O candidato fez um discurso de 40 minutos, dirigido aos militantes, mas também a todos os portugueses, numa sala decorada e com luzes laranja, num espaço junto ao Tejo, em Lisboa, em que falou de tudo, com críticas à estratégia do líder, Rui Rio, ao Governo, passando pela situação mundial e na União Europeia.

O social-democrata revelou que, se for eleito, nas diretas de janeiro de 2020, uma das suas primeiras propostas é de política fiscal e prevê uma baixa de impostos para “impulsionar o crescimento da economia, desafogar a classe média, aumentar os rendimentos das famílias, contribuir para melhorar salários e pensões”.

Luís Montenegro, o ex-líder parlamentar do PSD durante o tempo do Governo PSD/CDS-PP, prometeu uma “redução gradual faseada ao nível do IRS e IRC” e a simplificação do regime do IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado), de “fusão da taxa intermédia e mais elevada”, que estimou não ser “superior a 20%”.

Internamente, falando para o partido e sobre a sua estratégia, o antigo líder parlamentar disse que quer "devolver o 'D' ao PSD", o que causou sorrisos e palmas na sala, porque "o país já tem PS a mais", o "Estado já tem PS a mais" e não precisa de ter um "PSD subalterno ao PS".

O 'D' do PSD representa, segundo afirmou, o 'D' da "democracia, da diferença, da dignidade, desenvolvimento, dinamismo, disrupção".

No seu discurso, apontou ao Governo do PS de António Costa, que acusou de ser primeiro-ministro de um país “do poucochinho” por dizer que Portugal está a convergir com a União Europeia, mas que tem “20 países à frente” em termos de indicadores económicos.

O resultado é que o Governo “passou a viver da herança [dos resultados] do Governo do dr. Pedro Passos Coelho”, afirmou, arrancando uma salva de palmas dos apoiantes, entre eles muitos ex-deputados do 'passismo', como Carlos Abreu Amorim, Teresa Morais, Paula Teixeira da Cruz ou a antiga ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque.

Mais uma vez, recusou que o partido, sob a sua liderança, venha a ser “a bengala suplente do PS” quando falham os apoios da esquerda, BE e PCP, para “caucionar mais ou menos discretamente as habilidades deste Governo”.

E deu o exemplo dos acordos entre a direção do PSD de Rui Rio, sobre fundos europeus e descentralização, que, segundo disse, serviram para ajudar a “simular a moderação e o recentramento” do PS quando ainda era apoiado pelos partidos de esquerda, na anterior legislatura.

O novo Governo de António Costa é "grande" em número de ministros e secretários de Estado, com "promessas e banalidades a mais" e com resultados que "são perigosamente pequenos", numa altura em que "as pessoas e as empresas" vivem "atulhados em impostos".

Montenegro quer partido a ganhar as eleições autárquicas de 2021

O candidato à liderança do PSD apontou hoje como objetivo o partido vencer as próximas eleições autárquicas, em 2021, a começar pela Câmara de Lisboa.

Na apresentação da sua candidatura, em Lisboa, Luís Montenegro afirmou que, “neste novo ciclo” político, o seu objetivo é o partido “liderar o poder local”, “ganhar a maioria das câmaras, a começar pela Câmara Municipal de Lisboa”.

As eleições autárquicas, afirmou, é uma prioridade para a sua liderança, se ganhar as diretas de janeiro de 2020, e será ele próprio, enquanto líder, a coordenar o processo autárquico, ao contrário do que tem acontecido noutras eleições, em que esse papel é desempenhado pelos secretários-gerais, por exemplo.

“Sei bem o que quero para voltar a ganhar em Lisboa. Sei bem qual a estratégia e protagonistas”, disse, sem adiantar mais pormenores.

Nas autárquicas de outubro de 2017, o PSD teve o seu pior resultado de sempre em eleições locais, ganhando em 98 municípios, em listas próprias e com outros partidos. As eleiçõs foram ganhas pelo PS, que conquistou 161 câmaras, duas das quais em coligação.

Além das eleições autárquicas, Luís Montenegro quer vencer as próximas legislativas, e não "ganhar nas sondagens ou nas expetativas" e "ficar à espera" que os portugueses se virem para o PSD "quando as dificuldades apertarem".

Por quatro vezes, e um mês depois da derrota do PSD de Rui Rio nas legislativas de 06 de outubro, Luís Montenegro falou na necesidade de ganhar eleições.

"Não chega proclamar vitórias morais para disfarçar derrotas abissais", afirmou, numa indireta a Rio, que desdramatizou os resultados dos sociais-democratas nas eleições de outubro.

Sem nunca referir diretamente o nome de Rui Rio, o antigo líder parlamentar criticou a forma como a direção geriu o partido nos últimos anos, com divisões que não são aceitáveis, entre "os bons e os maus", os "puros e impuros", os "desejados e discriminados", criticando que quem, dentro do partido, "pensava pela sua própria cabeça era dispensado".

E prometeu que, consigo na liderança, o PSD "vai voltar a ser o que sempre foi", "abrangente", onde a "unidade se constrói na ação e não no conflito", exemplo do que disse ter feito quando dirigiu o grupo parlamentar na Assembleia da República.

Montenegro teve a seu lado o ex-líder do partido e ex-ministro Rui Machete, a militante n.º 2 do PSD, Conceição Monteiro, e ex-deputados como Hugo Soares, o presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, Nuno Serra ou Amadeu Albergaria.

A sala estava decorada em tons laranja, cor do partido, com imagens de todos os líderes que foram primeiros-ministros, de Sá Carneiro, Carlos Mota Pinto, Pinto Balsemão, Cavaco Silva, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e Pedro Passos Coelho.

As eleições diretas para a escolha do presidente do PSD foram agendadas para 11 de janeiro e congresso nacional realiza-se entre 07 e 09 de fevereiro, em Viana do Castelo.

Até ao momento, há três candidatos: Rui Rio, o atual presidente; Luís Montenegro, ex-líder parlamentar; e Miguel Pinto Luz, vice-presidente da câmara de Cascais, distrito de Lisboa, e que apresenta formalmente a sua candidatura no dia 18 de novembro.

(Artigo atualizado às 20:45)