1 de dezembro de 1948. Um homem foi encontrado deitado de costas na areia, em Somerton Beach, em Adelaide, Austrália, com a cabeça e os ombros apoiados no paredão. Tinha cerca de 1,80m, idade entre os 40 e 50 anos, estava elegantemente vestido e calcava sapatos recém-engraxados.

Na manhã desse dia, duas pessoas que corriam pela praia tropeçaram no corpo — mas várias outras descreveram ter visto alguém com uma descrição semelhante na noite anterior, também ali deitado. Nessa altura, disseram, viram um braço mexer, pelo que não houve necessidade de chamar a polícia.

“Ele estava deitado num lugar bastante público, não era o tipo de lugar que um homem provavelmente escolheria se quisesse ir para um sítio morrer em silêncio", disse a testemunha Olive Neill, de acordo com as notas datilografadas e amareladas do inquérito de 1949.

Contudo, estava iniciado o mistério. Quem era o homem? Não havia documentos, sinais de violência e a autópsia não ajudou a desvendar aquela morte — mas três testemunhas médicas disseram que esta não era natural.

Os detetives colocaram em hipótese o consumo de um veneno tão raro que poderia matar rapidamente e desaparecer sem deixar vestígios, já que nenhuma substância foi encontrada no seu organismo.

O ano passado, investigadores australianos quiseram recuperar a investigação e trazer respostas quanto ao caso do homem, conhecido por Senhor S ou Senhor Somerton, devido ao local em que foi encontrado o cadáver.

A exumação do corpo aconteceu no mês de maio de 2021, no cemitério West Terrace, onde o Senhor Somerton foi enterrado em 1949, junto a uma lápide onde se lê "o homem desconhecido".

Agora, Derek Abbott, professor da Universidade de Adelaide, diz ter desvendado finalmente o mistério: o corpo encontrado é o de Carl "Charles" Webb, um engenheiro elétrico e fabricante de instrumentos nascido em Melbourne, em 1905, conta a CNN.

Todavia, as autoridades não confirmaram ainda os resultados oficiais da investigação quanto à identidade do Senhor Somerton.

Abbott afirma que foram fios de cabelo do homem, presos numa máscara de gesso feita pela polícia no final dos anos 40, que lhe forneceram a prova da identidade.

A polícia deu fios de cabelo ao professor há uma década, enquanto este continuava o que se tinha tornado uma busca pessoal para resolver o mistério do homem de Somerton. O cabelo foi examinado durante anos por uma equipa de peritos em ADN na Universidade de Adelaide.

Mas o mistério total pode estar longe de acabar. Enquanto esta descoberta parece encerrar o ficheiro sobre a identidade do homem, a aparente confirmação do nome Webb levanta muitas mais questões sobre quem realmente era — e sobre como morreu.

Se verificada a identidade, também cria mais questões sobre as estranhas pistas em torno do caso, incluindo as palavras finais de um poema persa encontrado no seu bolso e o que parecia ser um código de guerra rabiscado num livro, que durante muitos anos suscitou a especulação de que o homem encontrado morto era um espião.