Em nota enviada à agência Lusa, em Luanda, e que refere ser igualmente um "esclarecimento para o povo angolano", a empresa reage ao anúncio da administração do FSDEA, há uma semana, que admitiu receios na forma como a Quantum Global geria os investimentos da instituição, anunciado que a pretendia afastar da gestão dos seus ativos.
No comunicado, a Quantum Global refere que os investimentos - gere diretamente 3.000 dos 5.000 milhões de dólares de dotação do FSDEA - "estão intactos e devidamente justificados".
"A sociedade de investimento do FSDEA detalhou todos os fundos sob sua gestão, passado e presentes, para provar que todo o dinheiro do Fundo foi depositado em contas bancárias ou investidos em empresas em Angola e na África subsaariana, com criação de centenas de postos de trabalho, e geração de riqueza para as comunidades em todo o continente", afirma a empresa fundada e liderada por Jean-Claude Bastos de Morais.
O Presidente angolano, João Lourenço, exonerou a 10 de janeiro a administração do FSDEA, presidida por José Filomeno dos Santos, tendo nomeado Carlos Alberto Lopes para liderar a instituição.
As ligações entre José Filomeno dos Santos, filho do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, e o gestor com nacionalidade suíça e angolana têm sido alvo de críticas por parte da oposição angolana e de várias organizações que questionam os montantes envolvidos e a aplicação das verbas sob gestão da Quantum Global.
No comunicado de hoje, a Quantum admite "espanto" por o FSDEA "ter recorrido a processos judiciais" contra aquele grupo, "quando recebe atualizações regulares sobre as operações e sobre o valor do Fundo, que cresceram sob a administração da Quantum": "Em vez de lançar processos legais equivocados, a Quantum Global acredita que o FSDEA deve procurar uma solução negociável ou arbitragem em conformidade com os acordos contratuais".
A empresa vai mais longe, acusando a atual administração do FSDEA de, "ao continuar a recorrer aos procedimentos legais nas Ilhas Maurícias e no Reino Unido", estar "a destruir valor em seus próprios investimentos", com empresas em que foram feitos investimentos, em Angola, mas também no restante continente africano, que agora "não podem pagar salários ou aos principais fornecedores, cumprir obrigações contratuais para financiar a construção de novos prédios ou pagar impostos".
"Toda esta consequência negativa resultante da abordagem jurídica adotada pelo FSDEA irá resultar em prejuízos financeiros para o portfolio do FSDEA e para o povo angolano. Esta abordagem jurídica vai contra a missão da nova administração do FSDEA de proteger o valor dos investimentos existentes", alerta a nota da Quantum.
A empresa esclarece ainda que gerenciou historicamente dois tipos de investimentos para o FSDEA, o primeiro dos quais é um mandato "de dinheiro líquido", conhecido como mandato de classe de múltiplos ativos, com o qual "investe principalmente em ações e títulos listados". O segundo é um mandato de capital privado (private equity), com o qual investe, em representação do fundo, "em empresas privadas para crescimento a longo prazo", neste caso com 3.000 milhões de dólares investidos a partir das Ilhas Maurícias.
A 27 de abril, em comunicado enviado à Lusa através do Ministério das Finanças de Angola, o FSDEA assume ter "grandes preocupações sobre a forma como a Quantum Global investia os seus recursos", admitindo que "não está totalmente alinhada com os princípios segundo os quais foi criado este fundo soberano" ou com princípios de transparência.
"Estas preocupações do FSDEA são ainda reforçadas por revelações sobre a Quantum, no âmbito das investigações conhecidas como 'Paradise Papers', e pelas acusações criminais das autoridades da Suíça contra o senhor Jean-Claude Bastos, fundador da Quantum", lê-se no mesmo comunicado.
O fundo "está agora a trabalhar para garantir que os propósitos dignos e nobres subjacentes à criação do FSDEA sejam cumpridos. Nesse sentido, e com base em diligências periciais conduzidas por consultores internacionais especializados, o FSDEA está a tomar as medidas adequadas para remover a Quantum da condição de gestora dos seus ativos", conclui a mesma nota, sobre as diligências que decorrem atualmente nas Ilhas Maurícias, cujas autoridades financeiras suspenderam as licenças para operações daquela empresa no país.
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