O Governo espanhol confirmou na segunda-feira o abandono do projeto da mina de urânio em Alameda de Gardón, na região de Salamanca, a cerca de dez quilómetros da fronteira com Portugal, explicando que a empresa promotora não tinha apresentado a documentação necessária para poder avançar com o projeto.

A mina de Alameda de Gardón é um dos três empreendimentos mais avançados da empresa Barkeley que tem um projeto de exploração de urânio a céu aberto que ocupa cerca de 450 hectares na região de Salamanca.

A proximidade com a fronteira portuguesa tem preocupado associações ambientalistas, mas também deputados portugueses, tendo o parlamento aprovado várias recomendações a pedir a intervenção do Governo português junto do executivo espanhol para que o processo fosse travado.

Em declarações à Lusa, o presidente da comissão parlamentar do Ambiente, Pedro Soares, saudou a decisão do governo espanhol e disse esperar que este seja o início do fim da exploração das minas de urânio e das centrais nucleares.

“As nossas expectativas são que agora não avance nenhuma dessas minas de urânio naquela região e que este processo tenha uma segunda fase de início do processo de desmantelamento das centrais nucleares, desde logo a de Almaraz [a cem quilómetros de Portugal]”, disse à Lusa o deputado bloquista.

Pedro Soares lembrou os impactos ambientais destas explorações, que podem provocar a contaminação atmosférica com poeiras radioativas, assim como contaminar o rio Douro e os solos com metais pesados.

“Em Portugal conhecemos muito bem quais são os efeitos das minas de urânio, temos o caso da Urgeiriça, que apesar de ter sido desativada em 2001 ainda hoje tem um passivo ambiental brutal, com as pessoas a sofrerem com neoplasias, com todo o processo de descontaminação ainda a decorrer e a gastarem-se milhões de euros”, recordou.

“Não queríamos que o filme se repetisse do outro lado da fronteira e ainda para mais com impactos diretos no território português. É uma boa notícia e esperamos que a seguir seja Almaraz”, afirmou.

Pedro Soares sublinhou ainda a “mudança de atitude” entre o atual Governo espanhol e o anterior, liderado por Mariano Rajoy, no que toca à energia nuclear e na forma como lidam com as autoridades portuguesas.

Apesar da exploração de minas e das centrais nucleares "terem impacto transfronteiriço, [o Governo de Rajoy] não dava informações às autoridades portuguesas o que denotava uma atitude de desconfiança e falta de lealdade entre as autoridades portuguesas e espanhola”, recordou.

Além do projeto de Alameda de Gardón, a empresa Barkeley tem também a mina de Retortillo, situada a cerca de 40 quilómetros da fronteira portuguesa.