Este mês, o sindicato Unite deu conta de uma negociação com o grupo Argos, que vende desde mobiliário a eletrodomésticos, o que resultou num aumento de 30%, fazendo o salário disparar de cerca de 2.200 libras (2.500 euros) mensais para 2.900 libras (3.350 euros).
Carphone Warehouse, Asda, Tesco, Veolia e Arla são apenas algumas das empresas que estão a oferecer prémios aos novos camionistas que chegam às 2.000 libras (2.300 euros) e recompensas monetárias aos funcionários que consigam atrair um amigo.
No caso do português Leandro Louro, o aumento foi de 50%, tendo passado de 12 libras por hora (14 euros) para 18 libras (21 euros), embora em empresas diferentes, disse à agência Lusa.
“Foram obrigados a pagar melhor para aguentar o pessoal porque muitos europeus foram-se embora durante a pandemia”, explicou.
No entanto, em vez de culpar o ‘Brexit’ pelo êxodo de milhares de camionistas europeus, sobretudo de países do leste, como Roménia, Hungria ou Polónia, justifica a situação com a mudança das regras fiscais.
Em abril, os camionistas contratados através de agências de recrutamento deixaram de poder receber como trabalhadores por conta própria e têm de ser pagos como funcionários, uma medida da autoridade tributária britânica HMRC para combater a evasão fiscal.
Para muitos motoristas, conta Louro, no Reino Unido há oito anos, isto resultaria numa grande redução na remuneração, o que pesou quando milhares de profissionais regressaram aos seus países durante a pandemia.
A falta de camionistas no país, que tem sido alvo de alertas por diferentes setores económicos há vários anos, ficou exposta pelas falhas no abastecimento de combustíveis nos últimos dias, causando pânico entre automobilistas.
Petrolíferas queixaram-se da falta de condutores para levar o combustível até aos postos, situação que replica os problemas encontrados por supermercados, restaurantes e outras empresas, e que tem resultado em prateleiras vazias, falta de produtos ou portas fechadas.
Para os que ficaram, no entanto, a situação está a melhorar.
Em alguns casos, garantiu o ministro dos Transportes, Grant Shapps, num artigo para o jornal Daily Mail, a remuneração mensal já está perto das 6.000 libras (7.000 euros).
Os melhores salários e condições de trabalho são uma “correção do mercado”, causada em parte pela “dependência estrutural de condutores da Europa”, alegou, no artigo publicado no sábado.
Shapps quer mais jovens candidatos para esta carreira, caracterizada por uma mão de obra envelhecida, e escreveu a cerca de um milhão de profissionais inativos para regressarem ao ofício.
Júlio Silva, que trabalhou seis anos no Reino Unido para uma empresa portuguesa, mas que entretanto regressou ao país de origem, disse à Lusa que os britânicos precisam de melhorar outras condições, como as zonas de estacionamento nas auto-estradas e as zonas de espera para descargas.
“É o país europeu com piores condições. Há roubos constantes e às vezes temos de andar quilómetros para encontrar um sítio para estacionar enquanto aguardamos pela hora de descarregar”, recordou.
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