“Tenho expressado (…) a nossa apreensão perante aqueles que querem resguardar-se nos números, escondendo a realidade palpável que, todos os dias, os cidadãos, as empresas e as instituições sentem”, disse Luís Montenegro, em Ansião, no distrito de Leiria, onde está no âmbito do programa “Sentir Portugal”.

O líder social-democrata comentava a diminuição de 0,6% em termos reais do salário bruto total mensal médio em Portugal no primeiro trimestre, face ao mesmo período de 2022, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

“A mim não me admira que os números possam, no fundo, confirmar aquilo que eu vejo no terreno. Mas, sinceramente, nós estaremos a falar de décimas para trás ou de décimas para a frente quando aquilo que importa é que, num plano geral, os cidadãos portugueses estão a perder poder de compra, estão cada vez a ficar mais afunilados do ponto de vista do rendimento, ganhando ou o salário mínimo nacional ou pouco acima do salário mínimo nacional”, referiu.

Para Luís Montenegro, Portugal tem uma “economia que não está a dar, do ponto de vista do rendimento, às pessoas um nível salarial elevado e, pelo contrário, está quase que a sugar toda a gente para o patamar mais baixo de rendimento”.

“Isso é uma preocupação e é um desafio enorme que Portugal tem de vencer nos próximos anos”, sob pena de o país continuar a ter, “todos os anos, dezenas de milhares de jovens a saírem de Portugal”, depois de estarem qualificados, adiantou.

Segundo o líder social-democrata, “o facto de haver menos qualificação, o facto de haver mais baixos salários, faz com que as empresas não consigam ganhos de produtividade e de competitividade”.

“Não tendo esses ganhos, não conseguem criar riqueza, não conseguindo criar riqueza, não conseguem pagar bons salários e andamos neste ciclo que é um ciclo de estagnação económica, que é o que tem marcado os últimos anos em Portugal, é de estagnação económica e de empobrecimento das pessoas”, acrescentou.

O salário bruto total mensal médio em Portugal diminuiu 0,6% em termos reais no primeiro trimestre, face ao mesmo período de 2022, sendo que apenas o setor privado registou acréscimos reais nas remunerações, divulgou hoje o INE.

“Em termos reais, tendo por referência a variação do Índice de Preços do Consumidor, a remuneração bruta total mensal média diminuiu 0,6%, assim como a sua componente regular [que exclui subsídios de férias e Natal, sendo, portanto menos sazonal], enquanto a componente base diminuiu 0,4%”, apontam os dados INE

Estes resultados abrangem 4,5 milhões de postos de trabalho, correspondentes a beneficiários da Segurança Social e a subscritores da Caixa Geral de Aposentações, mais 4,2% do que no mesmo período de 2022.