“No PSD divergimos muitas vezes de Mário Soares: não levem a mal que diga, com carinho cívico e político, que divergimos até ao fim, aos últimos escritos e intervenções. Mas nunca nos separámos dele no ponto fulcral do seu combate, defender a democracia e evitar qualquer tipo de ditadura e o primado do poder politico sobre o económico”, afirmou o líder da bancada social-democrata, Luís Montenegro, na sessão evocativa do antigo Presidente da República.
Numa intervenção em que preferiu destacar as convergências que uniram os sociais-democratas a Mário Soares, o líder da bancada do PSD resumiu o contributo do antigo chefe de Estado e de Governo lendo o primeiro artigo da Constituição da República Portuguesa.
“Em escassas 26 palavras se resume com soberba simplicidade um projeto político enorme, a nação portuguesa, foi esse projeto que mobilizou Mário no combate à ditadura, aos fascismo e também em 74 e 75 quando combateu o fanatismo ideológico que alguns desejavam e foi ainda esse projeto de democracia e desenvolvimento que o mobilizou quando pugnou pela abertura e adesão ao projeto europeu”, disse.
“Só os incautos e muito desatentos podem desdenhar este papel”, alertou, salientando o reconhecimento além-fronteiras da importância de Mário Soares.
Montenegro deixou ainda um elogio à democracia portuguesa no seu conjunto, lembrando que o país já conseguiu, em apenas 40 anos, eleger um presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e um secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
“Em 40 anos quantos grandes políticos passaram por todas estas bancadas. No Portugal de Mário Soares há nobreza na política e há políticos de excelência em todos os quadrantes partidários”, destacou.
Já o CDS-PP sublinhou o papel histórico que Mário Soares desempenhou em Portugal “pelo menos no último meio século”, mas fez questão de manifestar a sua discordância com a forma como foi conduzido o processo de descolonização pelo então primeiro-ministro.
“O CDS, neste momento de justa e merecida homenagem, não pode deixar de recordar a nossa discordância com um processo de descolonização apelidado por muitos de exemplar mas que, a nosso ver, foi apressado e trouxe sofrimento a milhares de portugueses”, salientou o líder parlamentar Nuno Magalhães.
O presidente da bancada democrata-cristã destacou ainda “as visões diferentes para Portugal em 1976” em relação a Mário Soares, quando a bancada do CDS foi a única a votar contra “uma Constituição que preconizava o caminho para o socialismo”.
“Mais recentemente, continuámos a ter opiniões diferentes quando o país foi forçado a um resgate financeiro que nunca desejámos ou contribuímos mas que ajudámos a cumprir e assim a recuperar a soberania nacional plena”, acrescentou.
Para Nuno Magalhães, uma “homenagem respeitosa” a Mário Soares implica assumir “com frontalidade” estas divergências.
“As divergências que tivemos enquanto partido não ofuscam em nada o respeito e a consideração pelas suas qualidades indiscutíveis”, reforçou.
Considerando que Mário Soares “personifica grande parte da História do Portugal contemporâneo”, a bancada do CDS destacou, pela positiva, “o contributo decisivo” que teve na construção de um Estado social e um Portugal democrático, a oposição ao Estado Novo e o “papel determinante” na Revolução de 1974 e no 25 de Novembro.
“Se Portugal não se transformou então numa ditadura em muito se deve ao Dr. Mário Soares”, disse, frisando ainda o papel do antigo chefe de Governo e de Estado na adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia.
Mário Soares morreu no sábado, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, cumprindo-se hoje o último dos três dias de luto nacional decretados pelo Governo.
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