Na quinta onde reside, nesta cidade do distrito de Coimbra, o avanço das chamas foi travado durante a noite por “uma bordadura de carvalhos”, disse hoje António Campos à agência Lusa.
“Apenas com ajuda de uma mangueira de jardim”, com que regaram o terreno nas proximidades da habitação, o engenheiro técnico agrário, antigo secretário de Estado da Agricultura, e dois familiares, conseguiram apagar o incêndio.
Os pomares de macieiras, de variedades tradicionais, como a bravo-de-esmolfe, estão repartidos por cinco locais diferentes do concelho, um dos mais atingidos do país pelos fogos de domingo.
Os cuidados que António Campos assegura às explorações, rodeadas de eucaliptais e pinhais de outros proprietários, designadamente a limpeza periódica da vegetação fina, impediram a sua destruição pelo fogo.
“Os incêndios ameaçaram todos os meus pomares. Mas, numa área de 20 hectares de macieiras, arderam apenas três árvores”, sublinhou.
Foi igualmente destruída uma habitação no meio de uma das plantações, que António Campos emprestava a uma idosa de pequenos recursos.
A casa foi incendiada “por folhas de eucalipto que vieram a arder” das parcelas alheias, segundo o antigo deputado dos parlamentos português e da União Europeia.
“Temos bosques que arderam onde ninguém conseguia entrar, nem sequer os bombeiros”, criticou, indicando que o eucalipto e o pinheiro-bravo são as espécies predominantes em Oliveira do Hospital e noutros concelhos da região Centro.
Para o agricultor, também um dos fundadores do PS, “há um problema nacional que é a gestão da floresta”, sendo necessário “obrigar o Governo a integrar-se no século XXI”.
Na sua opinião, importa “voltar outra vez à floresta tradicional” da Península Ibérica, com sobreiros, medronheiros, castanheiros, carvalhos e outras folhosas, já que o eucalipto “é ainda pior do que o pinheiro” na propagação do fogo.
As áreas com estas espécies que escaparam aos incêndios dos últimos meses “não irão resistir às alterações climáticas”, com redução da humidade e aumento das temperaturas.
“Ou muda a floresta ou isso é tudo para arder”, preveniu António Campos, ao defender que é necessário “adaptar a floresta portuguesa às alterações climáticas”.
Para cumprir esse objetivo, “é preciso muita determinação e coragem” do Governo, o que espera ver traduzido nas decisões do Conselho de Ministros extraordinário de sábado.
“Os matos podem ser uma das maiores riquezas nacionais”, com a sua transformação em biocombustível e outros produtos, uma aposta da BLC3, um projeto de tecnologia e inovação, em Oliveira do Hospital, a que António Campos está ligado.
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