“O HSA está a bater no fundo. É um problema de gestão, pois o Conselho de Administração assumiu que pode fazer mais com menos, mas não dá condições de trabalho. A programação cirúrgica para março viu os tempos reduzidos em 50% por falta de recursos humanos”, revelou José Carlos Almeida.
Segundo o secretário regional do Centro do SIM, a falta de médicos estende-se à área laranja do Serviço de Urgências. Esta zona “tem uma capacidade para 14 doentes” e no dia da visita do SIM, na semana passada, “estavam 46 e ainda era de manhã”, denunciou, reforçando que “não há médicos diferenciados”.
“Uma colega confessou-nos que estava ela e um médico do ano comum na área laranja. Todos os médicos mais diferenciados não conseguiram sair da emergência [intra-hospitalar]. Antes, o hospital tinha uma equipa de emergência, agora não. Estes médicos fazem dois a três turnos por semana e ainda asseguram a unidade hemodinâmica”, acrescentou.
José Carlos Almeida afirmou ainda que os médicos “continuam a entregar as cartas de escusa”, porque “seria uma irresponsabilidade assumirem que estão a trabalhar em condições de segurança para os utentes”.
“Temos doentes que são reavaliados apenas 24 a 36 horas depois. Se falarmos de uma pessoa idosa, acamada, que durante esse tempo não está a tomar a medicação habitual que necessita, pode sofrer” outro tipo de problema clínico”, como “uma pneumonia e ir para aos cuidados intensivos ou no pior cenário morrer”.
Para o secretário regional do Centro do SIM, o argumento de falsas urgências “não pode ser usado, porque existe em todo o país”.
“Se pegarmos nos hospitais de Loures ou de Vila Franca, de gestão privada, têm uma área de influência idêntica à de Leiria, ou até menor, e têm um número superior de médicos com capacidade de decisão no serviço de urgência, o que faz toda a diferença. É preciso ter mais elementos e mais diferenciados”, insistiu.
“Não cabe ao sindicato decidir pela demissão ou não do CA, terá de ser a tutela a definir o que fazer do hospital de Leiria. Não se pode jurar amor eterno ao Serviço Nacional de Saúde [SNS] e dar facadas nas costas. O SNS está perante uma crise que nunca foi tão grave como agora. Nunca os médicos e todos os profissionais de saúde estiveram tão cansados como agora”, sublinhou.
“É de louvar a dedicação que os médicos de Leiria têm tido com os seus doentes”, rematou.
Na semana passada, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) revelou que todos os chefes de equipa da Urgência de Medicina Interna do Hospital de Santo André se demitiram em janeiro.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, disse que o Serviço de Urgência do hospital de Leiria atingiu o “limite” e que “só não encerra por todo o esforço dos médicos que lá trabalham”, mesmo “sem serem reconhecidos pelo Conselho de Administração [CA] do CHL”.
“Todos os chefes de equipa de Urgência de Medicina Interna apresentaram já a demissão, no dia 25 de janeiro, alegando a inexistência de condições essenciais ao desempenho das funções”, referiu, explicando que os médicos “não têm tempo para a chefia do serviço, nem recursos para cumprir a escala de urgência”.
Desde o início do ano, a Ordem dos Médicos já recebeu 159 declarações de responsabilidade: “Recebemos mais cartas de declarações de responsabilidade do que de todos os hospitais do Centro juntos, o que mostra uma grande preocupação com o que está a acontecer em Leiria, sobretudo na Urgência de Medicina Interna”, salientou Carlos Cortes.
Carlos Cortes já deu conhecimento ao Ministério da Saúde, pedindo a “intervenção” da ministra Marta Temido para “ajudar a solucionar este problema”.
Entretanto, o PSD vai pedir a presença da ministra da Saúde, com caráter de urgência, no parlamento, para dar explicações sobre a “situação caótica” no Hospital de Santo André.
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