Esta posição é expressa num comunicado interno a Lusa teve acesso, no qual o Conselho de Redação (CR) do Diário de Notícias (DN) alerta a administração da Global Media Group (GMG) e os seus acionistas sobre o assunto.
“Face à anunciada intenção de fazer regressar o Diário de Notícias ao modelo de jornal diário em banca a partir do próximo dia 29 de dezembro, os membros do Conselho de Redação do DN não abrangidos pelo processo de despedimento coletivo em curso entendem ser seu dever alertar” que “perante a proximidade da data mencionada, coincidindo com o 156.º aniversário do jornal, entende o CR que não estão neste momento reunidas as condições necessárias – quer ao nível de meios, quer da reestruturação da redação ou mesmo das propaladas sinergias internas no grupo — para que o Diário de Notícias se apresente em banca” a partir daquela data “com a qualidade que o mercado e a sua história exigem”.
O CR aponta que “a redação do DN foi brutalmente afetada pelo processo de despedimento coletivo em curso no Global Media Group, tendo ficado muito diminuída nos seus recursos e capacidade, numa altura em que já se debatia com o grande sangramento de recursos verificado ao longo dos últimos anos”.
Além disso, “a atual estrutura e dinâmica da redação asseguram com dificuldade uma edição digital diária de nove textos, onde se incluem já alguns do Dinheiro Vivo, além da edição semanal impressa e dos conteúdos que alimentam o ‘site’ — que foi, ao longo dos últimos tempos, o produto onde o DN registou maior crescimento e se posicionou melhor face à concorrência, apesar da enorme diferença de meios para outros títulos, pelo que não deve ser agora descurado”.
O órgão recorda ainda que no seu anterior comunicado, em que foi dado parecer positivo à diretora Rosália Amorim, tinham elogiado a vontade de tornar o DN diário nas bancas e até a intenção de aproveitar a data histórica de 29 de dezembro, mas manifestaram também a preocupação face à escassez de meios existentes, numa “redação claramente subdimensionada face aos desafios que são anunciados”.
“A escassas três semanas dessa data, a estrutura da redação é a mesma e não se conhece o plano que sustentará esse regresso às edições diárias”, alerta.
“As lacunas evidentes continuam a existir em áreas vitais para uma boa presença diária do jornal em banca, como sejam a justiça, a educação, a cultura ou mesmo anunciadas áreas de aposta reforçada, como o serão a política (atualmente apenas com dois jornalistas a tempo inteiro, numa clara desproporção face à concorrência) e o ambicionado jornalismo de proximidade focado na Área Metropolitana de Lisboa (para o qual a redação tem apenas uma jornalista direcionada, a qual se divide ainda com a política)”, prossegue o CR.
“E das sinergias que alegadamente farão parte da nova era do DN, e do grupo, pouco ou nada se sabe ainda, excetuando a que já existia com o Dinheiro Vivo”, refere o órgão, que ressalva que não se deve entender esta alerta “como uma força de resistência ou indisponibilidade da redação para abraçar os desafios que se colocam”.
“Todos queremos relançar o Diário de Notícias como um título relevante da imprensa portuguesa, mas com o sentido de responsabilidade que nos leva a emitir este alerta à administração e acionistas”, sublinha o CR.
O DN, alertam, “não pode correr o risco de dar um tiro em falso que comprometa mais o seu presente e futuro”.
Por isso, “é fundamental que um passo tão importante quanto o regresso às bancas seja dado com todas as condições que permitam ao DN corresponder às expetativas do mercado e honrar a sua história”.
Mais importante “do que ter uma edição pronta a mostrar no dia 29 de dezembro, é assegurar que as edições que se seguem têm a qualidade suficiente para justificar esse regresso diário do Diário de Notícias às bancas e para capitalizar a natural expetativa criada no mercado, caso contrário corre o risco de ser apenas mais um ato falhado, e isso não pode voltar a acontecer”.
Neste sentido, os membros eleitos do Conselho de Redação entendem “apelar à direção, à administração e aos acionistas que privilegiem a aposta num projeto bem sustentado, necessariamente com mais algum tempo de preparação e reflexão, ao compromisso com uma data que pode, nestas condições, revelar-se prejudicial à viabilidade do próprio projeto”.
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