De acordo com a lista de passageiros, divulgada pela autoridade aeronáutica russa, seguiam no avião altas figuras do PMC Wagner, onde se destaca o fundador do grupo e braço direito de Prigozhin, Utkin Dmitry e Valery Chekalov, vice da empresa e responsável pelas operações “civis” do grupo PMC Wagner.

Dmitry Utkin é um ex-agente da inteligência militar russa GRU. Serviu na Chechénia e na Síria. A sua última comissão oficial conhecida foi em 2000, onde serviu como comandante da 2ª brigada Spetsnaz (forças especiais russas) na fronteira com a Estónia, antes de se retirar do serviço militar oficial. O seu nome de código era Wagner. Tudo indica que a saída de Utkin do comando da espionagem da GRU foi organizada para criar o grupo com o seu nome de guerra: Wagner, uma força militar com características específicas: não sendo uma força oficial e sem existência oficialmente conhecida, poderia efetuar operações obscuras, em qualquer parte do mundo, sem comprometer a Rússia nem quebrar convenções de guerra internacionais.

Dmitry Utkin
Grey Zone - Telegram créditos: Telegram

Segundo o grupo de investigação Bellingcat, Utkin era fascinado pelo Terceiro Reich e Wagner era o compositor favorito de Adolf Hitler. As imagens que têm surgido, nas últimas horas após o anúncio da sua possível morte, embora não confirmadas, mostram selfies de Utkin de tronco nu onde se pode ver suásticas e o símbolo das SS tatuadas no seu corpo.

A outra alta figura, que também terá morrido juntamente com Prigozhin no abate do Embraer Legacy 600, é Valery Chekalov.

Diz-se que Chekalov acompanha Prigozhin nos negócios desde muito cedo. De acordo com o Dossier Centre, um portal de investigação e documentação russo dirigido pelo oligarca Mikhail Khodorkovsky (opositor de Putin que vive no exílio depois de cumprir pena de prisão), Valery Chekalov dirigiu os negócios de fornecimento de alimentos e comida para as cantinas das escolas e do exército russo.

Posteriormente, Chekalov supervisionava todos os negócios não-militares (civis) do grupo PMC Wagner, no exterior, desde a exploração de minério, produção de petróleo à agricultura. Era também o responsável pela logística, “chefiou o JSC Neva, o fundador da Euro Polis LLC, à qual todos os projetos sírios e africanos estavam vinculados”, escreve o mesmo centro de investigação.

Os outros nomes constantes na lista de passageiros, além de Prigozhin e da tripulação (três elementos), eram Yevgeny Makaryan, Sergey Propustin, Alexander Totmin e Nikolay Matuseev. Estes nomes não constam em nenhuma lista de suspeitos internacional, daí acredita-se que tratavam-se de guarda-costas de Prigozhin.

De acordo com a BBC, o líder do grupo Wagner era sempre escoltado por seguranças, sobretudo depois da tentativa de motim contra o Kremlin em 23 de junho.

Entretanto, três desses nomes constam numa base de dados de ativistas pró-Ucrânia que os identificam como mercenários Wagner, são eles: Yevgeny Makaryan, Sergey Propustin e Alexander Totmin.

O Dossier Centre avança que Yevgeny Makaryan, com o nome de código “Makar”, foi tenente da polícia distrital russa, antes de se juntar aos mercenários em 2016. Lutou na Síria, como militar do quarto destacamento de assalto Wagner. Foi atacado por caças americanos perto de Khsham em fevereiro de 2018 e ficou ferido na coxa esquerda.

Sergey Propustin, com o nome de código "Kedr". Foi alferes na segunda guerra da Chechénia. Ingressou no grupo Wagner em março de 2015. Combateu com a companhia de Kirill Tikhonovich (indicativo de guerra "Chukcha"), uma das unidades de combate de reconhecimento e assalto do grupo Wagner. “Em 2016, Prigozhin recrutou muitos guardas pessoais deste destacamento”, escreve o Dossier Centre.

Sobre Alexander Totmin, o Dossier Centre apenas sabe o seu nome de código dentro do grupo, "Tot".

Quanto à tripulação, também se sabe muito pouco. A BBC escreve que não há informação clara sobre se a tripulação era contratada diretamente por Prigozhin. O piloto, Alexei Levshin, tinha 51 anos e sempre trabalhou na aviação, tendo portanto bastante experiência de voo.

O copiloto, Rustam Karimov, tinha 29 anos e trabalhava com esta tripulação há apenas três meses.

Por último, a assistente de bordo, Kristina Raspopova, dez anos mais velha que o copiloto, apareceu nas redes sociais com selfies dentro do Embraer 600 antes de levantar voo, dizendo que o mesmo estava "a receber reparações de última-hora", escreve a Rucriminal no Telegram.

Homenagem em frente ao Centro PMC Wagner
Centro PMC Wagner em S. Petersburgo. Grey Zone/Telegram créditos: Telegram

Sobre Yevgeny Viktorovich Prigozhin, desconhecido do grande público até à intervenção na Ucrânia, onde o seu grupo combateu junto dos russos, é conhecido como o “Chef de Putin”.

Prigozhin teve uma infância dura. Enveredou pelo mundo do crime que o levou à prisão. Quando saiu, através de um indulto, iniciou um projeto de venda ambulante de cachorros. O negócio correu bem, prosperou ao ponto de se tornar sócio numa cadeia de supermercados. Depois, expandiu para os casinos e para a restauração onde ganhou fama que chegou a Putin e ficaram próximos.

Sobre a queda do avião e a morte anunciada pelas autoridades russas destes elementos do grupo Wagner, há ainda quem suspeite da veracidade dos factos.

De acordo com o New York Times, fontes oficiais dos EUA indicaram que não conseguem, por agora, confirmar que Prigozhin, estava a bordo do avião. Avançam ainda que segundo informações da Casa Branca, o presidente norte-americano, Joe Biden, foi informado sobre o incidente. Caso se verifique, a informação da morte de Prigozhin "não seria uma surpresa" para Washington.

(notícia corrigida às 17:04: uma das versões da queda da aeronave Embraer Legacy 600 com matrícula RA-02795 é que ela foi abatida por um sistema de mísseis antiaéreos. Entretanto, estão a ser levantadas outras causas: “todas as versões do que aconteceu estão a ser consideradas, incluindo erro do piloto, problemas técnicos e influência externa”, disse uma fonte ao canal russo da BBC)