O relatório final do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), a que a agência Lusa teve hoje acesso, determinou ainda como fator contributivo para o desastre “a falta de formação adequada do piloto, dentro do contexto da emergência real de falha de motor crítico, imediatamente após a descolagem”.
O documento refere, contudo, que as causas da falha do motor esquerdo (motor crítico) do bimotor (modelo Piper PA-31T Cheyenne II) “não puderam ser determinadas devido aos danos do impacto e ao fogo intenso”.
O relatório toxicológico do piloto “revelou a presença de etanol (álcool)” de 0,38 gramas de álcool por litro de sangue.
O GPIAAF ressalva, porém, que “o número de variáveis desconhecidas na produção de etanol no 'post-mortem' (após a morte) torna difícil estabelecer inequivocamente uma relação com o valor da concentração de álcool no momento da morte”.
“Vários autores com estudos detalhados em investigação toxicológica forense são unânimes em afirmar que o teor de álcool quantificado no exame toxicológico do cadáver, através da análise ao sangue, não representa uma certeza quanto ao valor toxicológico real, podendo haver resultados positivos quando não houve álcool ingerido”, sublinha o relatório.
No final da manhã de 17 de abril do ano passado, o Piper descolou do Aeródromo Municipal de Tires, concelho de Cascais (distrito de Lisboa), com destino a Marselha, França, mas acabou por cair a 700 metros do final da pista de descolagem.
O bimotor, da Symbios Orthopedic, empresa especializada em implantes ortopédicos, despenhou-se no parque de descargas de um supermercado LIDL, numa densa área habitacional, com o piloto de nacionalidade francesa com passaporte suíço e três passageiros de nacionalidade francesa: um casal e uma mulher.
O acidente provocou a morte do piloto, Jean Plé, de 69 anos e diretor da Symbios Orthopedic, de Jean-Pierre Franceschi, conhecido cirurgião ortopédico ligado ao mundo do desporto, da sua mulher e de uma amiga de ambos.
A quinta vítima mortal foi um camionista português, com cerca de 40 anos e que, aquando da queda da aeronave, se encontrava a descarregar produtos no parque de mercadorias do LIDL, na freguesia de São Domingos de Rana (vila de Tires).
As autópsias realizadas pelo Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses - Delegação do Sul indicaram "múltiplos ferimentos de força violenta" como causa das mortes.
O GPIAAF explica que numa aeronave de dois motores, quando um motor falha, o momento de guinada deve ser contrariado pela ação do piloto nos comandos, acrescentando que, após uma falha do motor na descolagem, é “necessária uma intervenção rápida e precisa” do piloto.
Na sequência deste acidente, o GPIAAF recomendou à Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) que avalie a possibilidade de desenvolver um programa de formação específico para aviões complexos monopiloto de alta performance, para os quais não existe um simulador de voo adequado, devendo ainda reforçar o conteúdo programático de treino com exercícios de manobras de controlo na descolagem.
Esta recomendação resulta da constatação feita na investigação de que para aquele tipo de avião o programa de formação dos pilotos não é adequado para lhes dar a destreza suficiente para reagirem de forma imediata e correta à falha do motor esquerdo no momento da descolagem, que é crítica naquele tipo de aeronave.
Além das cinco vítimas mortais, registaram-se quatro feridos ligeiros, por inalação de fumo, dois assistidos no local e os outros dois transportados para o Hospital de Cascais.
Estiveram envolvidos nas operações de socorro 93 operacionais apoiados por 33 viaturas.
Organismos independentes da Suíça, França, Estados Unidos da América e Canadá participaram na comissão de investigação ao acidente aéreo. O GPIAAF contou também com o contributo dos fabricantes da aeronave, dos motores e das hélices.
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