nossas mercadorias”, disse à agência Lusa o líder da CIP, acrescentando que está "a provocar um estrangulamento à rentabilidade das empresas e ao seu desenvolvimento, num país que está carente de exportações".
António Saraiva referiu que este porto “é vital não apenas para a Autoeuropa, mas para outras empresas da região que o utilizam”.
E prosseguiu: “É uma questão que, inclusivamente, pode generalizar-se porque a reivindicação dos trabalhadores não é exclusiva do Porto de Setúbal, mas pode, ainda por cima, o que não esperamos, mas tememos, haver uma contaminação a outros portos” nacionais.
O líder da CIP disse igualmente que esta greve se traduz num “prejuízo para a economia nacional e para as empresas”, pelo que advoga que se tenham de “tomar medidas, dentro do quadro legal que existe, ou encontrar formas extraordinárias de agir sobre esse fenómeno”.
“Não podemos continuar a permitir o afunilamento e estrangulamento da atividade do porto”, frisou.
A CIP entende que a greve vai penalizar os clientes das empresas que utilizam o Porto de Setúbal e que as empresas “não se vão compadecer porque há uma greve ou porque há uma quebra de energia ou fatores que são externos à própria empresa”, pois é “a empresa que os sofre e não consegue explicar nem repercutir nos clientes”.
Em declarações à Lusa, o presidente do Sindicato dos Estivadores do Centro e Sul, António Mariano, disse hoje que 90% dos trabalhadores do Porto de Setúbal são precários e que, por isso, “está tudo parado” à espera que terminem as “manobras de intimidação”.
Segundo explicou António Mariano, as empresas que contratam estes trabalhadores – cerca de 150, de acordo com os dados do sindicato – estão a tentar fazer contratos com alguns deles, que são “ilegais em tempo de greve” e cujos termos são desconhecidos.
“Sabemos que um ou dois trabalhadores assinaram, mas nem ficaram com uma cópia do contrato”, denunciou.
Os trabalhadores exigem assim o retomar das negociações com os sindicatos para um acordo coletivo de trabalho que garanta os direitos destes trabalhadores precários que chegam a trabalhar 30 e 40 turnos por mês.
“Os trabalhadores estão fartos, muitos estão nesta situação há mais de 20 anos. Estão a ser alvo de manobras de intimidação e coação e decidiram parar totalmente desde dia 05 [de novembro]. Está tudo parado em Setúbal”, indica o sindicalista, depois do jornal Público ter avançado na sua edição de hoje que “não há movimento de contentores no Porto de Setúbal, nem operações no terminal usado pela construtora automóvel Autoeuropa para expedir veículos para o mercado de destino”.
O Público destaca que a fábrica de Palmela tem 6.000 carros parados à espera de embarcar.
Uma fonte oficial da fábrica da Volkswagen em Portugal disse ao jornal que “a paragem dos estivadores já implicou o não envio de cerca de seis mil unidades para o seu mercado de destino”, salientando que a “situação pode colocar em causa a operação da fábrica [quando for] atingida a capacidade máxima de armazenamento de carros produzidos”.
Na segunda-feira, a Agepor denunciou a inexistência de trabalho portuário nos terminais de contentores de Setúbal, sem que esteja decretada uma greve ao trabalho em horário normal, e pediu a intervenção do Ministério Público.
Os agentes de navegação notaram que apenas está decretada uma greve ao trabalho suplementar pelo Sindicato dos Estivadores e da Atividade Logística (SEAL).
A par desta paralisação dos precários decorre uma greve ao trabalho suplementar, decretada pelos estivadores do SEAL, até 01 de janeiro de 2019 em defesa da liberdade de filiação sindical.
A greve em causa abrange os portos de Lisboa, Setúbal, Sines, Figueira da Foz, Leixões, Caniçal (Madeira), Ponta Delgada e Praia da Vitória (Açores).
O Governo já disse que está a acompanhar a situação no Porto de Setúbal. Em declarações à agência Lusa, uma fonte do Ministério do Mar disse que a ministra Ana Paula Vitorino tem “mantido um diálogo contínuo” com vários operadores portuários.
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