Na Madeira, o Partido Trabalhista Português (PTP) ficou conhecido pela forma polémica e insólita de fazer política protagonizada por José Manuel Coelho. Ficará para a história o momento em que o antigo deputado regional se despiu no parlamento, num protesto contra a sentença que o condenou a pagar uma indemnização de 106 mil euros por difamação, ou quando há três anos levou uma bandeira do Estado Islâmico para comparar os tribunais aos jihadistas por supostamente o perseguirem como se fosse “um malfeitor”.
É ao lado do pai, em campanha pelas ruas do Funchal, que Raquel Coelho deixa todos esses episódios nas manchetes do passado e fala sobre a maior conquista do partido nos últimos anos: “a nossa grande conquista até o dia de hoje foi conseguir ajudar a concretizar uma alteração da correlação de forças nas autarquias da Madeira”.
“Até 2013 todas as autarquias eram do PSD e com a União dos Democratas em 2013 nós conseguimos esse grande feito que foi retirar a hegemonia ao PSD e que tem vindo ao longo desse tempo a perder força junto do eleitorado”, sublinha.
A batuta agora pertence a Raquel, primeiro nome do PTP da lista às eleições legislativas da Madeira do próximo domingo. José Manuel Coelho, também candidato, dedica-se à campanha, à distribuição de panfletos, cuidadosamente dobrados debaixo dos volantes de uma fila de motas estacionadas à porta da Loja de Cidadão do Funchal. "Quem anda de mota é um eleitorado mais jovem e mais esclarecido", diz.
A candidata trabalhista não tem dúvidas: “estas eleições são importantes porque pela primeira vez poderá significar o fim da hegemonia do PSD e a alteração da correlação de forças. Espero que estas eleições tenham uma mudança digna desse nome porque não basta mudarmos de protagonistas políticos, precisamos de muito mais que isso”, desabafa.
E por “muito mais do que isso”, entenda-se: “inverter os vícios do passado, o compadrio”. “Infelizmente os maiores partidos da região estão completamente capturados por interesses económicos e falo muito concretamente no Partido Social Democrata, no Partido Socialista e no próprio CDS. Vejo a Madeira num labirinto político”.
A experiência autárquica de mudança do panorama político madeirense, não teve, no entanto, em termos governativos, o resultado que o PTP queria com as autarquias em que o partido participou na alternância a se “renderem e venderem aos setores empresariais que já dominavam o PSD”. “Temos o caso particular da Câmara do Funchal, a coligação Mudança que poucos meses após termos conseguido vencer a Câmara do Funchal, os vereadores do PTP acabaram por ser excluídos da Câmara do Funchal exatamente porque queríamos tocar e acabar com algumas benesses particularmente ao grupo Sousa”.
“Temos o caso particular da Câmara do Funchal. Poucos meses após termos conseguido vencer a Câmara do Funchal, com a coligação Mudança, os vereadores do PTP acabaram por ser excluídos da Câmara exatamente porque queríamos tocar e acabar com algumas benesses particularmente ao grupo Sousa”
O Grupo Sousa é o exemplo dado por Raquel Coelho para exemplificar a falta de transparência na Região Autónoma da Madeira. “Hoje, na Madeira temos os dois principais órgãos de comunicação social, neste caso impressos, o Diário de Notícias da Madeira que é detido, em parte, pelo grupo Sousa, a apoiar a candidatura do PS e do professor Paulo Cafôfo. (...) Por sua vez, temos o Jornal da Madeira que é detido também por um grande empresário da construção civil, Avelino Farinha, da AFA, que está a apoiar a candidatura do PSD e do doutor Miguel Albuquerque”.
“Não é fácil esclarecer os eleitores da Madeira porque os principais órgão de informação estão capturados pelos grandes interesses económicos que parasitam o nosso Orçamento Regional
“Não é fácil esclarecer os eleitores da Madeira porque os principais órgão de informação estão capturados pelos grandes interesses económicos que parasitam o nosso Orçamento Regional e que querem continuar a mandar e a desmandar na nossa economia e nosso aparelho de justiça. O Partido Trabalhista Português tem tido uma tarefa hercúlea no sentido de esclarecer a população para aqueles que andam a usurpar os nosso recursos, a empobrecer o povo da Madeira e essa não é uma tarefa nada fácil”, evidencia a candidata.
Raquel Coelho diz “não acreditar nem por um segundo nas sondagens que são veiculadas pela comunicação social”. Afirma que as mesmas “são marteladas para favorecer partidos políticos em detrimento de outros”, dizendo que “prova disso é que a RTP Madeira fez com o PTP” ao ter promovido um debate televisivo com os partidos com representação parlamentar na Assembleia Legislativa da Madeira e “curiosamente” ter excluído o PTP, partido com deputados eleitos na Assembleia Legislativa, desde 2011.
Relegados para o debate dos partidos sem representação parlamentar, onde se fizeram representar, enviaram uma carta para à administração da RTP, outra para o conselho de opinião, fizeram “uma queixa” para a Comissão Nacional de Eleições e outra para a Entidade Reguladora da Comunicação. “Obtivemos apenas resposta da CNE que aconselhou a RTP a promover a igualdade entre as diferentes candidaturas, mas a administração da RTP fez tábua rasa daquelas que foram as indicações da CNE e manteve o seu critério injusto”, revela.
Em resposta, esta quinta-feira à noite o PTP, numa manifestação com cerca de oito pessoas, fez-se ouvir à porta da RTP Madeira. Com os candidatos a entrar, vaiaram Paulo Cafôfo e ficaram alguns minutos com Miguel Albuquerque, atual presidente do governo regional da Madeira.
Sobre o novo futuro político da ilha que começa na segunda-feira, dizem que vão manter a forma arrojada de fazer política. “Achamos que temos feito um trabalho essencial na defesa do bem estar e qualidade de vida dos madeirenses e portossantenses, e a nossa missão é sempre a mesma, que as pessoas vivam melhor, que as pessoas tenham melhores condições de vida aqui na região, que é efetivamente muito caro, os salários são muito baixos. Só quem vive cá é que sente as dificuldades”, sublinha.
Possíveis soluções nas outras candidaturas? “Na candidatura do Partido Socialista, a pessoa que está a fazer o programa de governo para a economia é um dos administradores do Grupo Sousa. Que isenção é que pode haver e o que se poderá esperar de diferente do PS e do professor Paulo Cafôfo quando têm elementos administradores do grupo Sousa nas suas listas ou mesmo do próprio CDS quando uma das candidatas a deputadas do CDS é casada com um administrador do grupo Sousa. É nestas pequenas coisas que nós conseguimos identificar os tentáculos económicos que tentam estar em todos os tabuleiros para salvaguardar que mesmo que exista mudanças políticas, eles continuam sempre a sugar os recursos e grandes fatias do nosso Orçamento Regional”.
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