Através de uma declaração divulgada no Facebook, Hashim Thaçi indica que “foi convidado pelo gabinete do procurador especial para depor” na segunda-feira.

O gabinete do procurador, em colaboração com um tribunal internacional sediado na cidade holandesa de Haia que investiga as alegações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos pelo Exército de Libertação do Kosovo (UÇK) no final da década de 1990, anunciou em junho que Thaçi e outros antigos membros da organização armada foram indicados.

Thaçi era o líder político do UÇK, que combatia pela independência da ex-província sérvia com larga maioria de população albanesa.

O atual líder do Kosovo, e ainda o antigo presidente do parlamento Kadri Veseli, também indiciado, negaram responsabilidade pelos crimes de guerra.

Ambos são considerados de responsabilidade criminal pela morte de cerca de 100 sérvios, ciganos e opositores políticos albaneses, e ainda por desaparecimentos forçados, perseguições e tortura.

Um juiz do Tribunal especial sobre o Kosovo ainda não decidiu se o caso vai a julgamento ou opta por anular todo o processo.

No Kosovo, muitos consideram que o Tribunal Especial, estabelecido através de uma emenda na Constituição do Kosovo, é uma instituição injusta pelo facto de as forças sérvias terem também efetuado massacres durante um conflito que terá provocado cerca de 10.000 mortos, na maioria separatistas albaneses. Mais de 1.600 pessoas permanecem desaparecidas.

A intervenção do exército da Sérvia no Kosovo em 1998 para combater os pró-independentistas albaneses motivou o envolvimento da NATO através de intensos ataques aéreos contra a Sérvia, e ainda no Montenegro, entre março e junho de 1999, quando foi assinado um acordo de tréguas em Kumanovo, cidade da Macedónia do Norte.

Na sequência desde acordo, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a resolução 1244 que confirmava a integridade territorial da Sérvia.

Ao basear-se nesta decisão, Belgrado recusou reconhecer a independência da sua antiga província, declarada de forma unilateral em 2008 e de imediato legitimada por diversos países ocidentais, com destaque para os Estados Unidos.

Altos responsáveis militares e da polícia sérvios foram, entretanto, julgados e condenados pela justiça internacional por crimes de guerra no decurso do conflito.

O tribunal que investiga os alegados crimes de guerra do UÇK teve origem num inquérito internacional que decorreu após um relatório do Conselho da Europa que questionou as atividades de antigos comandantes da formação armada separatista, incluindo Thaçi.

O ex-primeiro-ministro kosovar Ramush Haradinaj demitiu-se em julho de 2019, após ser convocado pelo tribunal especial na qualidade de suspeito.

Kadri Veseli, também ex-respnsável dos serviços de informações do UÇK, anunciou em novembro passado ter igualmente recebido uma convocatória do tribunal.

Um relatório do Conselho da Europa evocou a morte ou desaparecimento de 500 pessoas, incluindo 400 sérvios, após a retirada das forças sérvias em junho de 1999, e quando o UÇK garantia o controlo “quase exclusivo” da situação no terreno.

O relatório refere-se designadamente a execuções sumárias, sequestros e tráfico de órgãos humanos retirados das vítimas.

O Kosovo, cerca de 1,8 milhões de habitantes e ex-província sérvia com larga maioria de população albanesa, autoproclamou a independência em 17 de fevereiro de 2008, reconhecida de imediato pelos Estados Unidos e Reino Unido e, progressivamente, por 22 dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE).

A Sérvia recusa a secessão unilateral da sua antiga província do sul, que também não foi reconhecida pela Rússia, China, Índia ou África do Sul.