No velório, que partiu hoje à tarde da Praça 8 de Maio rumo à Estação Nova, mais de 100 pessoas entoaram palavras de ordem contra o fim da estação, fecho que está marcado para as 00:20 de domingo, no âmbito da empreitada do Sistema de Mobilidade do Mondego, que vai substituir os carris até Coimbra-B por asfalto, onde futuramente irão circular autocarros elétricos articulados.
No caixão de cartão levado ao longo do percurso, lia-se “Governo e Câmara mataram a estação e a ferrovia”. O protesto foi organizado pelo Movimento de Utentes dos Serviços Públicos (MUSP), União dos Sindicatos de Coimbra, Sindicato Nacional dos Trabalhadores Ferroviários e Associação Juvenil Projeto Ruído.
Filipa Alegrete, de 40 anos, viajou de comboio de Pombal para marcar presença na manifestação.
“Uso regularmente a estação e venho até Coimbra com alguma frequência”, contou.
Apesar de ter o passe ferroviário verde e, por isso, não ter de pagar pela viagem até Coimbra, fez questão de comprar o bilhete com destino até Coimbra-A para ter uma recordação de uma despedida que lhe custa fazer.
“Nunca pensei que este dia pudesse chegar. Sempre achei que pudessem voltar atrás e é com algum dó que o digo”, disse Filipa.
Guedes Lima, de 65 anos, também viajou de propósito de Vila Nova de Gaia para marcar presença na manifestação contra uma estação que acaba ao fim de 140 anos de atividade.
Ferroviário que esteve no ativo durante 40 anos — “um dia ferroviário sempre ferroviário” -, lamentou a decisão de fechar a estação, onde nunca trabalhou, mas por onde passou em lazer.
Este não é o primeiro enterro que vê de linhas ou troços de linhas ferroviárias.
“Vi o Tâmega, o Tua, o Corgo, o Sabor, a Estrela de Évora, o Vouga, ou em Viseu, em que derrubaram uma estação em cantaria que é uma vergonha”, enumerou.
Apesar de terem já sido muitos os funerais de ferrovia que viu, mesmo assim surpreendeu-se com o fecho da Estação Nova.
“A CP, quando foi criada e feita, foi para servir a população, mas acho que alguns políticos estão a servir-se da CP e isso é que está mal”, afirmou Guedes Lima, com uma t-shirt com um comboio onde se lê “Pare! Escute! Lute!”.
António Coelho, do MUSP, foi distribuindo folhetos contra o fim da estação e ainda houve quem fosse apanhado de surpresa com o fecho.
“Umas não sabem, outras pensam que é provisório, mas é quase toda a gente contra. Ainda não apanhei ninguém que estivesse a favor do fim da estação”, notou.
Habitante de Montemor-o-Velho, António usava o comboio diariamente e admitiu que lhe custa ver “uma estação que servia tanta gente a encerrar”.
Maria Vieira, de 78 anos, decidiu ir ao velório marcado para a tarde de hoje para protestar contra o fim da estação, que usava, sobretudo, para ir até à Figueira da Foz.
“Vai fazer bastante falta. Fecham tudo, estragam tudo o que é bom. É um monumento bem bonito, mas o que é que é que se há de fazer? É o que temos”, desabafou.
No final do protesto, já na Estação Nova, Luísa Silva, da União dos Sindicatos de Coimbra, desafiou todos os presentes a apanharem o último comboio, na noite de sábado para domingo, deixando também o desafio ao presidente da Câmara, José Manuel Silva, para estar presente.
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