“Lamento que o PS se junte às vozes da direita numa condenação sem julgamento; isso é um ato ignóbil. Mesmo na questão do Manuel Pinho (ex-ministro da Economia), o PS não se comportou como devia”, argumenta ao ex-líder socialista.
Na entrevista à Visão, que irá para as bancadas na quinta-feira, Sócrates volta a justificar a sua desfiliação do PS com a necessidade de evitar um “embaraço mútuo”, mas vai mais longe e diz não admitir certo tipo de declarações a camaradas seus.
“Não admito esse tipo de declarações a camaradas meus e tínhamos de acabar com esse embaraço mútuo”, acentua o ex-secretário-geral do PS numa entrevista de seis páginas.
Em vésperas do 22.º Congresso Nacional do PS e menos de um mês depois de se ter desfiliado, José Sócrates admite que o mal-estar com o partido já vinha de trás.
“É sabido que eu tinha um incómodo com o PS, que este se devia ao facto de o PS, com o seu silêncio, ser, de certa forma, cúmplice de todos os abusos cometidos contra mim: a detenção para interrogatório, a prisão para investigação, a campanha de difamação baseada na violação do segredo de justiça. E o silêncio embaraçante que permitiu que um juiz assumisse, numa entrevista, uma posição de completa parcialidade”, sublinha.
E José Sócrates continua: “E, sim, o mal-estar já vinha de antes. O PS foi cúmplice desses abusos. Tive essa consciência, mas nada disse. Eu próprio recomendei a distância. Só que este processo é excecional, teve uma motivação exclusivamente política. Teve e tem”, acusa.
Questionado sobre a sua relação com o atual secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, José Sócrates responde: “Está como há quatro anos: não existe”.
Colocada a questão se a visita que Costa lhe fez na prisão de Évora foi “uma encenação”, José Sócrates reage com exaltação e com perguntas e exclamações “como pode pensar isso”, “está a perguntar mal” ou “presume mal”.
“Desculpe lá! Presume mal! A minha relação com António Costa não existe, mas não pode dizer que a visita foi um gesto de hipocrisia! Permitir-se insinuar isso é obsceno! Eu tinha uma relação política e pessoal que estes anos extinguiram! É só isto!”, conclui o ex-chefe do Governo.
José Sócrates, único líder do PS a conseguir uma maioria absoluta, anunciou a sua desfiliação no passado dia 04 num artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias.
Foi primeiro-ministro entre 2005 e 2011 e enfrenta agora, tal como outros arguidos, acusações do Ministério Público de diversos crimes económico-financeiros, nomeadamente de corrupção, no âmbito de diversos processos judiciais, tendo estado detido preventivamente entre 2014 e 2015.
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