O plano de retoma das operações da transportadora aérea foi conhecido na segunda-feira e prevê 27 voos semanais até ao final de junho e 247 no mês seguinte, sendo a maioria de Lisboa.
Este plano levantou desde logo controvérsia pois estão previstos apenas três voos entre Porto e Lisboa para o mês de junho.
No entender do secretário-geral-adjunto do PS, José Luís Carneiro, esta "a decisão da comissão executiva da TAP lesa o interesse nacional", adiantando na conferência de imprensa organizada na sede do partido que "decidir reduzir o número de voos e de destinos, colocando em causa pontos de partida e pontos de chegada relevantes para a economia nacional" pode colocar em causa os objetivos estratégicos definidos para a companhia de bandeira do Estado português.
Considerando a TAP um "instrumento de primeira ordem" do "setor do turismo", considerado "vital" para a recuperação da economia em fase pós-covid, José Luís Carneiro recordou que "se os portugueses estão a ser chamados a assumirem maiores responsabilidades financeiras na companhia aérea", tal apenas poderá acontecer "se a companhia assumir a sua condição de elemento estratégico do país, útil a todo o território nacional.”
"Para o continuar a ser, a TAP tem de estar alinhada com o interesse estratégico do Estado português. Este anúncio da comissão executiva coloca em causa esse objetivo estratégico e o suporte da decisão política de o Estado ter uma parceria com esta companhia logo que assumiu funções", afirmou.
"A TAP, se recorre aos apoios públicos, tem que estar alinhada com os interesses do Estado português", sublinhou, lembrando que a empresa "serve a economia nacional, a unidade do país, o desenvolvimento regional e a coesão", para além de ser "um fator relevante da soberania nacional" e um instrumento fundamental para "a diáspora portuguesa em todos os continentes".
“A 7 de maio interpelámos a TAP sobre as hipóteses da redução do número de voos e de destinos, foi nos garantido que não se previa alterações de significado. Ora, a comissão executiva da empresa comunicou hoje a redução de voos e de destinos, o que significa, para o Partido Socialista, colocar em causa todos os valores acima referidos”, lamentou o dirigente.
"O PS interpela a TAP a corrigir o plano de rotas aéreas tornado público, tendo em vista corresponder aos legítimos interesses nacionais e regionais em apreço", desafiou.
Questionado sobre o futuro da TAP, José Luís Carneiro remeteu essa análise para o Governo e preferiu instar a companhia a corrigir a decisão de "redução de voos e destinos".
O antigo autarca e secretário de Estado das Comunidades escusou-se a dizer se o PS defende a nacionalização da TAP, reiterando que a decisão hoje anunciada "contraria valores essenciais" para os socialistas e que justificaram o reforço da posição estatal em 2015.
"Vamos aguardar pelo modo como quer o conselho de administração quer a comissão executiva reagem a esta interpelação que lhes está a ser feita não só pelo PS, mas por muitas forças vivas da sociedade civil portuguesa e por muitas das instituições que cuidam do desenvolvimento do país", disse.
A reação oficial do PS soma-se assim à do PS/Porto, que, pela voz do presidente da Federação Distrital do Porto do PS, Manuel Pizarro, afirmou que “a estratégia da TAP para a retoma da atividade, quase deixando de fora o Aeroporto do Porto, é um insulto ao Norte de Portugal", pedindo ainda ao Governo para não ignorar “a marginalização do Porto e do Norte, arquitetada pela gestão privada da TAP”.
Também Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, emitiu uma reação pública a este plano, acusando a TAP de impor "confinamento ao Porto e Norte" e de “abandonar o país” neste momento de pandemia em que Portugal “mais precisa” da transportadora aérea.
“Não podemos aceitar esta situação. Se o Governo entender apoiar a TAP, só tem uma forma de o fazer, é exigir que a TAP retome, no momento em que retomar os voos, a mesma percentagem entre Lisboa, entre o Porto, entre Faro, entre a Madeira e os Açores”, sublinhou o autarca.
Questionado se o PS acompanha as críticas hoje feitas por estes autarcas, o dirigente socialista considerou que no plano previsto pela TAP "não está apenas em causa a Região Norte".
"Está também em causa todo o Algarve, a Região Autónoma da Madeira e pode estar em causa também a dos Açores. O que está em causa com este plano de voos e de destinos é o alicerce do que é visão do interesse nacional para o PS", salientou.
Ao longo deste mês e à medida que foram levantadas algumas das restrições impostas às companhias aéreas, a TAP foi adicionando voos, nomeadamente para Londres e Paris, entre Porto e Lisboa, dois voos por semana para São Paulo e um voo semanal para o Rio de Janeiro, sendo que, com isso, a operação da TAP no final do mês de maio será de 18 voos por semana.
Em junho, de acordo com o mesmo plano, a companhia aérea planeia voltar a operar mais voos intercontinentais, incluindo dois por semana para Nova Iorque (Newark), um para Luanda, a partir de dia 15, e outro para Maputo. Em Portugal, as ligações entre Lisboa e a Madeira passarão a ser diárias, sendo que no final de junho a TAP contará com 27 voos semanais.
Em julho, o plano da companhia aérea aponta para 247 voos por semana, com um reforço das redes europeia e intercontinental, um valor de perto de 19% da sua operação normal, que chegava aos três mil voos semanais antes da pandemia.
A transportadora aérea tem a sua operação praticamente parada desde o início da pandemia, à imagem do que aconteceu com as restantes companhias, prejudicadas pelo confinamento e pelo encerramento de fronteiras para conter a covid-19.
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