Dia seis de julho de 2021. O jornalista holandês Peter R. De Vries tinha acabado de abandonar o estúdio televisivo da emissora RTL, onde tinha estado como convidado a comentar o caso de Seif Ahmed, um cabeleireiro que foi fatalmente alvejado no seu carro em 2019, nos Países Baixos, quando foi baleado na cabeça.
Quem é Peter R. De Vries?
Peter Rudolf de Vries nasceu no dia 14 de novembro de 1956 em Aalsmeer, um pequena cidade a menos de 30 quilómetros de Amesterdão. Hoje, com 64 anos, é um jornalista conhecido nos Países Baixos devido às suas investigações sobre crimes e questões de crime organizado, tendo já atuado como informador em casos mediáticos no país, como o caso Marengo, que envolveu assassínios e tráfico de droga.
De Vries começou a ganhar notoriedade em 1983, quando trabalhava no “De Telegraaf”, onde escreveu sobre o rapto de Freddy Heineken, o presidente do conselho de administração da famosa cervejaria Heineken. A história serviu mais tarde de mote para a escrita do livro “O Rapto de Alfred Heineken”, sob a perspetiva e mente de Cor Van Hout, um dos raptores, tendo a obra baseado-se em entrevistas com Van Hout e Willem Holleeder, o outro raptor.
O livro tornou-se um bestseller nos Países Baixos e foi adaptado ao cinema em 2015 com o filme “Kidnapping Freddy Heineken”, que teve como protagonista o ator Anthony Hopkins.
Mais tarde, o jornalista holandês chegou a ter o seu próprio programa televisivo, o “Peter R. de Vries: Crime Reporter”, que esteve no ar durante 17 anos, entre 1995 e 2012, onde cobriu vários casos de investigação criminal, dos quais ficou especialmente reconhecido o episódio dedicado ao desaparecimento da adolescente norte-americana Natalee Holloway, enquanto estava de férias em Aruba, ilha holandesa nas Caraíbas, em 2005, que lhe valeu um Emmy.
Em 2005 chegou a fundar um partido político, chamado "Partido para a Justiça, Ação e Progresso", que não teve longa vida e que acabou dissolvido sem sequer conquistar representação parlamentar.
Entre investigações sobre o assassínio do presidente norte-americano John F. Kennedy, tráfico sexual e as já acima mencionadas, De Vries somou inimigos e ameaças de morte. As primeiras surgiram da parte de Holleeder, aquando da investigação do rapto de Freddy Heineken, mas aquelas que o colocaram sob proteção policial chegaram em 2019, quando se soube que estava na lista negra do traficante de droga e líder da máfia holandesa Ridouan Taghi.
Quem disparou sobre De Vries (e porquê)?
Na sequência deste caso já foram detidas três pessoas. O pouco que se sabe é que dois dos suspeitos foram intercetados num carro em fuga na autoestrada e que ambos são polacos. Um terceiro homem, de 18 anos, foi libertado depois de ter deixado de ser considerado suspeito.
Na noite em que foram disparados cinco tiros sobre Peter R. De Vries, a polícia holandesa indicou estar à procura de um homem caucasiano e de constituição magra, vestindo um casaco de camuflagem verde-escuro e um boné preto, que será o presumível autor do tiroteio.
Nada se sabe sobre as motivações que podem ter levado a esta tentativa de homicídio.
Qual é o atual estado de saúde do jornalista?
De Vries esteve hospitalizado, em estado grave, e acabou por falecer a 15 de julho de 2021*
Os Países Baixos são uma nação segura para a prática de jornalismo?
Nos últimos rankings de liberdade de imprensa da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), os Países Baixos ficaram em sexto lugar entre 180 países, atrás de Noruega, Finlândia, Suécia, Dinamarca e Costa Rica.
Já no "2021 Global Peace Index", o ranking de segurança dos vários países a nível mundial e onde Portugal surge em quarto lugar, os Países Baixos ocupam a 21.ª posição.
O Rei Willem-Alexander prestou-lhe homenagem esta quarta-feira e classificou o atentado como um "ataque à democracia" que o deixou em profundo estado de choque."Isto é um ataque ao jornalismo, um pilar do Estado de Direito", afirmou o monarca aos repórteres.
Mark Rutte, primeiro-ministro dos Países Baixos, considerou o atentado "chocante e incompreensível". "Foi um ataque a um jornalista corajoso e também um ataque à liberdade de imprensa tão crucial para a nossa democracia", referiu, afirmando que reza para que De Vries sobreviva.
A presidente da câmara de Amsterdão, Femke Halsema, declarou mesmo o jornalista como "um herói nacional para todos nós", definindo-o como "raro e corajoso, incansável na busca por Justiça".
Mas o ataque também gerou também reações fora dos Países Baixos.
"Este é um crime contra o jornalismo e um ataque aos nossos valores democráticos (...) Continuaremos a defender a liberdade de imprensa incansavelmente", disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, no Twitter.
Segundo Tom Gibson, representante para a União Europeia do Comité para a Proteção dos Jornalistas, uma ONG de defesa da liberdade de imprensa com sede nos Estados Unidos, "os jornalistas na UE devem ser capazes de investigar crimes e corrupção sem temerem pela sua segurança".
*Artigo atualizado a 15 julho 2021
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