Segundo a lei, as cirurgias de prioridade normal devem ser realizadas num prazo máximo de seis meses.

Os dados provisórios avançados à agência Lusa pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), a propósito do Dia Mundial da Obesidade, assinalado a 04 de março, indicam que o tempo médio de espera para cirurgia tem vindo a diminuir: 10,4 meses em 2021, 6,5 meses em 2022 e 5,5 meses em 2023.

Em 2023, foram operadas 1.965 pessoas com obesidade, menos 12 do que em 2022 e mais 391 comparativamente a 2021, no âmbito do Programa de Tratamento Cirúrgico da Obesidade (PTCO).

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), José Silva Nunes, afirmou que há uma redução do tempo de espera e não “há um aumento exponencial da procura, porque face ao tempo que as pessoas ainda têm que esperar, acabam muitas delas por recorrer ao setor privado ou social ou então vão fazer turismo de saúde”.

O médico responsável pelo Serviço de Endocrinologia do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, enfatizou que a cirurgia “é um dos pilares do tratamento”, está reservado para “uma pequena porção de pessoas que sofrem desta doença”, os casos mais graves.

Mesmo sendo “uma franja” da população global com obesidade, em termos absolutos “são muitas pessoas” e os centros de referência do Serviço Nacional de Saúde não conseguem dar resposta a todas, disse.

“Quem tem dinheiro” faz a cirurgia fora do SNS, quem tem “fracos recursos socioeconómicos, tem que esperar pela sua vez no Serviço Nacional de Saúde e a resposta não é aquela que seria desejável”, disse, observando que a prevalência da obesidade é maior nas classes desfavorecidas.

Por outro lado, o tempo de espera para uma consulta de obesidade também “é muito prolongado”, pelo menos, um ano, “muito mais daquilo que seria admissível para uma pessoa que vive com uma doença crónica”.

A presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, Paula Freitas, considerou, por seu turno, que “há alguma incompreensão em relação à obesidade” e mesmo “estigma e discriminação”.

“Muitas vezes há essa incompreensão não só pelas pessoas que têm a própria doença, mas também pelos próprios profissionais de saúde”, disse a endocrinologista, defendendo “é preciso treinar, formar, mais profissionais de saúde” nesta área.

Em Portugal, 67,6% da população tem excesso de peso ou obesidade, sendo que a prevalência da obesidade é de 28,7%, o que correspondendo a mais de dois milhões de adultos.

Estima-se que, em 2035, 39% da população adulta em Portugal seja obesa, perspetivando-se um crescimento anual da doença de 2,8% entre 2020 e 2035. Ao nível da obesidade infantil, esse crescimento anual será mais elevado (3,5%).

Para Paula Freitas, é necessário arranjar estratégias e soluções para tratar já quem tem a doença instalada.

José Silva Nunes acrescentou que estas pessoas têm que desenvolver diariamente “uma luta inglória contra aquilo que a natureza determina o seu organismo fazer, que é aumentar de peso”.

“Por isso, é que sem uma ajuda farmacológica ou cirúrgica, nos casos em que se aplica, é extremamente difícil só com medidas de alimentação, intervenção alimentar ou de exercício físico conseguir controlar esta doença”, que é crónica, recidivante, multifatorial e com caráter pandémico, realçou.