Depois de um encontro de Ursula von der Leyen com o grupo do Partido Popular Europeu (a sua família política) no Paramento Europeu, em Estrasburgo, o líder da delegação do PSD à assembleia e vice-presidente do PPE disse ter ficado muito impressionado com a sua prestação e com a convicção de que a alemã pode ser uma presidente da Comissão forte e carismática, mas advertiu para os “espinhos” que ainda se lhe deparam num caminho que só agora começou a percorrer, e durante o qual terá que conquistar a confiança da assembleia.
“Eu acho sinceramente que este é um processo que está no início e penso que ela está muito consciente que nada está garantido (…) Depois do que vi hoje, acredito que ela tem todas as condições para ser aprovada, mas julgo que os diferentes grupos parlamentares vão ser bastante exigentes, acho que vai ser um processo muito, muito exigente”, afirmou, admitindo que mesmo no seio do PPE o grau de exigência é elevado.
Questionado sobre a possibilidade de a votação no Parlamento, prevista para a sessão plenária de 15 a 18 de julho, ser adiada, Paulo Rangel disse que “não excluiria essa hipótese”, mas salientou que “isto não é nada de novo” e, nas presentes circunstâncias é mais natural que ocorra, pois será apresentado à assembleia um nome estranho aos ‘spitzenkandidaten’, modelo de eleição do presidente da Comissão entre os "candidatos principais" apresentados pelas famílias políticas às eleições europeias, que era defendido vigorosamente pelo PE.
“Eu lembro que na «Comissão barroso II» – em que estava em causa a recondução de José Manuel Durão Barroso, depois de um primeiro mandato (2004-2009) - o voto de Barroso foi adiado de julho para setembro porque houve garantias que o Parlamento exigiu”, relacionadas com a apresentação de um programa detalhado sobre as prioridades políticas.
“Eu acho que este é um processo de diálogo com o Parlamento que vai ter que começar e que, no caso dela, dado que vem na sequência de dois candidatos que tinham sido indicados eleitoralmente e que foram rejeitados pelo Conselho, dado que isso aconteceu, evidentemente que ela precisa de ganhar a confiança do Parlamento”, disse.
Segundo Rangel, “é preciso ganhar a confiança do PE, que vai naturalmente usar todos os seus instrumentos para marcar claramente o seu espaço de decisão e de legitimidade democrática”, até porque a assembleia “não pode simplesmente ceder sem garantias a qualquer indicação do Conselho”.
Quanto à prestação de Ursula von der Leyen hoje em Estrasburgo - a alemã respondeu a questões de eurodeputados do PPE durante cerca de 45 minutos, em inglês, francês e alemão -, Rangel destacou “uma grande consciência de que tem que ganhar a confiança do Parlamento, uma atitude muito construtiva do ponto de vista institucional, de grande abertura” e, por outro lado, uma “boa ‘bagagem’ sobre assuntos europeus”.
Rangel considerou mesmo “muito impressionante” para “uma pessoa que foi chamada a desempenhar esta função no início da semana, estar na quarta-feira” a responder, de forma eloquente, a temas como a zona euro, União Económica e Monetária, ‘Brexit’, Shcnengen, competitividade, relação transatlântica, Índia, China, entre outros.
“Sinceramente, a impressão que fica é que será bem mais forte e carismática do que as pessoas estão à espera”, comentou, afirmando mesmo ter ficado com a sensação de que a ‘eleita’ pelo Conselho Europeu tem um “estilo de comunicação mais forte” do que o atual presidente, Jean-Claude Juncker (“muito forte nas suas convicções”) e, ainda a nível de comunicação, “mais eficaz que Angela Merkel”, no sentido de ser “mais apelativa, mais inspiradora” do que a chanceler alemã.
“A ver se tem a mesma resistência e resiliência”, acrescentou.
Por fim, quanto à eleição de hoje do socialista italiano David Sassoli como presidente do Parlamento Europeu – com o apoio do PPE, face ao acordo estabelecido pelos chefes de Estado e de Governo dos 28 no Conselho Europeu quanto à distribuição dos cargos de top da UE -, afirmou que votou “sem nenhum problema de consciência ou política”.
“Há um acordo, por um lado, mas não é só isso: a personalidade que foi apresentada dá todas as garantias de ser um presidente não só capaz, como com uma postura institucional correta, e hoje fez um discurso de um humanista. Por isso, eu julgo sinceramente que a presidência do Parlamento para estes dois anos e meio está bem entregue”, declarou.
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