Falando aos jornalistas após entregar, no Palácio de Justiça, as listas de candidatos a deputados à Assembleia da República pelo círculo de Lisboa, Duarte Cordeiro foi questionado sobre o repto lançado por Rui Rio ao PS no 39.º Congresso do PSD, que decorreu este fim de semana em Santa Maria da Feira (Aveiro), para assumir se viabilizará um Governo social-democrata após as eleições legislativas de 30 de janeiro.
O presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS, que é também secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, deu o exemplo da formação do Governo Regional dos Açores, de coligação PSD-CDS-PPM e com acordos de incidência parlamentar com o Chega e a Iniciativa Liberal, para criticar a “enorme incoerência nas palavras de Rui Rio”, que “diz uma coisa e faz outra”.
“Se o doutor Rui Rio fosse coerente e não merecesse desconfiança aquilo que nos diz, quando tivemos as eleições dos Açores, nós verificámos uma coisa: quem ganhou as eleições foi o PS e, no entanto, não viabilizou um Governo do PS, o que fez foi construir uma coligação com o Chega”, lembrou.
Duarte Cordeiro reiterou que “há uma diferença grande” entre o que Rui Rio “diz que faz e aquilo que verdadeiramente faz”, considerando que o PS tem “todo o direito para desconfiar” do líder social-democrata, “porque quando teve a oportunidade para fazer aquilo que agora propôs, ele não fez isso, o que fez foi uma coligação com o Chega”.
Reagindo às decisões adotadas no 39.º Congresso do PSD, o também secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares salientou que não ouviu “nenhuma proposta sobre nada aquilo que interessa para a vida dos portugueses”.
Recorrendo a um dos ‘slogans’ utilizados em Santa Maria da Feira – “Portugal ao Centro” - Duarte Cordeiro concluiu por isso que não se assistiu a “Portugal ao centro”, mas a “Portugal ao lado”.
O líder da FAUL do PS sublinhou ainda que, durante os três dias da reunião magna do PSD, testemunhou um “regresso do PSD de Passos Coelho”, com discursos de “protagonistas do tempo” do ex-primeiro-ministro e “alguma insensibilidade” no discurso de encerramento de Rui Rio.
“Rui Rio teve um objetivo único que foi criar alguma afinidade com alguns partidos, nomeadamente com o Chega, (…) e, portanto, essa insensibilidade, a recuperação de alguns rostos do passado, só nos faz lembrar uma coisa: a direita de Passos Coelho”, sustentou.
Em contraponto, Duarte Cordeiro disse que o PS “faz um contraste muito grande com este PSD” e “António Costa faz um contraste muito grande com Rui Rio”.
Questionado se, ainda assim, o PS viabilizaria um Governo do PSD, Duarte Cordeiro repetiu, à semelhança do que têm feito outros quadros socialistas, que o PS considera que “o que é preciso para os próximos quatro anos é um Governo de estabilidade” e não “propostas que propõem instabilidade” ou “soluções que, no fundo, resolvem um problema a dois anos no país”, em referência ao facto de Rui Rio ter afirmado que estaria disponível para viabilizar um Governo socialista durante, pelo menos, meia legislatura.
“Não é isso que nós pretendemos: nós pretendemos ganhar estas eleições para oferecer estabilidade aos portugueses, queremos um Governo estável para quatro anos, que permita governar e que dê tranquilidade às pessoas”, indicou.
Apesar disso, Duarte Cordeiro não rejeitou um diálogo com o PSD após o dia 30 de janeiro, afirmando que o “PS sempre dialogou com todos os partidos nos últimos quatro anos”.
“Nós tivemos a oportunidade de dialogar com os partidos à nossa esquerda, viabilizámos orçamentos, tivemos reformas importantes que fizemos com os partidos à nossa esquerda, e também dialogámos com o doutor Rui Rio e com alguns dos partidos à nossa direita em algumas das propostas na Assembleia da República”, recordou.
No entanto, o líder da FAUL do PS reiterou que, neste momento, a escolha que o país tem pela frente é se quer ou não “um Governo para quatro anos de estabilidade”.
“Os portugueses têm uma oportunidade para decidir e devem tomar essa decisão: querem o doutor António Costa como primeiro-ministro a governar um Governo novo para quatro anos com estabilidade, ou querem instabilidade?”, inquiriu.
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