Um artista em início de carreira sabe que está no bom caminho quando, ainda antes do seu primeiro álbum, abre uma tournée europeia para uma banda nomeada para dois Grammys.

A conquista tem um sabor especial quando essa banda se trata da sua “favorita no mundo inteiro”. É assim que Michael Marcagi se refere aos The Lumineers, para quem abriu o concerto desta noite no Meo Arena. Diretamente de Cincinatti, este midwest kid (que é também o título do seu último EP), trouxe o Ohio aos fãs de Lisboa, que o acolheram de braços abertos.

Claramente influenciado pela banda que admira, foi com uma sonoridade limpa e melódica que aqueceu os corações, e as vozes, de quem esperava a atração principal. Entre guitarras, que ia alternando, até banjo tocou, mas não foi só o instrumento que surpreendeu. Cantou um inesperado cover de “Déja Vu”, da cantora pop Olivia Rodrigo, que ficou surpreendentemente bom na sua voz, que nada tem a ver com a da jovem estrela.

Apesar de “Scared to Start” ser a música mais conhecida do artista, e talvez a que mais pessoas conheciam, foi “Follows You” que deixou os espectadores colados. Com um solo de harmónica, a diversidade de instrumentos e melodias nesta música tornou-a, facilmente, na melhor do concerto de Michael.

Ainda que com uma curta carreira, e poucas músicas virais em Portugal, conseguiu conquistar quem aqui, provavelmente, o ficou a conhecer.

Michael Marcagi no MEO Arena
Michael Marcagi no MEO Arena O cantor norte-americano atuou em Lisboa a 3 de maio de 2025. créditos: Meiline Silva | MadreMedia

Os The Lumineers, fundados por Wesley Schultz e Jeremiah Fraites em 2005, não desiludiram. Schultz mostrou o absurdo poder vocal que trazia logo na primeira música, e o resto da banda, a magia que fazem sentir quando tocam em uníssono.

Os Lumineers trouxeram a Lisboa o interior americano e rural, com um som que não é o da América dos arranha-céus e da confusão, mas sim das florestas e dos desfiladeiros

A tournée atual vem promover o novo álbum "Automatic", que saiu no Dia dos Namorados, pela Europa. Mas a setlist não estava dividida por eras, e foi variando entre músicas de 2009 a 2025. Logo no início, trouxeram um momento muito bonito com a música "Where We Are", que com um jogo de luzes e cenários de fazer o público viajar, parecia ter sido alinhada na perfeição com as expectativas criadas.

De tranças, boné e uma t-shirt dos AC/DC, Wesley Schultz não deixou ninguém indiferente com a voz que move montanhas. A expressão não é uma coincidência, porque é exatamente às montanhas que a banda nos leva. Os Lumineers trouxeram a Lisboa o interior americano e rural, com um som que não é o da América dos arranha-céus e da confusão, mas sim das florestas e dos desfiladeiros. Os coros e as harmonias, juntamente com a diversidade de instrumentos, fazem-nos sentir numa roadtrip por alguma interstate, com música alta, família e amigos.

São as melodias que tornam o som dos Lumineers tão especial, e a voz de Schultz, que tão bem conhecemos, é exatamente igual ao vivo. A perfomance de "A.M. Radio" foi um momento eletrizante, onde a energia partilhada pelo público gritava "felicidade".

A música "Donna" trouxe intimidade, e antecedeu o maior êxito da banda, "Ho Hey", que contou com um aplauso coletivo que durou minutos. O mesmo aconteceu com "Sleep on The Floor", que como era expectável, levou o título de momento mais bonito da noite.

The Lumineers no MEO Arena, em Lisboa.
The Lumineers no MEO Arena, em Lisboa. A banda norte-americana atuou na capital portuguesa a 3 de maio de 2025. créditos: Meiline Silva | MadreMedia

Schultz descreveu o público português como "o mais barulhento até agora". Simultaneamente, foi um público que respeitou cada silêncio, sem gritos ou frases constrangedoras. Tiveram a oportunidade de cantar lado a lado com o vocalista, que entrou plateia a dentro durante a música "Brightside".

A banda trouxe Michael Marcagi de volta ao palco para cantar um cover de "Walls", de Tom Petty, música que acompanhou a mulher de Schultz ao altar, segundo o cantor. No entanto, faltou "My Eyes", uma das melhoras músicas do álbum de 2016, "Cleopatra".

Se há palavra que define esta banda, e o concerto apresentado em Lisboa é família - desengonçada, barulhenta, mas feliz

É impossível não falar de "Big Parade", que teve mesmo Stelth Ulvang a fazer um pino em cima de um piano. Isto, momentos antes de ter decidido subir até à beira do balcão do Meo Arena, onde tocou guitarra, praticamente pendurado. Nesta música, todos são apresentados e todos cantam na sua vez. É nesta, que durante minutos faz com que tudo pareça certo no universo, que descobrimos o quão excelentes vocalistas todos os multi-instrumentistas são.

Os Lumineers apresentam um caótico, mas ao mesmo tempo organizado, frenesim, onde todos os músicos trocam de instrumentos entre si, e todos tocam tudo. E claro, unidos pela voz icónica de Wesley Schultz.

Se há palavra que define esta banda, e o concerto apresentado em Lisboa é família - desengonçada, barulhenta, mas feliz. No palco, todos se divertem ao máximo, e essa felicidade, não podia ter sido melhor transmitida para o público.

Artigo editado por Rute Sousa Vasco