“Eles estão a preparar-se para liquidar a nossa gente no norte. Digo-o abertamente”, assegurou Vucic em conferência de imprensa em Belgrado, citado pela agência noticiosa estatal Tanjug. “Insisto para que não façam isso, sob o pretexto da luta contra a criminalidade. Não matarão as pessoas”, disse Vucic.
O primeiro-ministro do Kosovo, Albin Kurti, acusou alegadas “estruturas criminais dirigidas por Vucic” no norte do Kosovo de pretenderem provocar desordens e incidentes. No final de julho, centenas de sérvios kosovares bloquearam as estradas no norte do Kosovo junto à fronteira em protesto pelas decisões do Governo kosovar sobre a aplicação de medidas para impedir o uso de documentos de identidade e matrículas da Sérvia no território do Kosovo.
No decurso dos protestos, e segundo Pristina, foram disparados diversos tiros dirigidos à polícia kosovar mas sem registo de baixas. Milan Radoicic, um dos líderes sérvios locais, é procurado pela justiça kosovar, e sujeito a sanções dos Estados Unidos, que o acusam de participar em redes de criminalidade organizada. “[Às autoridades kosovares] perturba-lhes tudo o que pensa livremente, porque para eles todo o sérvio é um criminoso”, insistiu Vucic.
Ao dirigir-se aos seus opositores em Belgrado, que o acusam de ter organizado uma estrutura ilegal entre os sérvios do norte do Kosovo, o Presidente sérvio definiu-os como “resíduos políticos” que ajudam Pristina nos seus planos anti-sérvios. Vucic também manifestou ceticismo sobre as negociações com Kurt convocadas pelo Alto representante da União Europeia para a política externa, Josep Borrell, e previstas para a próxima quinta-feira em Bruxelas.
“Estou muito cético sobre a possibilidade de obter resultados. Basta ler as declarações de Kurti e seus colaboradores para entender que não pretendem o compromisso”, declarou.
Na conferência de imprensa, Vucic indicou ainda que se vai reunir na próxima quarta-feira com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, para abordar a função da missão da NATO no Kosovo (Kfor), que mantém cerca de 4.000 militares no terreno.
Desde 2011 que a Sérvia e o Kosovo promovem negociações para a normalização das relações, mediadas pela UE, mas sem resultados palpáveis até ao momento. Os cerca de 120.000 sérvios ortodoxos do Kosovo — os números divergem consoante a origem, admitindo-se que possam chegar aos 200.000, com cerca de um terço concentrado no norte do território — não reconhecem a autoridade de Pristina e permanecem identificados com Belgrado, de quem dependem financeiramente.
Belgrado nunca reconheceu a secessão do Kosovo em 2008, proclamada na sequência de uma guerra sangrenta iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU. Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os EUA, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil ou África do Sul) também não reconheceram a independência do Kosovo.
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