Em declarações aos jornalistas depois de ter falado aos conselheiros nacionais, o vice-presidente da Câmara de Cascais propôs ainda que, no futuro, os presidentes do PSD voltem a ser eleitos em Congresso, acabando com o modelo de eleições diretas.
Questionado se está disponível para voltar a ser candidato à liderança – disputou o cargo em 2020 com Luís Montenegro e Rui Rio, ficando-se pela primeira volta com cerca de 9,5% dos votos – Miguel Pinto Luz diz “não ser tempo de caras nem de rostos”.
“Não quero discutir nomes, não é altura de discutir nomes. Esse é um erro que não podemos trilhar agora, temos de fazer uma reflexão e depois definir protagonistas para este novo ciclo”, afirmou.
O antigo líder da distrital de Lisboa defendeu que “o PSD tem hoje uma crise de projeto”, em parte devido à estratégia de Rui Rio de recentramento do partido.
“Temos de repensar aquilo que somos, temos de ter um congresso não eletivo, para discutir ideias, para fazer uma reforma estatutária, para que o próximo líder eleito saia reforçado, de um partido unido, reconstruído e preparado para o mundo de hoje”, afirmou.
Pinto Luz defendeu que, ao contrário de partidos como o Chega e IL, que são “ágeis” e funcionam “quase como ‘startup'”, o PSD “tem um modelo de Governo ultrapassado”.
Para o autarca social-democrata, esse congresso não eletivo poderia realizar-se “dentro de um mês e meio”, e as eleições diretas “no final de maio, princípio de junho”, com um segundo Congresso de entronização do líder em “final de junho, início de julho”.
“Temos quatro anos e nove meses para fazer as mudanças que já devíamos ter feito”, disse.
Questionado se apoiará a proposta já apresentada nesse sentido pelo líder da distrital de Faro, Cristóvão Faro, Pinto Luz respondeu afirmativamente, embora dizendo ainda não ter certeza de que esta será votada.
Para o futuro, o autarca defendeu que o PSD deve regressar aos congressos eletivos, considerando que “perdeu tração” desde que optou por diretas, abrir-se a personalidades que deixaram o partido ou de formações políticas como o CDS-PP ou Aliança.
Pinto Luz deixou ainda um alerta: “Não podemos permitir que António Costa faça uma regionalização encapotada, tem de haver um debate profundo e um referendo”, disse.
Na sua intervenção perante os conselheiros nacionais, Pinto Luz acentuou que “o PSD falhou sempre quando optou por escolher um nome em detrimento de uma missão e de um projeto de País”.
“E podemos voltar a dar uma triste imagem do nosso partido, se mantivermos o registo das últimas semanas. O nosso fado não é e não deve ser o de responsabilizar exclusivamente o líder pelas derrotas ou fracassos. Os líderes eleitos são legitimados. E por isso, Rui Rio: Quero dizer-lhe que eu não farei a si o que foi feito a Passos Coelho”, assegurou, deixando um “obrigado” ao ainda presidente do PSD pela sua dedicação.
Pinto Luz deixou ainda um recado direto ao atual vice-presidente Salvador Malheiro, que dias após as legislativas apontou Luís Montenegro como tendo das “melhores condições” para ser líder do PSD.
“Salvador: o que disseste, logo a seguir à derrota, o que fizeste (e tens feito) não envergonha só o presidente do partido. Envergonha esta sala, esta casa e os militantes do PSD que não são (nem querem ser) assim. O teu posicionamento fragiliza mais do que o líder do PSD, fragiliza a imagem de todo o partido”, criticou.
O Conselho Nacional do PSD está reunido para fazer a análise dos resultados das legislativas e debater o modo e o tempo da saída de Rui Rio da liderança do partido.
Na ordem de trabalhos da reunião, está a aprovação das contas do partido e, num segundo ponto, a “análise dos resultados das eleições legislativas e da situação política e decisão sobre processo eleitoral para os órgãos nacionais do partido”.
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