A renovada escola, que mantém toda a traça arquitetónica original do período colonial português, renomeada entretanto como Magistério Mutu-Ya-Kevela, foi inaugurada hoje pelo Presidente angolano, João Lourenço.

Estará voltada para a formação de professores para o pré-escolar, ensino primário e primeiro ciclo do ensino secundário, informou o Governo.

A Lusa noticiou em fevereiro que o Governo angolano criou formalmente, naquele mês, a escola do segundo ciclo do Ensino Secundário Pedagógico 1108 Mutu-ya-Kevela, culminando vários anos de obras de reabilitação do histórico Liceu Salvador Correia, em Luanda.

A informação consta de um decreto executivo conjunto dos ministérios da Administração do Território e Reforma do Estado e da Educação, de 06 de fevereiro, referindo que a escola, que lecionará da 10.ª à 13.ª classe, em pleno centro de Luanda, contará com 31 salas de aulas e 62 turmas (dois turnos), num total de 2.232 alunos e um quadro docente de 267 professores, entre 352 trabalhadores.

O porta-voz da direção provincial de Educação de Luanda, Lourenço Neto, admitiu na altura que estava em cima da mesa a fusão das escolas do PUNIV Central, um instituto pré-universitário, e a Mutu-ya-Kevela, correspondente ao edifício centenário do antigo liceu ‘Salvador Correia’, ambas localizadas no distrito urbano da Ingombota, após as obras, em fase final de acabamento, que respeitaram a traça arquitetónica do edifício, construído no período colonial português.

As aulas no ensino geral em Angola arrancaram a 01 de fevereiro e prolongam-se até dezembro, não sendo certo que o regresso das aulas aconteça ainda em 2018.

No antigo Liceu Salvador Correia estudaram várias gerações de portugueses e angolanos – neste caso, nomeadamente, os ex-Presidentes da República de Angola Agostinho Neto (1975-1979) e José Eduardo dos Santos (1979-2017) -, e o seu avançado estado de degradação chegou a mobilizar uma associação de antigos alunos, que em 2006 divulgaram um projeto de reabilitação do edifício, por nove milhões de dólares.

As obras realizadas nos últimos anos e entretanto já concluídas desde 2017, conforme a Lusa constatou no local, envolveram a reabilitação integral do edifício, a total remodelação da canalização de água, rede de esgotos e instalação elétrica, a reconstrução das casas de banho, do ginásio e da área exterior ajardinada, a colocação de portas, janelas, vidros e portões e a pintura de todo o complexo.

A enorme quantidade de jovens que ficaram ligados a este liceu reflete-se no facto de existirem hoje associações de antigos alunos não só em Angola, mas também em Portugal, no Brasil e em Macau.

Em 2005 chegou a realizar-se um almoço-convívio em simultâneo nos quatro países, tendo os antigos alunos estado em contacto através de videoconferência.

As origens do ‘Salvador Correia’ remontam a 25 de abril de 1890, quando cerca de três dezenas de cidadãos se reuniram em casa de Caetano Vieira Dias e decidiram solicitar ao governo português a criação de um liceu nacional em Luanda.

A ideia era criar um estabelecimento de ensino na capital angolana que ministrasse os programas em vigor nas escolas em Portugal, o que permitiria aos alunos transitar deste liceu para as escolas portuguesas.

A criação desse liceu só veio, no entanto, a ser decidida a 19 de fevereiro de 1919, quando o Conselho de Instrução Pública aprovou por maioria uma proposta nesse sentido apresentada por António Joaquim Tavares Ferro.

Inicialmente denominado Liceu de Luanda, a escola começou por funcionar num edifício na baixa da capital angolana, assumindo em 1924 a designação de Liceu Nacional Salvador Correia de Sá e Benevides, numa homenagem ao homem que reconquistou Luanda para a coroa portuguesa em 1648 depois de a cidade ter sido ocupada pelos holandeses.

O atual edifício, situado no cimo de uma encosta que desce para o mar, começou a ser construído em novembro de 1938, tendo a inauguração ocorrido a 5 de julho de 1942.

Em 1975, ano da independência de Angola, foi rebatizado com o nome atual de Liceu Mutu-ya-Kevela, em homenagem ao soba do Bailundo que liderou uma revolta contra as autoridades portuguesas em 1902 no planalto central de Angola, mas a inscrição ‘Liceu Nacional Salvador Correia’ continua bem visível no alto da entrada principal do edifício.