Em declarações à Lusa, durante uma visita ao concelho da Figueira da Foz, o mais afetado pela tempestade de 13 e 14 de outubro, a deputada social-democrata Fátima Ramos classificou a situação como "bastante grave" quase três meses após o temporal, argumentando que um conjunto alargado de instituições, algumas com estatuto de utilidade pública, continua "sem telhado" e sem resposta de organismos oficiais.
"Qualquer casa sem telhado significa que a chuva cai e destrói, cada mês que passa é mais destruição, é mais prejuízo e, por outro lado, é mais incerteza. Incerteza para pessoas que trabalham sem ganhar dinheiro, que são a alma das suas terras e é confrangedor ver que estas pessoas continuam sem ter resposta", assinalou a deputada do PSD.
Fátima Ramos, acompanhada dos também deputados Maurício Marques e Ana Oliveira, visitou hoje diversas associações e clubes da Figueira da Foz, nas freguesias de Vila Verde, Tavarede, Buarcos e São Julião e São Pedro, que, no total, sofreram prejuízos que ascendem a mais de meio milhão de euros.
"Fizemos uma série de perguntas ao Governo [sobre os apoios] e obtivemos várias respostas na área da segurança social, saúde ou agricultura, mas continuamos sem ter resposta sobre as coletividades e associações culturais e desportivas. Embora numa fase inicial parecesse que estavam enquadradas [nas medidas definidas numa resolução do Conselho de Ministros], depois falta a resposta sobre qual a entidade que vai avaliar e atribuir o apoio para estas instituições", sustentou Fátima Ramos.
Ana Oliveira, por seu turno, lembrou que o Governo "foi célere" na resposta aos efeitos da tempestade Leslie mas subsistem dúvidas sobre os prazos de aplicação das medidas: "As pessoas não sabem quando é que isto [o apoio] vai acontecer", reforçou.
Já Maurício Marques afirmou que no terreno e junto das agremiações subsistem informações "contraditórias" sobre a forma como as medidas serão operacionalizadas, desde logo devido a informações avançadas pela Câmara Municipal que os social-democratas querem ver esclarecidas.
O deputado, que é também líder distrital do PSD, afirmou que na freguesia de Vila Verde - onde um clube local, o Grupo Recreativo Vilaverdense, sofreu prejuízos estimados em 100 mil euros - "foi dito que a autarquia se comprometeu a avançar com os 70% que cabiam à administração central sem qualquer reserva, apoiar com mais 20% e os restantes 10% do prejuízo ficariam a cargo da própria instituição afetada".
Mas em Buarcos, no Grupo Caras Direitas, que contabiliza quase 300 mil euros de danos e cujo pavilhão desportivo ficou praticamente destruído - com buracos no telhado e o piso em madeira, por ação da chuva que entretanto caiu, mais se assemelha a uma pista de obstáculos - a informação recolhida pelo PSD aponta para que os 70% de adiantamento autárquico seja concedido, mas só após a candidatura ser aprovada pelo Governo, explicou Maurício Marques.
"Sabe-se que as candidaturas estão limitadas a um máximo de 100 mil euros, mas não se sabe quando abrem nem quem é responsável pelo apoio", acrescentou.
"Aquilo que estamos a ver é que estas coletividades não têm, só por si, capacidade para fazer face aos prejuízos causados. E se não houver apoio, quer da autarquia, quer do Estado, obviamente vamos ter aqui situações que se vão prolongar ao longo de muitos anos", avisou o deputado do PSD.
Maurício Marques ironizou ainda com uma alegada "coerência" do Governo, na comparação entre as medidas anunciadas para fazer face aos prejuízos da tempestade Leslie com os apoios aos danos causados pelos incêndios de junho e outubro de 2017.
"O Governo aqui está a ser coerente quando anunciou um tratamento igual aos dos incêndios. Ou seja, um ano e meio depois, no caso de Pedrógão, há situações que ainda não estão resolvidas e mais de um ano depois daquilo que aconteceu em outubro também não estão resolvidas. Provavelmente aqui no Leslie ainda vai ser mais", frisou Maurício Marques.
O concelho da Figueira da Foz, no distrito de Coimbra, foi o mais afetado pela passagem da tempestade Leslie, contabilizando prejuízos de 38 milhões de euros, cerca de um terço dos prejuízos totais, estimados em 120 milhões de euros.
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