Esqueçam o voucher para um jantar (agora em takeaway) ou o biquíni ou o creme de rosto. Isso são brindes de influencers em países remediados. Nos Estados Unidos, onde como sabemos “maior é sempre melhor”, o negócio das promoções de marketing por influencers nas redes sociais tem todo o outro nível.
Um dos nomes sonantes do YouTube americano é um rapaz de singelos 21 anos que já se “celebrizou” por oferecer carros ou deixar gorjetas de 30 mil dólares em restaurantes. Chama-se MrBeast e tem cerca de 35 milhões de subscritores e mais de 300 milhões de visualizações mensais. Mas não está sozinho. Bhad Bhabie tem 15 anos, estreou-se há dois no YouTube e também é uma espécie de mãe Natal. Há prendas para quem a segue – e não são pechinchas.
Mas o que nos ajuda a perceber a história ou o negócio, é, como nos filmes policiais, seguir o dinheiro. Que foi o que fez o New York Times neste artigo em que a história de Paige Hathaway, influencer na área de fitness com mais de 4 milhões de seguidores no Instagram, é um dos exemplos apresentados.
Oferecer dinheiro tem sido a estratégia de promoção de várias agências e influencers nos dias de “lockdown”. Estrelas de talkshows, atletas, modelos ou youtubers, os exemplos são vários. Em abril, um dos “eventos” na rede de Paige Hathaway foi oferecer 5000 dólares a um qualquer seguidor.
Os 5000 dólares vieram da conta bancária da Social Stance, uma agência que promove contas de aspirantes a influencers, de empreendedores que querem ter seguidores ou até de dentistas que querem entrar no circuito das recomendações das celebridades (caso de um dos entrevistados pelo New York Times que pagou para entrar nos giveaways das Kardashian). Para se habilitarem a ganhar os 5000 euros prometidos por Paige Hathaway aos seus 4 milhões de seguidores, eles teriam de seguir as contas que a agência Social Stance designasse. Só clicar num botão, sem ser preciso fazer rigorosamente mais nada.
O que os seguidores de Paige Hathaway – e outros como ela – não sabem são os números por trás desse simples clique que vai fazer um deles ganhar 5000 dólares qual lotaria ou raspadinha.
Os clientes da Social Stance pagam cerca de 900 dólares só para entrar na lista das contas que a agência pede que se siga para ganhar o “prémio”. Pela módica quantia, as suas redes enchem-se assim de novos seguidores.
E, no fim, são todos felizes senão para sempre durante o tempo que pode durar a felicidade nas redes sociais. Há um felizardo entre 4 milhões de seguidores de uma conta a ganhar um “giveaway” de 5000 dólares, nada mau. Os aspirantes que pagam 900 dólares, podem ganhar uns 50 mil seguidores, fácil – incluindo, claro, gente que não os conhece de lado nenhum e que provavelmente não terá qualquer interação com o que fazem – mas, isso também não se vê naquele numerozinho mágico de seguidores (e por 900 dólares não dá para ser assim tão exigente). A agência, por seu lado, só precisa de ter 20 clientes para ficar com praticamente três vezes o dinheiro que investiu no “prémio” (nota: na realidade, eram 70 as contas a seguir para se poder habilitar aos 5000 dólares, 70 contas x 900 euros cada, é fazer as contas). E a influencer-âncora torna-se ainda mais querida dos seus seguidores porque dar dinheiro tem esse efeito nas pessoas (além de ser, ela prórpia, paga por isso).
Com mais ou menos ironia, os números mostram que este tipo de investimento é mais económico do que a compra de espaço publicitário – mesmo que não seja claro que tipo de relação é que efetivamente se estabelece ao seguir a conta de alguém que não se conhece. Mas, segundo números do mercado americano citados na reportagem do NYT, ganhar 100 mil seguidores custaria cerca de 10 mil dólares em anúncios de Instagram. Comprar espaço em promoções como as que aqui se relatam pode ficar por 2000 dólares com o mesmo número de seguidores.
Como explicava o fundador de uma agência de marketing ao New York Times, “é que a vida também tem sido difícil para os influencers” impedidos que estão nestas semanas de viajar, ir a ginásios ou experimentar marcas e publicar as respetivas fotos nas suas redes a troco de patrocínio. O dinheiro, esse, é intemporal e faz sempre falta.
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