O estudo “DAWN2 – A Diabetes Para além dos Números”, que envolveu 227 profissionais de saúde entre os quais médicos de medicina geral e familiar (68), endocrinologistas (40), nutricionistas e enfermeiros (119), visou analisar as “atitudes, desejos e necessidades” de pessoas que vivem com esta doença, bem como familiares, cuidadores e profissionais de saúde da área.
“Os profissionais de saúde inquiridos mostraram uma clara preocupação com a necessidade de organização no acompanhamento das pessoas com diabetes, fruto do abandono do Programa Nacional da Diabetes que houve nos últimos tempos”, afirmou à agência Lusa o presidente da APDP, José Manuel Boavida.
Segundo José Manuel Boavida, faltam equipas multidisciplinares organizadas para trabalhar no acompanhamento dos doentes e famílias, cuidados personalizados e adequados às reais necessidades das pessoas e uma real intervenção comunitária com redes de apoio social.
“A principal conclusão é que há claramente dificuldade na relação entre os profissionais de saúde e as pessoas com diabetes”, disse o médico, explicando que, por um lado, os profissionais de saúde querem ver mais proatividade das pessoas na gestão da sua doença, e, por outro, os doentes dizem que querem mais ajudas para saber como podem tratar a sua doença.
De acordo com o estudo, cujos dados foram recolhidos no primeiro semestre de 2017, 70% dos profissionais de saúde disseram apreciar que os diabéticos lhes digam qual a melhor forma de os ajudarem a gerir a doença e seis em cada dez consideraram ser necessário formação em comunicação e suporte para a mudança de comportamentos.
Metade dos inquiridos considera que disponibilizar educação para a autogestão da diabetes contribui para a redução do impacto da diabetes e defende ser importante envolver os doentes diretamente nos esforços para melhorar a qualidade dos cuidados e serviços.
Para José Manuel Boavida, a “grande lição” retirada é que o modelo utilizado no acompanhamento da diabetes é “um modelo ultrapassado”, que “vem do tratamento das doenças curativas e agudas, para uma compreensão do que é o acompanhamento de doenças”, em que os tratamentos estão principalmente nas mãos dos doentes.
A recomendação é que deve haver formação dos profissionais de saúde no âmbito da comunicação, da mudança de comportamentos, da compreensão da componente emocional e social da diabetes, em que “a doença não se reduz a valores alterados no sangue, da tensão arterial ou do colesterol”, salientou.
“Isto obriga a que haja uma educação estruturada e não dependente da maior sensibilidade do médico ou da enfermeira. Esta educação deve ser adaptada a cada um, mas deve ser um espaço próprio das consultas que necessitam de mais tempo e que necessitam de uma estruturação daquilo que as pessoas têm que saber para se poderem tratar”, defendeu.
O especialista salientou que a diabetes “é uma doença crónica, com complicações gravíssimas, que representam um enorme custo para o Serviço Nacional da Saúde e para o Estado português e tem que ser uma prioridade conseguir reduzir esse custo”, o que pode ser conseguido com “mais organização, uma maior consciencialização da sociedade e apoios sério à educação das pessoas. Porque é isto que os profissionais de saúde sentem que há falta”.
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