
“O pedido de licenciamento está a ser preparado e vamos entregar depois das eleições, (…) não queremos avançar até o final das eleições autárquicas. Só depois das eleições é que vamos falar com a nova administração” autárquica, disse Fazal Ahmad à agência Lusa.
O responsável adiantou que o terreno, localizado junto aos Bombeiros de Samora Correia, foi adquirido com a intenção de instalar a sede nacional da associação, referindo que a escolha de Samora Correia se deveu à proximidade com Lisboa e aos preços mais acessíveis dos terrenos.
Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho (CDU), confirmou que até ao momento “não deu entrada qualquer pedido de licenciamento ou informação prévia relativo ao terreno”.
O autarca considerou, no entanto, que não se justifica a construção de uma mesquita em Samora Correia, argumentando que não existe, no concelho, uma comunidade muçulmana com dimensão que justifique a criação de um espaço de culto.
“Construir um local de culto desta natureza era estarmos a pôr a carroça à frente dos bois. Se não há comunidade, porque é que vamos ter? Isto é tal e qual como um posto médico: se eu não tivesse utentes ia construir um posto médico? Não faz sentido”, referiu.
Apesar desta posição, o presidente da autarquia reconheceu que qualquer entidade pode apresentar um projeto de licenciamento, e que, da mesma forma, a câmara poderá recusar o projeto.
“Num Estado de direito democrático como é o nosso, qualquer pessoa pode exercer os seus direitos e nada impede que apresentem um pedido de licenciamento e também nada impede que a Câmara, naquilo que legalmente lhe for possível, rejeite esse pedido de licenciamento”, explicou Carlos Coutinho.
Fazal Ahmad considerou prematuro antecipar se o projeto será aceite ou rejeitado pela câmara, mas assegurou que a associação segue todas “as regras legais” e que não violará “qualquer norma do Estado português”, reconhecendo que, sem autorização da autarquia, a construção não avançará.
“Se a Câmara recusar não podemos avançar para a construção. Mas, ainda não sabemos qual vai ser o partido que, após as eleições, estará no poder. Vamos querer falar e negociar com a nova administração, depois das eleições”, afirmou.
A população local lançou uma petição contra a instalação de uma mesquita que já conta com mais de mil assinaturas, reação que o líder da associação considera normal sobretudo em países onde a comunidade ainda não está plenamente integrada.
Acredita, no entanto, que com o tempo a população local compreenderá os objetivos da associação, frisando que se trata de uma comunidade pacífica, presente em mais de 200 países.
“Quando a comunidade é nova, nós respeitamos as reações da população e temos a certeza de que virá o dia em que a comunidade de Samora Correia vai perceber a nossa situação. A nossa comunidade é diferente dos outros grupos islâmicos. A nossa comunidade é muito pacífica. E também temos apoios sociais. Ajudamos viúvos, viúvas, órfãos. Temos campanha de doar sangue e realizamos ações de limpeza. Aqueles que falam no início contra a comunidade, eles próprios depois tornam-se amigos da comunidade”, concluiu.
A construção desta mesquita tem causado polémica depois de o Partido Socialista de Benavente ter emitido um comunicado a acusar a autarquia de ter permitido que o terreno fosse comprado por uma entidade privada, para construir um "edifício de grandes dimensões".
O PS adiantou que pretendia utilizar aquele espaço para criar um parque urbano, medida que integra o seu programa autárquico.
Segundo a escritura da venda do terreno, a que a agência Lusa teve acesso, o espaço foi adquirido por 300 mil euros pela associação Ahmadia do Islão em Portugal, que pretende construir uma mesquita, incluindo uma biblioteca, sala de reuniões e espaços para a prática desportiva.
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