Pelas 16:15, os manifestantes, na sua maioria com mais de 60 anos, chegaram ao parlamento, em Lisboa, vindos do Largo do Rato, empunhando bandeiras da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
“A nossa razão [para estar aqui] é a situação difícil que se vive nos campos, nas aldeias do nosso país, em consequência de desastres como incêndios florestais, tempestades, ondas de calor e chuvas. A agricultura, mesmo a trabalhada em estufa, passou mal este ano”, disse à agência Lusa João Dinis, membro da direção da CNA.
Segundo o dirigente, faltam também “medidas eficazes”, imperando “más políticas agrícolas e de mercados”.
João Dinis referiu que, após a última manifestação organizada pela CNA, que decorreu em 2014, os agricultores tinham expectativa que ocorresse uma mudança suportada num “novo ciclo político”, porém, agora estão desapontados com a falta de medidas “que já deveriam estar no terreno”.
O responsável indicou ainda que, no que se refere ao Estatuto da Agricultura Familiar, que segundo o Governo entra em vigor nos próximos dias, fica “aquém” ao não incluir, por exemplo, medidas para as mulheres agricultoras.
“Ao nível do Orçamento do Estado não conseguimos escrutinar onde estão as verbas” para o Estatuto da Agricultura Familiar, acrescentou João Dinis, sublinhando a necessidade de um sistema de Segurança Social que beneficie o subsetor.
Já no que se refere à floresta nacional, o responsável indicou que está “pior do que no dia a seguir aos incêndios”, uma vez que “a madeira que não ardeu, apodreceu, [e a restante] está a ser devorada por pragas e doenças em vias de passar para o olival, árvores de fruto e áreas que ainda não arderam”.
Ao protesto juntou-se o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, em solidariedade “pelo esforço titânico” dos agricultores para “manterem as suas produções vivas num quadro difícil de abandono de terras e da produção nacional”.
Jerónimo de Sousa disse que o PCP apoia a aprovação do Estatuto da Agricultura Familiar, ressalvando que, apesar de ser “um bom princípio”, falta “concretizar em verbas do orçamento” aquilo que o mesmo proclama.
Durante as intervenções, o agricultor mais velho presente no protesto dirigiu-se aos manifestantes, demonstrando preocupação quanto à dificuldade em escoar os seus produtos.
“Tenho uma tonelada de maçãs no armazém e não tenho a quem vender. Os supermercados dizem que não têm autorização para ficar com elas”, disse António Machado de 90 anos.
O agricultor frisou ainda que, apesar de reivindicar junto ao parlamento “há décadas”, pretende continuar a protestar por “quem mais necessita”.
Posição confirmada por João Dinis da CNA, que garantiu que, caso o Governo não dê resposta às exigências, os agricultores não põem de lado a possibilidade de avançarem com novas formas de luta.
“Temos sempre aberta a via do diálogo e do protesto”, concluiu.
Agricultores vão ser recebidos pelo Governo
A CNA vai ser recebida pelo primeiro-ministro e pela comissão parlamentar de Agricultura e Mar no âmbito da discussão na especialidade do Orçamento do Estado (OE) para 2019, disse à Lusa a direção.
“O presidente da Comissão de Agricultura e Mar [Joaquim Barreto] disse que nos iam receber e o gabinete do primeiro-ministro [António Costa] também. Esta é já uma consequência do nosso protesto”, disse João Dinis à Lusa, durante a concentração dos agricultores em frente à Assembleia da República.
Apesar de não terem ficado agendadas, os agricultores estão confiantes de que as reuniões vão realizar-se nas próximas semanas.
“Se não se concretizarem vão ter que nos aturar. Isto não é uma birra. Não fazem nenhum favor em receber-nos em audiência e nós também não fazemos nenhum favor em vir cá”, sublinhou.
Para o dirigente, é uma “necessidade nacional” o diálogo com os governantes sobre “aquilo que de facto se está a passar [na agricultura] e o que de facto é necessário fazer [no âmbito do OE]” para que o mundo rural deixe de estar fragilizado.
[Notícia atualizada Às 20h15 - Acrescenta informação sobre o facto de a CNA ser recebida pela Governo]
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