“Queria que os portugueses percebessem que esse não é um assunto de Estado, pelo menos pela parte de Moçambique. Coisas como essas em Moçambique durante os 16 anos que tivemos de conflitos acontecem muito. Tenho muitos moçambicanos desaparecidos, tenho muitos estrangeiros desaparecidos, de todo o tipo de pessoas, incluindo alguns portugueses”, disse Filipe Nyusi.

O chefe de Estado moçambicano falava aos jornalistas no Palácio Foz durante a conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro português António Costa no final da IV Cimeira entre os dois países.

Reconhecendo que o desaparecimento de um cidadão é um problema da “estabilidade de um país”, Nyusi adiantou que a “preocupação número um” das autoridades moçambicanas é perceber porque é que um cidadão residente em Moçambique desaparece.

“Não pode acontecer”, disse, adiantando que o Governo de Moçambique através dos seus serviços de justiça e segurança tudo fez para que esse caso fosse esclarecido, até ao momento sem sucesso.

“Está a ser difícil esclarecer [o que aconteceu], mas tudo fizemos para esclarecer este caso concreto”, que segundo disse, aconteceu numa zona considerada “um corredor de guerra” num período antes da trégua assinada com a Renamo e onde apenas o empresário português conseguia ir.

O chefe de Estado moçambicano adiantou que recebeu na quinta-feira passada em Maputo a mulher do empresário português, num encontro em que participaram também outros membros do governo ligados ao caso.

“Falamos e ela disse-me que sabia que o marido existia. É uma boa notícia. Se sabe pode nos ajudar a encontrar ou dizer também ao governo português”, disse.

“O esforço existe para podermos esclarecer [o caso], mas não encontramos saídas. Normalmente os raptores lidam diretamente com a família. Se houve da parte desses raptores contacto com a família podia facilitar, mas normalmente as famílias omitem a informação”, acrescentou.

Nyusi diz que o processo continua em investigação na Procuradoria Geral da República a quem tem transmitido todas as informações de que vai dispondo.

“Há muitos portugueses em Moçambique, há muitos moçambicanos em Portugal. Cada caso tem de ser estudado. Se houver tendência de uma família para nacionalizar um caso isso pode ter consequências imprevisíveis para o Estado. Neste caso, temos a clareza que não é um problema do Estado é um problema concreto e pontual que tem de ser esclarecido”, reforçou.

Filipe Nyusi explicou que, durante esta sua visita a Portugal, o assunto lhe foi pela primeira vez colocado, na terça-feira, pelo Presidente do Parlamento, Ferro Rodrigues, adiantando que hoje, no encontro com António Costa foi ele que fez questão de abordar o assunto para dar esclarecimentos.

Por seu lado, o primeiro-ministro português António Costa lamentou o desaparecimento do empresário português, mas manifestou plena confiança nas autoridades moçambicanas para o esclarecimento deste caso

“Todos desejaríamos que não tivesse ocorrido e tendo ocorrido que já estivesse esclarecido. Infelizmente sabemos que não e caso único” no mundo, em Moçambique e em Portugal, disse António Costa.

“Isto não justifica nada, significa simplesmente que não podemos, nem devemos deixar que esta infeliz circunstância perturbe a relação entre os dois países, antes pelo contrário devemos trabalhar todos juntos de boa fé e de forma construtiva para o seu esclarecimento”, acrescentou.

António Costa registou a “grande colaboração” das autoridades moçambicanas para tentar resolver este caso e agradeceu a Filipe Nyusi ter recebido em Maputo, a esposa e outros familiares do empresário desaparecido.

“Ela própria me transmitiu a gratidão que tem pela forma como foi recebida e pela disponibilidade que encontrou por parte do Presidente da República de Moçambique para que este caso seja esclarecido. Este é o desejo que temos também, não apenas por dever, mas também em solidariedade com a família que esta naturalmente muito angustiada”, adiantou Costa.

O chefe do Executivo português assegurou ainda “todo o apoio” para que seja possível esclarecer o caso.

“Moçambique e a família contarão sempre com todo o apoio do Estado português naquilo que considerarem necessário e que esteja ao nosso alcance”, reforçou.

Américo Sebastião foi raptado numa estação de abastecimento de combustíveis na manhã de 29 de julho de 2016, em Nhamapadza, distrito de Maringué, na província de Sofala, no centro de Moçambique, desconhecendo-se desde então o seu paradeiro.

Portugal ofereceu por várias vezes cooperação judiciária para se tentar localizar o empresário Américo Sebastião, mas as autoridades moçambicanas nunca deram seguimento.

No esforço para encontrar Américo Sebastião, a mulher do empresário tem estado em contacto com as autoridades moçambicanas.