"O referendo está previsto para 16 de abril", declarou o vice-primeiro-ministro, Numan Kurtulmus na televisão, acrescentando que, "se Deus quiser, a Turquia entrará numa nova era na noite de 16 de abril", depois da votação.
O objetivo da reforma constitucional, votada no mês passado pelo Parlamento turco, é substituir o sistema parlamentar em vigor por um sistema presidencial. Com a mudança, o presidente terá poder para nomear e revogar os ministros, promulgar decretos e declarar estado de emergência. O posto de primeiro-ministro desaparecerá e será substituído por um ou vários vice-presidentes, se a reforma for aprovada.
O texto foi adotado no Parlamento graças a uma aliança entre o partido islamita-conservador no poder, o AKP, e o partido de direita nacionalista, o MHP. Erdogan considera que esta revisão, que pode permitir que ele continue no poder pelo menos até 2020, é necessária para garantir a estabilidade à frente da Turquia, que atravessa uma onda de atentados sem precedentes e dificuldades económicas.
Mas o texto também gera preocupação entre os opositores e as ONGs, que acusam o presidente de deriva autoritária, sobretudo desde o golpe de Estado frustrado de julho, que provocou um uma purga de opositores de grandes dimensões. "A palavra e a decisão estão agora nas mãos da nação", declarou Kurtulmus. "Espero que a campanha seja realizada de uma maneira adequada a uma democracia turca madura". Os que dizem 'sim', os que dizem 'não', todos expressarão sua opinião", acrescentou.
O AKP lançará sua campanha no dia 25 de fevereiro, segundo a imprensa local.Para o partido no governo, a presidencialização do sistema permitirá evitar a formação de coligações governamentais instáveis e tornará o governo mais eficiente, num contexto em que a Turquia enfrenta grandes desafios em matéria de segurança e economia.
Poderes que nem Ataturk possuia
Mas estes argumentos não bastam para convencer os partidos opositores, como os sociais-democratas do CHP e os pró-curdos (HDP), que consideram a reforma uma deriva autoritária do presidente turco. O líder do CHP, Kemal Kiliçdaroglu, opinou que a aprovação da reforma constitucional no referendo seria uma catástrofe que acabaria com a separação de poderes na Turquia."Vamos dar a uma pessoa poderes que o próprio Ataturk - fundador e primeiro presidente da República da Turquia - não possuía (...) Vamos retirar os poderes do Parlamento e dá-los a uma pessoa. Vamos entregar os tribunais a uma pessoa", declarou Kiliçdaroglu. "Semelhante coisa é concebível?".
A análise do texto no Parlamento provocou fortes debates e levou a confrontos no hemiciclo, onde um deputado teve o nariz partido e uma deputada com deficiência física acabou no chão. Neste contexto de polarização política, que se soma à série de atentados que atingem o país, a campanha para o referendo promete ser especialmente tensa.
Caso a reforma constitucional seja aprovada, as eleições legislativas e presidenciais serão simultâneas, e o presidente pode ser eleito por dois mandatos de cinco anos nas próximas eleições, previstas para novembro de 2019. Se ficar decidido que o número de mandatos de Erdogan, eleito em 2014 como presidente após 12 anos à frente do governo, voltará ao ponto de partida com esta reforma, algo que ainda não foi esclarecido, pode permanecer no poder até ao menos 2029.
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