O plano de reestruturação foi entregue no dia 27 de dezembro, tal como o presidente da TiN, Luís Delgado, tinha avançado no parlamento, em 18 de dezembro.
Fundada em 2017, a Trust in News é detentora de 16 órgãos de comunicação social, em papel e digital - Visão, Exame, Exame Informática, Courrier Internacional, Jornal de Letras, Visão História, Caras, Ativa, TV Mais, Visão Júnior, Telenovelas, Caras Decoração, Visão Saúde, Visão Biografia, Visão Surf, This is Portugal, e A Nossa Prima, e ainda um 'website' informativo Holofote -, está em insolvência e tem assembleia de credores marcada para 29 de janeiro.
Este plano de reestruturação é "parte do processo de insolvência, reafirmando o compromisso com a continuidade da empresa, a proteção dos postos de trabalho e a regularização das suas obrigações financeiras", refere a TiN, no documento.
O plano contempla a suspensão de publicações deficitárias, pelo que "para eliminar fontes de prejuízo, as publicações com margens negativas ou altos custos de produção serão suspensas ou colocadas à venda", num total de oito, onde conta a TVMais, que tem "margem negativa", tal como a Telenovelas.
Inclui ainda a Caras Decoração, que se propõe que seja "suspensa devido à baixa rentabilidade e aos elevados custos de produção", Prima, "publicação com altos custos e margens negativas", Visão Saúde, "operação deficitária, levando à sua suspensão", a Activa, que tem "altos custos e margens negativas" e fica "disponível para venda ou trespasse", a Visão Surf e This is Portugal, "publicações suspensas anualmente para revisão de viabilidade" e o Courrier Internacional, "suspenso desde o início do ano de 2024".
Prevê-se ainda o ajuste de periodicidade das publicações "para se adaptar ao mercado e reduzir custos", em que se inclui a Visão História, que "passará a ser trimestral", a Exame "manter-se-á mensal em parceria com outro grupo editorial", a Exame Informática "passará a ser bimestral", tal como a Visão Junior.
Entre outras medidas está o redimensionamento e equipas e espaço físico.
No que respeita ao número de trabalhadores, o plano inclui uma "redução proporcional ao encerramento das publicações e redução conjunta com reorganização do quadro de trabalhadores de todas as publicações que se mantêm, com acompanhamento do administrador de insolvência (AI) para assegurar o acesso dos colaboradores ao subsídio de desemprego e ao fundo laboral", lê-se no documento.
Entre as medidas está a redução de 70% das instalações.
"Para minimizar o impacto da reestruturação nos colaboradores", o plano inclui o aumento, a partir de janeiro de 2026, do valor do subsídio de refeição até ao limite máximo, a reposição do seguro de saúde e o pagamento em duodécimos do subsídio férias e Natal de 2025, com acordo do trabalhador.
"Com a implementação destas medidas, a Trust in News procura assegurar uma recuperação financeira sólida, preservar os interesses de todas as partes envolvidas e construir uma base sustentável para o futuro da empresa", refere o documento.
Além disso, "com o intuito de otimizar os recursos e modernizar a operação, a Trust in News apresenta um conjunto adicional de medidas estratégicas e estruturais que serão implementadas com caráter urgente", sendo que "estas ações visam alinhar a empresa à sua nova realidade operacional e financeira, garantindo maior eficiência e sustentabilidade".
Isto inclui redução de custos operacionais, parcerias e centralização de funções, reorganização administrativa, eficiência na impressão e produção, integração de departamentos, entre outras medidas.
No que respeita à redução de custos operacionais, a TiN prevê a "redução de licenças de software", com o "ajuste do número de licenças para refletir as necessidades reais da empresa após a reestruturação" e a diminuição de pessoal em estruturas horizontais.
O plano prevê parcerias estratégicas que incluem a "colaboração com outros grupos editoriais para produção e distribuição de publicações específicas, reduzindo custos e ampliando o alcance" e a centralização de design e fotografia. Esta última diz respeito à descontinuação do departamento de arte das femininas, com as funções transferidas para o Design Geral de Informação, com reforço de até três pessoas e a criação de um Núcleo Geral de Fotografia, com uma "redução do número de fotógrafos dedicados às publicações, centralizando a gestão".
A reorganização administrativa passa pela criação de "secretariado-geral de redação", com "uma equipa composta por duas pessoas para centralizar tarefas administrativas e apoiar as redações", a descontinuação do departamento de produção, com "integração das funções na Direção Administrativa e Financeira (DAF), com a manutenção de dois coordenadores" e prevê ainda a "redução de 20% em papel e impressão, nos termos de propostas feitas à produção".
Está também prevista a transferência de novos negócios e assinaturas, áreas que serão "incorporadas ao departamento comercial" e 'outsourcing' para gestão de tecnologias de informação, que passa pela "contratação de serviços externos para gestão de tecnologia, mantendo apenas dois profissionais internos".
Pretende também "consolidar operações em apenas um piso, preferencialmente o segundo, devido à localização da sala de servidores".
Com estas medidas, "a Trust in News reforça o compromisso de se tornar uma empresa mais ágil, eficiente e alinhada às exigências do mercado atual, enquanto garante a continuidade das suas operações e prepara-se para um futuro sustentável".
Plano da Trust in News prevê reforçar títulos rentáveis e reestruturar dívidas com credores
O plano de reestruturação da Trust in News (TiN), que detém a Visão, entre outros títulos, prevê reforçar as publicações rentáveis e reestruturar dívidas com credores, de acordo com o documento a que a Lusa teve hoje acesso.
"O plano de reestruturação da Trust in News foi delineado com objetivos claros e estratégicos, visando a recuperação sustentável da empresa e a garantia da sua viabilidade a longo prazo", lê-se no documento que foi entregue no dia 27 de dezembro.
Fundada em 2017, a Trust in News é detentora de 16 órgãos de comunicação social, em papel e digital, está em insolvência e tem assembleia de credores marcada para 29 de janeiro.
Entre as medidas, destaque para o reforço de publicações rentáveis e a reestruturação das dívidas aos credores.
"As publicações que demonstram um desempenho positivo e consistente irão receber maior atenção e investimento. Essa estratégia procura consolidar a posição da empresa em mercados rentáveis, aumentando a sua competitividade e gerando um fluxo de caixa sustentável", refere o plano.
A TiN "propõe um plano de renegociação das dívidas", sendo que "esse esforço reflete o compromisso da empresa em regularizar as suas obrigações financeiras de forma equilibrada e viável".
No que respeita ao pagamento ao Estado, o plano prevê "pagamento em 150 prestações mensais, não podendo nenhuma delas ser inferior a 10 unidades de conta (atualmente €1.020)".
As prestações "são mensais, iguais e sucessivas, vencendo-se a primeira até ao final do mês seguinte à data da sentença homologatória do plano" e a "redução dos créditos fiscais só se dará, por juros de mora vencidos e vincendos, nos termos do Decreto-Lei no 73/99 de 16 de março, aceitando-se as taxas praticadas para os créditos da Segurança Social caso se verifique, face à renúncia dos demais credores e às garantias constituídas".
Já a totalidade da dívida da Segurança Social, "vencida até à data da declaração de insolvência, será regularizada através de plano prestacional, em 150 prestações mensais, no âmbito da execução fiscal, vencendo-se a primeira prestação até ao final do mês seguinte ao da votação do plano de recuperação" e o "pagamento de juros vencidos e vincendos calculados de acordo com a taxa de juros de mora aplicáveis às dívidas ao Estado e outras entidades públicas".
As ações executivas pendentes para cobrança de dívida à Segurança Social, "no âmbito das quais será implementado o plano prestacional, não são extintas, sendo suspensas, nos termos do artigo 194.º, do Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social, na sequência da presente autorização e até integral cumprimento do plano de pagamentos autorizado", lê-se no documento.
Relativamente aos trabalhadores, "sem prejuízo dos credores recorrem ao fundo de garantia salarial e do valor pago por esse fundo poder vir a ser abatido aos créditos laborais, estes créditos serão pagos em 120 meses, vencendo-se a primeira prestação no último dia do decimo terceiro mês seguinte ao trânsito em julgado da sentença homologatória do plano ora apresentado".
O plano prevê ainda que "caso haja interesse da parte dos credores comuns e garantidos o pagamento da dívida poderá ser feito" através do "pagamento de 50% em permutas de publicidade e 'branded content'".
No documento, a TiN refere as causas da redução do volume de negócios do grupo.
"Como se poderá constatar nas contas da empresa, o volume de negócios teve um decréscimo de cerca de 30%, passando de 17,5 milhões de euros em 2019 para um valor estimado em 2023 de cerca de 11 milhões de euros", sendo que além desta diminuição "verificou-se um efeito inverso com a subida do custo dos fatores de produção, nomeadamente o custo das matérias-primas, em particular o custo da tonelada de papel".
De acordo com o grupo, "o preço médio da tonelada de papel, matéria-prima essencial para a produção de revistas teve uma subida a partir do segundo semestre de 2021 de mais de 70%, passando de 643 euros a tonelada para cerca de 1.115 euros".
Acresce a "subida verificada nos custos energéticos, nomeadamente no gás e combustíveis e os custos com a impressão nas gráficas conduziram a um desajustamento incomportável na operação da empresa. O aumento dos custos energéticos ficou por menos de 20%, e o impacto sentiu-se com os custos de distribuição".
Em Portugal, salienta, "não existem alternativas à distribuição, sendo a Vasp a única distribuidora existente".
A maior parte da dívida da empresa é ao Estado, nomeadamente à Autoridade Tributária e Aduaneira e à Segurança Social sendo estas dívidas respeitantes a valores de impostos que não foram liquidados e contribuições em atraso.
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