“A realidade é simples: a TAP está a tentar impor um confinamento ao Porto e Norte e fá-lo na senda daquilo que tem sido a sua história. A TAP nunca perdeu o vínculo de ser uma empresa de caráter colonial e a sua estrutura nunca pensou de outra maneira”, afirmou Rui Moreira, em conferência de imprensa, na Maia, no distrito do Porto, na qual vários autarcas da região e o presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal anunciaram, numa posição pública conjunta, que vão pedir a intervenção do Governo na TAP, cujo plano de retoma prevê para junho apenas três voos entre Porto e Lisboa.
Ao lado do presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP) e dos presidentes de Câmara Municipal da Maia, Viana do Castelo e Vila Real, Rui Moreira pediu ao Governo e aos governantes que demonstrem “unidade nacional”, lembrando que a região Norte foi “particularmente fustigada pelo novo coronavírus, “exatamente porque é uma região aberta”, porque as empresas continuaram a “funcionar, porque exporta” e “porque trabalha”.
“Se querem dar uma ajuda apenas para uma companhia de caráter regional, façam o favor e incorporem a TAP na Carris e façam o que quiserem. Não façam é de nós tontos, não façam, por favor, de nós loucos, porque esta região (…) foi aquela que mais contribuiu para o crescimento de produtividade nacional”, disse, afirmando que o Norte não aceita a nova estratégia da TAP para a retoma da sua atividade.
“Não podemos aceitar esta situação. Se o Governo entender apoiar a TAP, só tem uma forma de o fazer, é exigir que a TAP retome, no momento em que retomar os voos, a mesma percentagem entre Lisboa, entre o Porto, entre Faro, entre a Madeira e os Açores”, sublinhou.
Rui Moreira acrescentou que, no caso da TAP, o Governo tem uma "responsabilidade acrescida”, porque decidiu retomar a “paridade no capital da TAP”, revertendo uma decisão que tinha sido tomada anteriormente.
“O Governo tem de decidir mesmo. Das duas uma: ou [a TAP] é uma empresa privada que não serve o país, e então tem de encontrar meios de mobilizar financiamento onde quiser, ou é uma empresa participada pelo Governo, em que o Governo vai ter de lhe dar provavelmente mil milhões e então vai ter de ser tomada como um ativo estratégico nacional”, acrescentou.
Rui Moreira considerou que a “TAP não é nem carne, nem peixe” e acusou a transportadora aérea de estar no Aeroporto Sá Carneiro “por oportunismo” e não “por estratégia”, e que agora, num momento em que se encontra numa “situação de debilidade” e “na altura em que o país mais precisa, a TAP abandona o país.
“Porque estar só em Lisboa representa abandonar o país. Porque abandona Faro, e abandona o Funchal, e abandona os Açores e abandona o Norte. Esta é a realidade”, disse o independente.
O presidente da Câmara do Porto disse que “a TAP é uma empresa privada quando quer tomar decisões e é uma empresa pública quando quer que os portugueses paguem os seus vícios, vícios esses criados não apenas em Portugal, mas também na operação ruinosa do Brasil”, que “levou a TAP à situação atual”.
Os pedidos para o Governo intervir na TAP alargaram-se no decorrer da conferência de imprensa, pelas vozes dos presidentes das câmaras da Maia, Silva Tiago, Viana do Castelo, José Maria Costa, Vila Real, Rui Santos, e do presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), Luís Pedro Martins.
“Acho que o senhor primeiro-ministro deve intervir neste processo. Já o fez há umas semanas quando veio ao Porto andar de metro e disse, claramente, que a TAP e o aeroporto estavam unidos e estavam numa comunhão frutuosa e, portanto, eu espero que ele intervenha e que ponha ordem nesta desordem que é concomitante com uma crise sanitária que nos avassala a todos”, declarou o social-democrata Silva Tiago.
Também o presidente de Vila Real, Rui Santos, lembrou que o Aeroporto Sá Carneiro é uma “porta de entrada no Norte da Península Ibérica com impacto muitíssimo importante na atividade turística e económica na Área Metropolitana do Porto, Galiza, Interior Norte e Douro” , criticando a TAP por se dar ao “desplante de ignorar uma parte tão significativa do país” e lembrando que 50% dos acionistas representam o povo português.
“Importa agora instar o Governo de Portugal e em particular o seu primeiro-ministro a não ceder um milímetro na defesa nos melhores interesses da região Norte de Portugal e da Península Ibérica, impedindo mais um erro clamoroso do Conselho de Administração da TAP”, disse o socialista Rui Santos.
o autarca socialista de Viana do Castelo, por seu turno, disse que esperava que “o bom senso voltasse” às decisões e que o Governo continuasse a pensar “que a TAP é uma companhia para todo o Portugal”.
O presidente da TPNP criticou a TAP por ter anunciado apenas três voos semanais Porto/Lisboa dos 27 anunciados para junho, considerando que se trata de “uma humilhação para a região Norte” e para Portugal.
“Em vésperas de uma intervenção pública anunciada, após recentes discussões, tomadas de posições de entidades públicas, dos autarcas, dos partidos, do Governo, esta atitude da TAP é absolutamente inadmissível e é mesmo uma humilhação para a região Norte, uma humilhação para o país”, afirmou Luís Pedro Martins.
Para o presidente da TPNP, a TAP só tem sentido enquanto “companhia bandeira, enquanto agregadora de todas as regiões do país, enquanto empresa que presta um serviço a todo o país”.
“O contrário não faz sentido nenhum e desaguará numa autofagia totalmente incompreensível”, concluiu.
A TAP publicou na segunda-feira o seu plano de voo para os próximos dois meses, que implica 27 ligações semanais em junho e 247 em julho, sendo a maioria de Lisboa.
No seu ‘site’, a companhia aérea avisa que as rotas podem vir a ser alteradas caso as circunstâncias o exijam.
A TAP tem a sua operação praticamente parada desde o início da pandemia, à imagem do que aconteceu com as restantes companhias aéreas, prejudicadas pelo confinamento e pelo encerramento de fronteiras apara conter a covid-19.
(Notícia atualizada às 14:52)
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