Na tentativa de resgatar votos do eleitorado seduzido por Geert Wilders, de extrema-direita, Mark Rutte, foi extremando as suas ideias ao longo da campanha. As decisões que tem vindo a tomar e as coisas que disse nos meses que antecederam estas eleições parlamentares são disso prova: em novembro proibiu o uso do véu islâmico que cubra a cara toda em espaços públicos; e escreveu uma carta aberta, em janeiro, onde deixou um recado àqueles que "assediam gays, assobiam às mulheres ou chamam racistas aos holandeses comuns" para "se portarem bem ou irem embora" do país.

Os últimos dias ficaram marcados por uma crise diplomática com a Turquia onde a posição forte que tomou - ao impedir a realização de comícios pró-Erdogan - jogou a seu favor.

Hoje, nas urnas, os holandeses reconheceram-lhe o esforço e, esta quarta-feira, 15 de março, escolheram-no novamente para liderar o governo dos Países Baixos.

Mas, quem é Mark Rutte?

É o primeiro-ministro dos Países Baixos desde 2010. Mark Rutte, 50 anos, líder do partido de centro-direita VVD (Volkspartij voor Vrijheid en Democracie, ou Partido Popular para a Liberdade e Democracia) e procurou esta quarta-feira um terceiro mandato como líder do governo holandês. E as sondagens garantem-lhe a vitória nas eleições, sendo que terá de se coligar para governar. 

Nasceu em Haia, no dia de São Valentim de 1967. Na escola secundária, também em Haia, tinha sonhos grandes, como diz a publicação para jovens holandesa ‘Seven Days’ (página em holandês). Rutte queria ser pianista de concerto e tentou o conservatório. As coisas, porém, não lhe correram como esperado e acabou por mudar de carreira. Entre 1984 e 1992, rumou, então, ao centro do país para estudar História na Universidade de Leiden.

Com os pianos de lado, a liderança política começou ainda nos anos 1980: entre 1988 e 1991, Rutte foi o responsável nacional pela juventude partidária do VVD. Entre 1993 e 1997, foi executivo do VVD.

Depois de terminar os estudos, diz-nos o Currículo Vitae de Rutte, juntou-se à Unilever, “onde trabalhou como gestor de recursos humanos e foi responsável pelo treino da equipa”, pode ler-se.

Cinco anos depois, começou a trabalhar para a maionese. Literalmente: tornou-se gestor de pessoal na Van den Bergh Nederland, ou Calvé, parte da multinacional Unilever, tendo trabalhado numa reorganização. Já no novo milénio, Mark Rutte passou, em 2002, para uma outra subsidiária da Unilever: desta vez foi tempo de rumar ao mundo dos congelados na IGLO Mora Group BV.

A 22 de julho de 2002, Rutte passa a ser secretário de Estado dos Assuntos Sociais e Emprego, no primeiro governo de Jan Peter Balkenende. Assim continua até ao verão de 2004, quando, no segundo governo de Balkenende passa a ser secretário de Estado para a Educação, Cultura e Ciência, até 7 de julho de 2006.

Entre os governos de Balkenende, de 30 de janeiro de 2003 a 27 de maio do mesmo ano, foi deputado à Câmara de Representantes pelo VVD. Em março de 2006, liderou a campanha do partido para as eleições municipais nos Países Baixos. Desde 29 de junho desse ano e até outubro de 2010, Rutte liderou o grupo parlamentar do VVD.

À vida política juntou a académica. Desde setembro de 2008, Mark Rutte é professor convidado das escolas do grupo Johan de Witt, em Haia, onde dá aulas de estudos Holandeses e Sociais.

E porque a vida não é só política e o líder do centro-direita dos Países Baixos tem dado nas vistas como um dos chefes de estado melhor vestido do mundo. A revista americana Vanity Fair colocava-o, em 2013, no terceiro lugar de uma lista de dez líderes mundiais. Mais ainda: comparava-o ao ator irlandês Pierce Brosnan, que deu cara a 007 nos anos 1990.

Em 2010, com o país mergulhado em políticas de austeridade, Rutte é encarregado pela rainha Beatriz de formar o governo da Holanda. Obrigado pelas circunstâncias a coligar-se, Rutte junta-se, ao fim de semanas de negociações, ao partido democrata cristão, conseguindo deixar Geert Wilders fora do governo, mas contando com o apoio do partido de Wilders.

A 14 de outubro de 2010, Mark Rutte é, então, eleito para o primeiro mandato como o primeiro-ministro, em coligação com o ex-eurodeputado (1989-1994) Maxime Verhagen, à data líder do partido democrata cristão, e que entretanto se reformou da vida política.

Porém, durante a campanha eleitoral de há sete anos, Mark Rutte não punha de lado a hipótese de se juntar a Wilders: “Não descartamos nenhum partido. Ao mesmo tempo, há diferenças profundas entre o meu partido, o Partido Trabalhista e o Partido da Liberdade [de Wilders]”, dizia, citado pela ‘Euronews’.

Apesar do apoio inicial do Partido da Liberdade, rapidamente as diferenças fizeram com que Wilders deixasse cair a coligação de governo. Em 2012, o governo cai e os holandeses vão às urnas escolher um novo parlamento.

Mais uma vez sem a maioria, o segundo mandato de Rutte para primeiro-ministro começa a 5 de novembro de 2012, numa coligação com Lodewijk Asscher, do partido trabalhista holandês, e terminou hoje, numas eleições muito disputadas.

Agora, assumiu-se como a única alternativa credível a Geert Wilders. Europeísta, não quer ver os Países Baixos fora da União Europeia e já prometeu não se juntar ao Partido da Liberdade. 

“A escolha é simples: é entre o caos e a continuidade”, disse Rutte, identificando o caos com o partido de Wilders, que se propõe tirar o país da União Europeia, fechar as fronteiras à imigração muçulmana, encerrar as mesquitas e banir o Corão.

Mais recentemente, depois de impedir comícios com ministros turcos nos Países Baixos, o governo de Rutte tornou-se o alvo das críticas de Tayyip Erdogan, o presidente da Turquia, levando Ancara a suspender as relações com Amesterdão.

Wilders acusa Rutte de não ter reagido com mais força ao conflito diplomático com Erdogan. “Temos de expulsar o embaixador turco e o resto da sua equipa do país, caso contrário, estamos a aceitar ser insultados”, disse Geert Wilders durante o último debate, citado pela Bloomberg.

“Essa é a diferença entre enviar tweets do sofá e governar o país”, respondeu Rutte. “Se governas o país, tens de tomar decisões sensatas, e isso não é sensato”, rematou. 

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