Na véspera de se assinalar o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, Daniel Sampaio afirmou à agência Lusa que todos os anos cerca de 900 pessoas se suicidam em Portugal, um número que disse não ser “muito alarmante comparando com outros países”, mas o “ponto importante” é que “muitas dessas mortes são evitáveis”.

“O suicídio tem quase sempre por trás uma perturbação mental, particularmente a depressão, e quando nós conseguimos detetar precocemente os sinais de depressão e tratarmos a depressão, estamos a fazer a prevenção do suicídio”, defendeu Daniel Sampaio, um dos rostos da campanha “Viva! Para lá da depressão”.

A campanha visa promover a saúde mental e quebrar o estigma associado à doença mental de uma forma positiva e diferenciadora, promovendo a literacia dos portugueses sobre o tema.

Para isso, defendeu ser “muito importante” haver consultas de psiquiatria “mais facilmente disponíveis” e “urgências de psiquiatria mais bem apetrechadas em números técnicos”, para se poder fazer o tratamento da depressão e, a partir daí, a prevenção do suicídio.

O especialista ressalvou que existem urgências de psiquiatria em todos os distritos do continente, nos Açores e na Madeira, mas assinalou que “não podem resolver tudo”, defendendo por isso que haver mais consultas de psiquiatria, psicologia e pedopsiquiatria no Serviço Nacional de Saúde “é uma prioridade nacional”.

Como ajudar alguém em risco?

A comunidade pode ter um papel relevante na prevenção do suicídio. É importante ter a consciência de que a maior parte das pessoas que se suicidaram avisaram antes e que, portanto, nunca deveremos menorizar um aviso de suicídio.

Todas as pessoas que tenham ideias de suicídio devem procurar apoio imediato e a família deve lutar por esse apoio. Recorde-se a necessidade de tratar a depressão, que é uma doença e não um estado de espírito — e é tratável. Existe uma urgência de psiquiatria com atendimento imediato em muitos locais e que em todos os distritos há um serviço de psiquiatria com consultas.

Caso tenha pensamentos suicidas ou conheça alguém que revela sinais de alarme, fale com o médico assistente. Se sentir que os impulsos estão fora de controlo, ligue 112.

Outros contactos:

SOS Voz Amiga
Lisboa (atendimento das 16 às 24h)

21 354 45 45
91 280 26 69
96 352 46 60

SOS Telefone Amigo
Coimbra
239 72 10 10

SOS Estudante
Coimbra
808 200 204

Escutar - Voz de Apoio
Gaia
22 550 60 70

Telefone da Amizade
Porto
22 832 35 35

A Nossa Âncora
Sintra
219 105 750
219 105 755

Departamento de Psiquiatria de Braga
Braga
253 676 055

Brochura do INEM
Ler aqui.

Alertou também para a importância dos cidadãos não se afastarem das pessoas que falam de suicídio, sublinhando que é preciso desmitificar a ideia de que quem fala de suicídio não o comete, porque “isso não é verdade”.

“A pessoa que está com ideias de suicídio sente que é única no mundo que ninguém a compreende que ninguém a ouve. E se tiver uma pessoa próxima que a escute, essa pessoa sente-se menos sozinha, menos desesperada. Portanto, é preciso dizer que devemos estar próximos das pessoas que falam de suicídio e devemos falar desse tema, embora seja um tema difícil”, reconheceu.

Daniel Sampaio disse ainda que as pessoas têm dificuldade em falar dos seus sintomas de depressão, porque ainda existe o estigma de ter uma perturbação mental.

Há ainda outra ideia errada que Daniel Sampaio disse ser preciso combater e que se prende com o facto de as pessoas pensarem que se falarem de suicídio com quem está a pensar cometer este ato, a pessoa suicida-se mais rapidamente, o que, vincou, “é exatamente o contrário”.

Vários estudos indicam que o número de tentativas de suicídio é cerca de 25 vezes superior ao número de suicídios, uma questão que o psiquiatra disse que deve ser tomada em linha de conta e valorizada, porque quem tentou fazê-lo tem mais probabilidade de se suicidar do que quem nunca tentou.

Há, contudo, pessoas que depois uma tentativa de suicídio conseguem organizar-se de forma diferente na relação consigo próprio e com os outros, sobretudo se tiverem acompanhamento psiquiátrico e psicológico, daí a importância de dar rapidamente uma resposta a quem sobreviveu ao suicídio ou quem está a pensar cometer este ato.

Em caso de necessidade, as pessoas podem contactar o 112, o Serviço de Aconselhamento Psicológico do SNS 24 (808 24 24 24), a Linha SOS Voz Amiga (213 544 545; 912 802 669; 963 524 660), Telefone da Amizade (222 080 707), Conversa Amiga (808 237 327, 210 027 159), Voz de Apoio (225 506 070) e Vozes Amigas de Esperança de Portugal (222 030 707).